Pescarias e praia todos os dias...
Se, pelas tardes se empinava arraias , pelas manhãs, pois esta é a parte mais propícia do dia para este esporte, se pescava , se perambulava pelas praias e se tomava banhos de mar , com direito a muito sol no lombo !... Era preciso fazer alguma coisa, não ? Claro, mas não era estudar, que era uma perda de tempo precioso , em prejuízo do nosso lazer...Um porre ficar em cima de livros com a cabeça longe, sem entender coisa alguma ! A pescaria era realizada por toda a orla, junto as pedras ,desde a Pedra da Sereia, Taboleiro, Campinho, Pedra dos Pássaros, Santana e Mariquita. Dava peixe em todos os lugares. Começávamos bem cedo a catar iscas, aquelas baratinhas pretas que vivem sobre e nas pedras da praia. A dificuldade maior para pegá-las e consistia no fato de que são bem rápidas e que se escondem nas frestas das rochas. Quando tinha areia à mão, a coisa ficava mais fácil. Jogávamos um punhado de areia molhada sobre elas, que ficavam presas e era só catá-las, amassar-lhes as cabeças e pronto! Era só colocar numa latinha ou num saquinho pendurado na cintura. Outro tipo de isca, já mais difícil, eram os carangueijinhos, os guaiás. Mas se usava qualquer tipo de isca. Sardinha, petitinga, xixaro e até carne vermelha. Existe um tipo de peixe, ou existia , nas nossas costas, muito escorregadio que é vidrado em carne. A mangarueira. Esverdeado, com carne saborosa que se encontrava em quantidade junto as pedras de todo o Rio Vermelho . Alcançava um tamanho razoável e até brigava bastante quando era fisgado. Tinha peixe de todos os tipos. Bodiões, barbeiros, dentões, garoupas, cavalinhas, xaréus, guaricemas agulhões, e uma diversidade enorme de qualidades. Praticava-se a pesca com linhas de espera, varas ou ainda tarrafas. Éramos visitados constantemente por imensos cardumes de petitingas e xixarros, com sardinhas no meio... Toda a costa era piscosa. Os xixarros encostavam nas pedras nos meses de dezembro a fevereiro e davam até mesmo nas praias, sendo possível, às vezes, pegá-los à mão , quando os cardumes eram abundantes e os peixes grandes corriam atrás.... Hoje, sumiram ! Ponto certo, mas certíssimo , era na Mariquita, para os xixarros , por onde hoje passa o emissário submarino. Apareciam tantos pescadores que o local parecia um paliteiro,de tantas varas e, invariavelmente, surgiam brigas porque as linhas se embaraçavam dentro d’água com os movimentos dos peixinhos... O problema , ficava então, sendo saber de quem era o peixe...Um lugarzinho sobre as pedras era bastante disputado.
Havia muita facilidade. Era só esperar a hora em que o peixe começava a comer . Os peixes sumiram da costa. Começaram a desaparecer, quando iniciaram a pesca com bombas que destruíram os viveiros mais próximos. Mas era gostosa, a pesca do xixarro! Munidos de uma vara que chamávamos de flexa, uma linha com um anzol pequeno , chamado “ unha de gato “ , fazíamos a festa. Com o passar dos tempos não dava mais para pescar das pedras porque era tanta gente que ficou melhor evitar brigas e confusões. Muitas linhas dentro d’água. Um xixarro fisgado fazia uma confusão dos diabo, embaralhando as linhas de diversos pescadores e provocando as confusões sobre as pedras. Eles tinham uma particularidade: começavam a comer ávidamente e depois de algum tempo paravam. Era preciso aguardar um “ novo ataque “. Mas a pesca passou a ser impraticável porque sumiram ou mudaram de ponto, depois da instalação do emissário . É raro que hoje apareça e quando isto acontece, ela vem em pequena quantidade. Teve uma tarde que presenciei uma pescaria milagrosa. Um pescador chamado Renato, que morava lá para as bandas da Pedra da Sereia deu com um cardume de bodiões e foi um tal de tirar peixe de dentro d’água que não acabava mais. Me lembro como se fosse hoje. Não dava tempo de colocar o anzol no mar com a isca e pronto, já tirava outro. Uma pescaria verdadeiramente impressionante, mas, coisa como esta, não acontece todos os dias. É uma raridade. Naquela tarde o Renato pescou quantos bodiões quis... Eu, sentado numa pedra, apreciava . De outra feita, um outro pescador, com linha de fundo ou de espera, fisgou um peixe enorme. Levou horas trabalhando para trazê-lo e, assim mesmo, sempre emendando linhas de outros pescadores que estavam por perto e acompanhavam a briga do homem contra o peixe . Cada vez mais, era preciso soltar linha até que, cansado , esgotado, se entregou. De vez em quando, apareceu lá longe dando saltos e brilhando sob o sol da tarde . Eu nunca tinha visto um peixe tão grande na minha vida ! Tinha cerca de um metro de comprimento e, certamente, foi parar em diversas panelas. Havia peixe para todo mundo , mas as bombas terminaram com os viveiros perto da costa. Daí para cá, não se encontra mais nada . Curiosamente, até os xaréus desapareceram. “A puxada de rede “ , coisa nossa característica, que até inspirava artistas plásticos, desapareceu . Não se puxa mais a rede e ninguém mais sabe onde os xaréus foram parar... A canoa, com a rede e os pescadores, não sai mais para o mar...o povo não se junta mais na praia para ajudar a puxar a rede e ganhar o seu peixinho...
Alguns pescadores, conseguem alguma coisa, praticando a pesca submarina, mas nem sempre têm muita sorte. Numa noite, ah, sim, esta é boa. Fui pescar no capim das Freiras, em frente a Pedra dos Pássaros, com o meu compadre . Era uma noite de lua e ele queria pescar. Estávamos munidos de tudo, mas precisávamos de sorte, sempre é preciso de um pouco de sorte. O meu amigo jogou a sua linha e, de repente, sentiu um puxão e aí a coisa começou. Tinha um peixe na linha. deu trabalho puxá-lo, mas conseguiu . Um belo dentão de uns dois quilos mas, numa outra noite aconteceu praticamente o mesmo. porém , quando colocamos o peixe sobre as pedras, a surpresa: era um caramuru...demos uma bela corrida assustados com o bicho , que tem uma dentada muito violenta, mas depois conseguimos tirá-lo do anzol. É um peixe difícil de tirar da linha. Além de morder firme, é muito escorregadio , mas conseguimos. Outra ocorrência interessante e que não dá para esquecer, aconteceu na casa do meu avô. Havia voltado da praia e larguei o material no chão para ir beber água. Quando voltei, verifiquei que havia pescado um gato. É que, no anzol, havia um pedaço de carne, que o gato engolira. Não havia como tirar o anzol que já devia estar no seu estômago. Corri para a cozinha, apanhei uma faca e cortei a linha. O gato saiu correndo como se estivesse fugindo do diabo... Só sei de uma coisa: nunca havia visto aquele gato por lá. Que existe peixe-gato, existe, mas aquele era diferente !...
Se, pelas tardes se empinava arraias , pelas manhãs, pois esta é a parte mais propícia do dia para este esporte, se pescava , se perambulava pelas praias e se tomava banhos de mar , com direito a muito sol no lombo !... Era preciso fazer alguma coisa, não ? Claro, mas não era estudar, que era uma perda de tempo precioso , em prejuízo do nosso lazer...Um porre ficar em cima de livros com a cabeça longe, sem entender coisa alguma ! A pescaria era realizada por toda a orla, junto as pedras ,desde a Pedra da Sereia, Taboleiro, Campinho, Pedra dos Pássaros, Santana e Mariquita. Dava peixe em todos os lugares. Começávamos bem cedo a catar iscas, aquelas baratinhas pretas que vivem sobre e nas pedras da praia. A dificuldade maior para pegá-las e consistia no fato de que são bem rápidas e que se escondem nas frestas das rochas. Quando tinha areia à mão, a coisa ficava mais fácil. Jogávamos um punhado de areia molhada sobre elas, que ficavam presas e era só catá-las, amassar-lhes as cabeças e pronto! Era só colocar numa latinha ou num saquinho pendurado na cintura. Outro tipo de isca, já mais difícil, eram os carangueijinhos, os guaiás. Mas se usava qualquer tipo de isca. Sardinha, petitinga, xixaro e até carne vermelha. Existe um tipo de peixe, ou existia , nas nossas costas, muito escorregadio que é vidrado em carne. A mangarueira. Esverdeado, com carne saborosa que se encontrava em quantidade junto as pedras de todo o Rio Vermelho . Alcançava um tamanho razoável e até brigava bastante quando era fisgado. Tinha peixe de todos os tipos. Bodiões, barbeiros, dentões, garoupas, cavalinhas, xaréus, guaricemas agulhões, e uma diversidade enorme de qualidades. Praticava-se a pesca com linhas de espera, varas ou ainda tarrafas. Éramos visitados constantemente por imensos cardumes de petitingas e xixarros, com sardinhas no meio... Toda a costa era piscosa. Os xixarros encostavam nas pedras nos meses de dezembro a fevereiro e davam até mesmo nas praias, sendo possível, às vezes, pegá-los à mão , quando os cardumes eram abundantes e os peixes grandes corriam atrás.... Hoje, sumiram ! Ponto certo, mas certíssimo , era na Mariquita, para os xixarros , por onde hoje passa o emissário submarino. Apareciam tantos pescadores que o local parecia um paliteiro,de tantas varas e, invariavelmente, surgiam brigas porque as linhas se embaraçavam dentro d’água com os movimentos dos peixinhos... O problema , ficava então, sendo saber de quem era o peixe...Um lugarzinho sobre as pedras era bastante disputado.
Havia muita facilidade. Era só esperar a hora em que o peixe começava a comer . Os peixes sumiram da costa. Começaram a desaparecer, quando iniciaram a pesca com bombas que destruíram os viveiros mais próximos. Mas era gostosa, a pesca do xixarro! Munidos de uma vara que chamávamos de flexa, uma linha com um anzol pequeno , chamado “ unha de gato “ , fazíamos a festa. Com o passar dos tempos não dava mais para pescar das pedras porque era tanta gente que ficou melhor evitar brigas e confusões. Muitas linhas dentro d’água. Um xixarro fisgado fazia uma confusão dos diabo, embaralhando as linhas de diversos pescadores e provocando as confusões sobre as pedras. Eles tinham uma particularidade: começavam a comer ávidamente e depois de algum tempo paravam. Era preciso aguardar um “ novo ataque “. Mas a pesca passou a ser impraticável porque sumiram ou mudaram de ponto, depois da instalação do emissário . É raro que hoje apareça e quando isto acontece, ela vem em pequena quantidade. Teve uma tarde que presenciei uma pescaria milagrosa. Um pescador chamado Renato, que morava lá para as bandas da Pedra da Sereia deu com um cardume de bodiões e foi um tal de tirar peixe de dentro d’água que não acabava mais. Me lembro como se fosse hoje. Não dava tempo de colocar o anzol no mar com a isca e pronto, já tirava outro. Uma pescaria verdadeiramente impressionante, mas, coisa como esta, não acontece todos os dias. É uma raridade. Naquela tarde o Renato pescou quantos bodiões quis... Eu, sentado numa pedra, apreciava . De outra feita, um outro pescador, com linha de fundo ou de espera, fisgou um peixe enorme. Levou horas trabalhando para trazê-lo e, assim mesmo, sempre emendando linhas de outros pescadores que estavam por perto e acompanhavam a briga do homem contra o peixe . Cada vez mais, era preciso soltar linha até que, cansado , esgotado, se entregou. De vez em quando, apareceu lá longe dando saltos e brilhando sob o sol da tarde . Eu nunca tinha visto um peixe tão grande na minha vida ! Tinha cerca de um metro de comprimento e, certamente, foi parar em diversas panelas. Havia peixe para todo mundo , mas as bombas terminaram com os viveiros perto da costa. Daí para cá, não se encontra mais nada . Curiosamente, até os xaréus desapareceram. “A puxada de rede “ , coisa nossa característica, que até inspirava artistas plásticos, desapareceu . Não se puxa mais a rede e ninguém mais sabe onde os xaréus foram parar... A canoa, com a rede e os pescadores, não sai mais para o mar...o povo não se junta mais na praia para ajudar a puxar a rede e ganhar o seu peixinho...
Alguns pescadores, conseguem alguma coisa, praticando a pesca submarina, mas nem sempre têm muita sorte. Numa noite, ah, sim, esta é boa. Fui pescar no capim das Freiras, em frente a Pedra dos Pássaros, com o meu compadre . Era uma noite de lua e ele queria pescar. Estávamos munidos de tudo, mas precisávamos de sorte, sempre é preciso de um pouco de sorte. O meu amigo jogou a sua linha e, de repente, sentiu um puxão e aí a coisa começou. Tinha um peixe na linha. deu trabalho puxá-lo, mas conseguiu . Um belo dentão de uns dois quilos mas, numa outra noite aconteceu praticamente o mesmo. porém , quando colocamos o peixe sobre as pedras, a surpresa: era um caramuru...demos uma bela corrida assustados com o bicho , que tem uma dentada muito violenta, mas depois conseguimos tirá-lo do anzol. É um peixe difícil de tirar da linha. Além de morder firme, é muito escorregadio , mas conseguimos. Outra ocorrência interessante e que não dá para esquecer, aconteceu na casa do meu avô. Havia voltado da praia e larguei o material no chão para ir beber água. Quando voltei, verifiquei que havia pescado um gato. É que, no anzol, havia um pedaço de carne, que o gato engolira. Não havia como tirar o anzol que já devia estar no seu estômago. Corri para a cozinha, apanhei uma faca e cortei a linha. O gato saiu correndo como se estivesse fugindo do diabo... Só sei de uma coisa: nunca havia visto aquele gato por lá. Que existe peixe-gato, existe, mas aquele era diferente !...
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Foto de Sarnelli - pedras da praia de Santana
Sarnelli 29.12.2008
Sarnelli 29.12.2008
4 comentários:
Uma aula de história - mas aliada à humor e ao lado pitoresco da vida cotidiana!
Mocinho, sinto orgulho de ler o que escreves!
Bia
Paulo da Bahia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Pescarias pelas praias do Rio Vermelho":
Como a net é um mundo muito vasto e profundo, demorei quatro anos para conteplar este maravilhoso blog, em que de certa forma retrata toda a minha amada e gostosa infância e adolecência.Só mesmo quem nasceu e cresceu na boa "vadiagem" do bairro do Rio Vermelho pra descrever o quanto foi (e no meu caso ainda é ) maravilhoso. Agradeço a Deus e às àguas por fazer parte dessa maravilha!
11 de novembro de 2011 16:13
Mim senti perto de casa, criança ou adolescente não sei bem, ao ler o seu texto, o certo é que lembranças antigas vieram à tona, eu e o meu amigo índio, saindo da Boca do Rio para Itapuã, perdemos a conta de quantas vezes fizemos isso, íamos, entravamos no mar, maré baixa, chegávamos longe, pescávamos, Mangarueira era o “carro chefe”, mas tinha de tudo um pouco, riamos muito, era maravilhoso, a volta ara uma aventura, com a maré cheia as pedras encobertas ficava sombrio, medo, muito medo, mais tínhamos que sair dali, então nadávamos, e nadávamos e riamos com os sustos, em fim terra firme, hora da caminhada até o ponto de ônibus, quase sempre era hora da puxada de rede, lembro-me bem da cabana onde ficavam os pescadores, ajudávamos vez ou outra a puxada, era lindo, peixes saltando, tentando se livrar, às vezes éramos agraciados, o que menos importava eram os peixes, valia a alegria, a parceria, o prazer da aventura. Tempos bons, incríveis, saudades. E o meu amigo índio e os seus irmãos, Rui, Roberto, mais de 20 anos se passaram e igual tempo faz que nos os vejo, desejo toda sorte do mundo.
Forte Abraço
Heliano (Boca do Rio)
Já peguei muito mangarueira em Itapuã e no Rio Vermelho. Tem uns 7 anos do último exemplar que peguei.
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