quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma viagem de ida e volta no ônibus da Praça da Sé

Ida e volta à Praça da Sé...

É um dos locais ao qual sempre estou indo. Não de canso de apreciar a paisagem da Praça Municipal, encostado na balaustrada da tradicional Sorveteria Cubana que lembra ao meu amigo Cristiano aquele bolinho de arroz que ficou tão famoso , mas que lhe deu dor de barriga... É verdade que a Cubana já não é a mesma, mas, pelo menos, existe e não desapareceu, como tantas coisas boas fixadas nas nossas lembranças. Da balaustrada, da cidade alta, olho a Baía de Todos os Santos, vejo o Forte de São Marcelo, o belo prédio da Capitania dos Portos do Estado da Bahia, o atual Mercado modelo, atrativo de turistas que visitam a cidade, o quebra-mar , um belo navio de passageiros entrando no porto, navios fundeados ao largo, a Baía de Todos os Santos com o seu mar azul e reflexos prateados provocados pelo sol, a Praça Cayru com o seu monumento. Num momento de devaneio, fecho os olhos e coloco nas águas da baía algumas centenas de saveiros navegando em todas as direções . Olho para a rampa do mercado, não tem nada!... Fecho os olhos novamente e entulho aquele quadrado de tantos saveiros quantos possam caber... crio uma floresta de altos mastros . Se for no fim do dia, claro que aproveito para curtir a ida do sol para o outro lado do mundo, desaparecendo por trás da ilha de Itaparica...que é uma cena maravilhosa e diferente cada fim de dia. Posso ver tudo isto, também do terraço do Palácio Rio Branco, ali, bem ao lado do Elevador Lacerda...
Sim, mas para estar por aí, eu preciso ir até lá, não é mesmo ? O transporte de sempre é o busão com a bandeira de praça da Sé, que faz final de linha pertinho da Praça Municipal. O Ônibus com a bandeira da Praça da Sé é engraçado. Já a dois pontos antes do final, quando pára, começam a descer idosos. São tantos os idosos, que a gente tem a impressão que não terminará nunca de descer gente. Dá para pensar que, continuamente, entra gente pelo fundo e sai pela frente, formando uma corrente constante e interminável... Quando, realmente termina, parece um milagre e aí é hora de subirem os idosos que estavam no ponto para fazer o trajeto até o terminal, onde, novamente acontece a mesma coisa. Não pára de descer idosos ! Quando o ônibus esvazia, é hora de subir. Novamente, uma onda de idosos, alguns com sérias dificuldades para se locomover, invade o veículo, muitos deles, para se fazer transportar para um ponto ou dois mais adiante. É impressionante a quantidade de idosos que circula pelas ruas subindo e descendo em ônibus. A maioria, como eu, sem ter o que fazer, passeia pela cidade inteira, subindo num ônibus, descendo um pouco mais adiante e, subindo em outro e assim por diante. Quando termina o dia ,é bem provável que já entrou e saiu de uns dez ou doze transportes. Bem, pelo menos, esta é uma das vantagens que a terceira idade nos proporciona... . O ônibus com a bandeira da Praça da Sé, é, realmente, um ônibus diferente , quase que exclusivo...Os motoristas já nem ligam mais... Na minha volta para casa, hoje ( 30.12.2008), subiram, no ponto final, que, no caso , ora é inicial, três senhoras. Uma magrinha, baixinha , com cabelos estranhamente grisalhos, uma outra , mais alta , usando um chapéu de lã branco, tricotado, uma bolsa a tiracolo na cor verde petróleo e blusa estampada... Ambas sentaram-se no banco que estava à minha frente e a terceira se acomodou em um outro, mais para trás , mas do lado oposto, para que a senhora do chapéu pudesse se comunicar visual e verbalmente com ela. A baixinha e grisalha , simplesmente, logo após sentar-se, sumiu das minhas vistas e a do chapéu começou a dar trabalho. Girando-se para trás, falava com a terceira que muitas vezes precisava se levantar e ir até ela. Em cada ponto em que o ônibus parava, ela se alvoroçava e queria descer. Era preciso acalmá-la para poderem fazer o trajeto até o próximo ponto. E, assim, foi o tempo todo, até que, chegando à Barra, finalmente, alcançaram o ponto de destino. Desceram do ônibus com alguma dificuldade e tomaram o caminho da praia do Porto da Barra...Era cerca de dez horas e meia , e o sol estava, já muito forte. Certamente, a praia deveria estar superlotada. Cheguei em casa cansado por causa do sol e do calor, ansiando por um copo com água gelada.

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Foto de Sarnelli



domingo, 28 de dezembro de 2008

Pescarias pelas praias do Rio Vermelho



Pescarias e praia todos os dias...

Se, pelas tardes se empinava arraias , pelas manhãs, pois esta é a parte mais propícia do dia para este esporte, se pescava , se perambulava pelas praias e se tomava banhos de mar , com direito a muito sol no lombo !... Era preciso fazer alguma coisa, não ? Claro, mas não era estudar, que era uma perda de tempo precioso , em prejuízo do nosso lazer...Um porre ficar em cima de livros com a cabeça longe, sem entender coisa alguma ! A pescaria era realizada por toda a orla, junto as pedras ,desde a Pedra da Sereia, Taboleiro, Campinho, Pedra dos Pássaros, Santana e Mariquita. Dava peixe em todos os lugares. Começávamos bem cedo a catar iscas, aquelas baratinhas pretas que vivem sobre e nas pedras da praia. A dificuldade maior para pegá-las e consistia no fato de que são bem rápidas e que se escondem nas frestas das rochas. Quando tinha areia à mão, a coisa ficava mais fácil. Jogávamos um punhado de areia molhada sobre elas, que ficavam presas e era só catá-las, amassar-lhes as cabeças e pronto! Era só colocar numa latinha ou num saquinho pendurado na cintura. Outro tipo de isca, já mais difícil, eram os carangueijinhos, os guaiás. Mas se usava qualquer tipo de isca. Sardinha, petitinga, xixaro e até carne vermelha. Existe um tipo de peixe, ou existia , nas nossas costas, muito escorregadio que é vidrado em carne. A mangarueira. Esverdeado, com carne saborosa que se encontrava em quantidade junto as pedras de todo o Rio Vermelho . Alcançava um tamanho razoável e até brigava bastante quando era fisgado. Tinha peixe de todos os tipos. Bodiões, barbeiros, dentões, garoupas, cavalinhas, xaréus, guaricemas agulhões, e uma diversidade enorme de qualidades. Praticava-se a pesca com linhas de espera, varas ou ainda tarrafas. Éramos visitados constantemente por imensos cardumes de petitingas e xixarros, com sardinhas no meio... Toda a costa era piscosa. Os xixarros encostavam nas pedras nos meses de dezembro a fevereiro e davam até mesmo nas praias, sendo possível, às vezes, pegá-los à mão , quando os cardumes eram abundantes e os peixes grandes corriam atrás.... Hoje, sumiram ! Ponto certo, mas certíssimo , era na Mariquita, para os xixarros , por onde hoje passa o emissário submarino. Apareciam tantos pescadores que o local parecia um paliteiro,de tantas varas e, invariavelmente, surgiam brigas porque as linhas se embaraçavam dentro d’água com os movimentos dos peixinhos... O problema , ficava então, sendo saber de quem era o peixe...Um lugarzinho sobre as pedras era bastante disputado.
Havia muita facilidade. Era só esperar a hora em que o peixe começava a comer . Os peixes sumiram da costa. Começaram a desaparecer, quando iniciaram a pesca com bombas que destruíram os viveiros mais próximos. Mas era gostosa, a pesca do xixarro! Munidos de uma vara que chamávamos de flexa, uma linha com um anzol pequeno , chamado “ unha de gato “ , fazíamos a festa. Com o passar dos tempos não dava mais para pescar das pedras porque era tanta gente que ficou melhor evitar brigas e confusões. Muitas linhas dentro d’água. Um xixarro fisgado fazia uma confusão dos diabo, embaralhando as linhas de diversos pescadores e provocando as confusões sobre as pedras. Eles tinham uma particularidade: começavam a comer ávidamente e depois de algum tempo paravam. Era preciso aguardar um “ novo ataque “. Mas a pesca passou a ser impraticável porque sumiram ou mudaram de ponto, depois da instalação do emissário . É raro que hoje apareça e quando isto acontece, ela vem em pequena quantidade. Teve uma tarde que presenciei uma pescaria milagrosa. Um pescador chamado Renato, que morava lá para as bandas da Pedra da Sereia deu com um cardume de bodiões e foi um tal de tirar peixe de dentro d’água que não acabava mais. Me lembro como se fosse hoje. Não dava tempo de colocar o anzol no mar com a isca e pronto, já tirava outro. Uma pescaria verdadeiramente impressionante, mas, coisa como esta, não acontece todos os dias. É uma raridade. Naquela tarde o Renato pescou quantos bodiões quis... Eu, sentado numa pedra, apreciava . De outra feita, um outro pescador, com linha de fundo ou de espera, fisgou um peixe enorme. Levou horas trabalhando para trazê-lo e, assim mesmo, sempre emendando linhas de outros pescadores que estavam por perto e acompanhavam a briga do homem contra o peixe . Cada vez mais, era preciso soltar linha até que, cansado , esgotado, se entregou. De vez em quando, apareceu lá longe dando saltos e brilhando sob o sol da tarde . Eu nunca tinha visto um peixe tão grande na minha vida ! Tinha cerca de um metro de comprimento e, certamente, foi parar em diversas panelas. Havia peixe para todo mundo , mas as bombas terminaram com os viveiros perto da costa. Daí para cá, não se encontra mais nada . Curiosamente, até os xaréus desapareceram. “A puxada de rede “ , coisa nossa característica, que até inspirava artistas plásticos, desapareceu . Não se puxa mais a rede e ninguém mais sabe onde os xaréus foram parar... A canoa, com a rede e os pescadores, não sai mais para o mar...o povo não se junta mais na praia para ajudar a puxar a rede e ganhar o seu peixinho...
Alguns pescadores, conseguem alguma coisa, praticando a pesca submarina, mas nem sempre têm muita sorte. Numa noite, ah, sim, esta é boa. Fui pescar no capim das Freiras, em frente a Pedra dos Pássaros, com o meu compadre . Era uma noite de lua e ele queria pescar. Estávamos munidos de tudo, mas precisávamos de sorte, sempre é preciso de um pouco de sorte. O meu amigo jogou a sua linha e, de repente, sentiu um puxão e aí a coisa começou. Tinha um peixe na linha. deu trabalho puxá-lo, mas conseguiu . Um belo dentão de uns dois quilos mas, numa outra noite aconteceu praticamente o mesmo. porém , quando colocamos o peixe sobre as pedras, a surpresa: era um caramuru...demos uma bela corrida assustados com o bicho , que tem uma dentada muito violenta, mas depois conseguimos tirá-lo do anzol. É um peixe difícil de tirar da linha. Além de morder firme, é muito escorregadio , mas conseguimos. Outra ocorrência interessante e que não dá para esquecer, aconteceu na casa do meu avô. Havia voltado da praia e larguei o material no chão para ir beber água. Quando voltei, verifiquei que havia pescado um gato. É que, no anzol, havia um pedaço de carne, que o gato engolira. Não havia como tirar o anzol que já devia estar no seu estômago. Corri para a cozinha, apanhei uma faca e cortei a linha. O gato saiu correndo como se estivesse fugindo do diabo... Só sei de uma coisa: nunca havia visto aquele gato por lá. Que existe peixe-gato, existe, mas aquele era diferente !...
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Foto de Sarnelli - pedras da praia de Santana

Sarnelli 29.12.2008

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Meu primeiro tiro




Meu primeiro tiro Junho de 1997


É... o tempo lá fora não está nada bom. Estamos no outono, o mar está agitado, os pescadores não estão saindo por causa de muito vento e chuva pesada. O que fazer numa tarde de domingo como essa, um domingo friorento e chato? A televisão, como todos sabem, transformou os dias de domingos (sábados e feriados) num tremendo porre. Não pára de repetir programas que são apresentados há muitos anos, sem nenhuma variação importante. Bem, então vamos pensar e encontrar algo para fazer. Ah... sim. Já sei, vou escrever algo! Passo em revista o passado e escolho um fato que pode não parecer muito importante mas que foi marcante para mim. Foi uma grande emoção, me produziu muita adrenalina como diz a moçada hoje. Imaginem, o meu primeiro tiro com espingarda de verdade! Passando diretamente da espingardinha feita com cano de flande de lata e mola, com uma rolha na ponta amarrada de cordão para que pudesse ocorrer a sua recuperação. Foi coisa que nunca será esquecida, como não o foi e nunca será. Com a minha idade de 9 ou 10 anos, dar um tiro com espingarda de cartucho de verdade! Não, há coisas que a gente não esquece e essa foi uma delas. Tenho vivo na memória, como se tivesse acontecido ontem. Saímos cedo lá da casa do meu avô materno, na Av.Getúlio Vargas que hoje todo mundo conhece como Avenida Oceânica e caminhamos em direção ao ponto do bonde que ficava em frente ao armazém do Seu Apolinário, o galego. Naqueles tempos os espanhóis que existiam aqui eram galegos. Tratados como galegos, que passou a ser sinônimo de gringos. Bem, o ponto do bonde ficava bem no fim da avenida onde ela se junta com a rua da Paciência. No passeio do armazém que ficava numa esquina, que era de secos e molhados e onde hoje há uma vidraçaria com uma pintura chamativa porque muito sem gosto, na minha maneira de gostar. O bonde, amarelinho, cor oficial da Cia Linha Circular, tinha a bandeira nº 16, indicativo de AMARALINA . Você já imaginou, pelo menos nos dias de hoje, tomar um bonde ou outro transporte porque bonde não existe mais aqui em Salvador, com uma espingarda nas mãos? Pois foi o que o meu avô fez. A arma, dobrada, cartucheira na cintura. Era uma calibre 28 francesa, com a face externa sextavada, muito bonita, diria mesmo elegante. O bonde chegou, subimos e partimos para Amaralina. Passamos pelo Capim das Freiras, onde havia a Escola Don Bosco, ganhamos a Rua da Paciência, com casas dos dois lados, um deles dando fundos para a praia . No Capim das Freiras, havia uma coluna de granito com um medalhão em bronze, homenageando o jornalista Euricles de Matos, que tomou destino ignorado por ocasião do alargamento da rua da Paciência. As casas do lado da praia terminavam onde começa a praia de Santana. Ainda se pode constatar parte da fundação do palacete da família Rafael Menezes. Seguimos passando pela praia de Santana, pelo que sobrou do Forte do Rio Vermelho, onde hoje está a nova igreja de N.Sra. de Santana, que aproveitou parte das fundações do forte, pela Mariquita, logo adiante pelo Hospital Nita Costa, do qual só existem ruínas, pela velha fábrica de papel da qual resta a chaminé que dá nome a um posto de gasolina, pelo quartel do 4º GMAC, com os seus canhões apontados para o mar. À nossa esquerda, mato e à direita, o oceano Atlântico até o ponto final do bonde, onde existiam apenas um quiosque de baianas do acarajé e um bar que resiste ao tempo, mas que ficou como sempre foi, cada vez mais deteriorado. Terminou a viagem. Ali, viravam os bancos do bonde para a viagem de retorno pela mesma linha, pois só existia uma para os dois sentidos. O motorneiro mudava os comandos para o motor que tinha estado na trazeira, levava as suas manivelas e pronto. Recomeçava uma longa viagem até a praça da Sé. Dali do largo, tivemos que fazer um trajeto a pé que incluía atravessar um campo de futebol já sob um sol muito forte. Não havia nada no local, a não ser lá distante, um grupo de casas modestas. O solo era de areia, com vegetação rala e rasteira . O calor era forte. Vinha do sol e já emanava da areia quente. Calor, vegetação rasteira, areia e mar. Este era o ambiente e a paisagem. Lá longe, um pequeno conjunto de casas isoladas entre algumas árvores e no meio do nada. Numa delas, morava o companheiro do meu avô, se não me engano, um pintor, pintor de telas, um artista de nome Bellani, também italiano. Estava na hora! De espingardas em punho, duas, claro, os dois se embrenharam no que chamavam de mato e eu atrás. Sempre atrás, por recomendação do velho, à procura de passarinhos. Não foi mesmo uma caçada. Deveria ter sido uma passarinhada, de preferência de sabiás, que eram uma praga. Era o que se esperava encontrar, mas não tiveram sorte, para a felicidade dos passarinhos ou sabiás. Chegamos tarde! O sol, mais forte ainda, com a areia emanando muito calor os passarinhos não voavam! A movimentação da caça começa pela manhã bem cedinho e pela tarde quando ela vai começando a dar lugar à noite. Já estávamos voltando quando o "nonno" pegou uma folha seca, espetou-a em um espinho de mandacaru alto, me deu a espingarda carregada, sempre ao meu lado e muito cuidadoso, disse: tome, aponte para a folha e atire!... Puxa, as pernas ficaram moles e começaram a tremer! A tremer como varas verdes ao vento, mas eu estava possuído de um misto de medo e encantamento, porém determinado. Eufórico! Eu ia dar um tiro de verdade! E depois, contar para os meus amiguinhos! Nossa!...Tomei a arma com ele me ajudando e corrigindo a posição da coronha no ombro e apontei ainda incrédulo e trêmulo, para a folha espetada no espinho do mandacaru. Visava a folha, mas a bolinha na ponta do cano teimava em andar de um lado para o outro e a subir e a descer e eu não conseguia firmá-la... O "nonno" falou: aponte firme e aperte a coronha bem apertada no ombro. Fiz o que pude. Quando achei que estava com a mira certa, fechei os olhos e apertei o gatilho. Bum! Com o tiro, recebi um forte coice no ombro direito mas não caí, deu para segurar! Ainda pude ver o braço do mandacaru caindo com a folha espetada. Não acertei na folha, mas pelo menos atingi o mandacaru. Nada mal para um primeiro tiro, consideradas as circunstâncias, não acham ? Acertar no galho do mandacaru foi mesmo uma façanha! Não dá para esquecer. Nem do tiro, nem do velho...! Ainda vejo o mandacaru caindo quase que vagarosamente, para o seu lado esquerdo...

Esta pequena história aconteceu ali onde hoje está o bairro da Pituba . A casa do amigo Bellani, estava exatamente onde hoje é a rua Ubaranas. Quem diria, hein?... Na praia, havia uma construção de um médico famoso. Do Dr.Bureaux, uma casa em forma de navio com a proa apontada para o mar e Itapoã: era uma vila de pescadores da qual se ouvia falar, mas não havia estrada para chegar lá. Só indo a pé, e pela praia ! Tudo muda o tempo todo não é verdade? A cidade cresceu, e como!!!

Foto baixada da Internet

Sarnelli, 25.12 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008







P a s s e i o de ô n i b u s

Já tem tempo que fiz do busão o meu melhor meio de transporte. Raramente pego o carro, só em caso de absoluta necessidade . Usamos o carro , eu e a minha mulher, evidentemente , para irmos aos supermercados e ou outra necessidade que justifique o seu uso. Do contrário, eu, pelo menos, adotei o ônibus e é nele que me movimento por quase toda a cidade...
Já é costume , aproveitando a minha terceira idade e o fato de que tenho o privilégio que o tempo me deu de viajar de graça, que uso os ônibus. Entro pela porta da frente e já nem preciso mais mostrar a certeirinha porque está na cara que o prazo de validade da minha juventude está vencido...
Normalmente , me acomodo em uma das poltronas na frente , quase sempre cedida por um jovem prestativo, de onde posso curtir o panorama, mas, o mais interessante, é que nos passeios, sempre surge alguma coisa , alguma conversa interessante e você segue viagem sem se preocupar com o trânsito, com o engarrafamento , uma vez que o motorista é que é pago para isto ! Já pensou , você sair para passear dirigindo o seu próprio carro ? Que coisa chata ! Você não pode apreciar coisa alguma, tem que estar atento à direção e ao tráfego, às sinaleiras, e ,ainda, sofrer com os engarrafamentos que estão por todas as vias em que você se enfia ! Hoje, a coisa não está fácil ! A cidade não comporta mais veículos . Enquanto as montadoras se esforçam para colocar mais carros nas ruas, seduzindo a população para o consumo , para que comprem , comprem, oferecendo descontos e vantagens . Até o Presidente Lula, face a crise atual , aconselha ao povo que compre, que compre, para manter o comércio e a indústria aquecidos...ao tempo em que demissões vão acontecendo !
Na verdade , prevejo que vamos ser sufocados em cidades como a nossa , por veículos que não conseguem mais andar, porque presos no trânsito ...Basta chover um pouquinho e, então, se estabelece o caos ! Se um carro , simplesmente encosta em outro, pára tudo ! Se há uma manifestação de rua , você sofre, ainda mais se for num dia de verão com a temperatura na casa dos 32º.
Não, definitivamente, não dá mais para andar de carro. Me divirto muito mais usando o busão, Vou onde quero , subo num ônibus aqui, desço adiante, pego outro e assim vou indo sempre em frente sem me preocupar com nada , muito menos com a necessidade de voltar para pegar o meu carro em um estacionamento qualquer que me deu trabalho para achar e que, ainda por cima, custou caro...O trânsito e os engarrafamentos , sobretudo problemas com o veículo, se ele encrencar, ficam à cargo do motorista e eu não vou precisar me estressar por isto. Simplesmente mudo do ônibus ! Tem dias que, no fim da tarde, vou fazer a conta dos meus trajetos e percebo, surpreso, que subi e desci de mais de dez coletivos...e que andei por boa parte da cidade, Vi coisas, falei com turistas , fotografei paisagens e arranjei assuntos para os meus escritos...Demorei muito para descobrir que o vício , ou a necessidade do carro, nos tira boa parte das coisas interessantes que acontecem durante os dias , convivendo com as pessoas que fazem a população da cidade, cada uma com a sua história particular e à procura de alguém a quem contar para desabafar... Dentro do carro ,de certa forma, você está fora do mundo ! Feliz ou infelizmente, há momentos em que ele é necessário, mas, pensando bem, na maioria das vezes, ele pode ser dispensado . Sempre que puder, dispense o carro, contribuindo para diminuir a poluição e você vai ver como é interessante se tornar um pedestre e conviver com os diversos tipos de pessoas que circulam pelas ruas... Você não imagina quantas histórias vão aparecer !...

Na volta para casa, procuro sempre um transporte que faça a rota da orla, pois eu tenho, todos os dias, a necessidade de ver o mar e olhar para o horizonte !...

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Foto de Sarnelli

domingo, 21 de dezembro de 2008

Caravela " Príncipe Regente " - F.São Marcelo



Passeio ao Forte de São Marcelo - Caravela Principe Regente

Brasil 500 anos“ Nau capitânea “ e a caravela “ Príncipe Regente “Para os festejos dos 500 anos do Brasil, entre outras tantas homenagens e festejos, foi idealizada a construção de uma réplica da “ Nau Capitânea “ , de Cabral , que deveria ser a dona da festa. Todos os recursos foram disponibilizados para que a nau fosse um sucesso absoluto, mas o que se viu foi um verdadeiro desastre, quase mesmo uma tragédia !... Além da frustação do público ,diria, do país inteiro, houve prejuízos materiais de monta, que ultrapassaram a cifra de quatro milhões de reais .Todo, dinheiro público ! Logo na primeira saída , a “ Nau Capitânea “ deu chabú...Não passou da barra do porto, e voltou rebocada...Depois de mais outros três fracassos, com, evidentemente um ocaso melancólico, a tão sonhada nau foi servir de cenário para um filme que ninguém até hoje viu. A nau que não navegou e que quase não flutuou, foi construída com a disponibilização de todos os recursos modernos e por profissionais tidos como habilitados. Houve até um engenheiro naval francês que, depois de tantos revezes, desapareceu e ninguém nunca mais ouviu falar dele...Uma réplica de uma nau da frota de Colombo, foi construída por artesãos em estaleiros no sul do estado e, hoje, uns 5 anos depois, navega tranqüilamente pelo mundo transportando uma biblioteca flutuante.Agora, temos uma nova réplica, desta vez, também uma caravela, construída por operários baianos que flutua e navega , quem diria !... É, como se poderia dizer : o“ Titanic“ foi construído por profissionais e a arca de Noé, por amadores !... Esta nau da qual estou falando, é a “ Príncipe Regente “ , que tem as seguintes caractarísticas :
comprimento : 15 metros - largura : 4,6 mts. - motor e velamastros : 4 - madeira utilizada: jaqueira - ano de fab: 2008capacidade:para 50 passageiros - 3 tripulantes e 10 toneladas de carga
Dispõe de todo o equipamento de salvatagem ( 57 coletes ) - 2 boias circulares e conta também com equipamento para sinalização sonora e luminosa para o caso muito improvável de uma eventual necessidade. Estes dados me foram fornecidos gentilmente pelo Cel. Anésio Ferreira Leite, Diretor Presidente da Abraf – Associação Brasileira das Fortificações Militares e Sítios Históricos – numa minha visita ao Forte de São Marcelo, em Salvador.
Uma visita ao Forte de São Marcelo é indispensável para os baianos e para aqueles que vêm curtir o verão de Salvador . A caravela “ Príncipe Regente”sai do pontilhão do forte e realiza trajetos dentro da Baía de todos os Santos , oferecendo a oportunidade de se ver a cidade dos dois andares, do mar. São trajetos seguros e de curta duração e o passeio pode se tornar inesquecível, se o dia estiver ensolarado , se a caravela navegar em mar sereno , com vento ameno , que alivie um pouco o calor do sol. Como dizem agora: é um passeio imperdível, inesquecível, ver o forte e curtir Salvador do mar, a bordo da caravela “ Príncipe Regente “ .Este blog foi configurado para receber comentários e sugestõesFoto e texto de Sarnelli – 20.12.2008A “ Príncipe Regente “ está agregada ao Forte de São Marcelo “

sábado, 20 de dezembro de 2008

Minhas recordações da Maria Fumaça - final


O p i r u l i t o

Eu sempre escolhia uma janela do lado do mar. Tinha uma desvantagem, porém , porque , volta e meia , era atingido por uma fagulha cuspida pela Maria Fumaça que sempre acertava em um dos meus olhos. Era sempre aquele drama até resolver a situação, mas, quem disse que eu desistia do meu lugar ? Estava sempre na janela e com a cabeça do lado de fora, sempre com o mesmo resultado. O problema das fagulhas , da fumaça e das cinzas eram tão sérios que, estou lembrando agora, muitos passageiros viajavam usando guarda-pós, comumente brancos. No trajeto havia diversos túneis. Se não me falha a memória , uns três . Pois bem, quando o trem entrava em um deles , era hora de respirar fundo ! Os vagões ficavam cheios de fumaça como se estivessem pegando fogo , acredite , por favor...Não é invenção minha não ! Mas quem disse que eu deixava a janela ? Era o de sempre. Acostumado com a história, meu avô tirava o lenço do bolso e limpava , delicadamente, os meus olhos lacrimejantes. À esta altura, já estávamos chegando à primeira parada. Outras aconteceriam durante a viagem . Em cada uma delas aparecia um formigueiro de vendedores. Taboleiros, bandeijas de amendoim, cocadas, mingaus, bolos , milho, pipoca e uma infinidade de outras coisas, todos apressados, pois tinham pouco tempo.. Muita gente descia do trem para tomar alguma coisa no bar da estação mas tudo tinha que ser feito às pressas pois as paradas eram curtas. Alguns minutos apenas. O apito do Chefe da estação, a Maria Fumaça começava a resfolegar e, lentamente arrastava atrás de si a composição aproximando-nos cada vez mais do nosso destino. As paisagens começavam a, novamente, a passar por nós cada vez mais velozes .À esta altura, o dia já ia se apagando e a escuridão tomando conta de tudo. Aos poucos, a paisagem desapareceu mas começavam a surgir as estrela . Não havia mais nada para ver lá fora, só o céu com as suas estrelas. E agora, o tédio de uma viagem monótona ! O que fazer ? dormir com o balanço do trem até ser acordado já em Mata ? Era o melhor, a viagem seria mais rápida. Vamos, acorda, chegamos ! Puxa, parecia que eu havia dormido uma eternidade. Quando somos crianças , o tempo não passa , tudo demora. A estação, iluminada e barulhenta. Um formigueiro de gente num corre corre maluco, alucinante, para tomar um café e comer um pedaço de bolo antes que o trem partisse. Tomar um mingau...Era um verdadeiro caos e, quase sempre , o dono do bar levava uns porretes de passageiros que largavam tudo sobre o balcão e saíam correndo atrás do trem... E, por falar no dono do bar, o cara era a cara do detetive chinês Chales Chan, sem tirar nem por . A estação, como todas as outras, era uma plataforma elevada e ficava entre as duas linhas. Podia acontecer, e era comum, de dois trens entrarem ao mesmo tempo, um subindo, o ouro descendo. Aí, então, a confusão era generalizada. Ninguém entendia ninguém . Aliás, nem era confusão. Era o caos mesmo. Mas era isto que interessava . A ida à estação para receber os trens, era o momento mais importante do dia.. Ir receber o “ Pirulito “ e ver os amigos e parentes chegados da “ Bahia “. Era o único acontecimento numa cidade monótona durante o dia. Afora isto, a exceção era o aparecimento ocasional de um circo com números que já conhecíamos de outras passagens...Os espetáculos e até mesmo as piadas eram sempre iguais , mas davam para o gasto. Melhor do que nada, não é ?Modificava um pouco a vida noturna da cidade que começava a adormecer quando o sol se escondia por trás das matas. Como não podia deixar de ser em cidade do interior, havia e ainda deve haver, a feira dos sábados no mercado Municipal. A chegada do “ Pirulito “ é que era o momento culminante do dia. Ver algumas pessoas chegando, outras voltando e, o que era melhor, saber as novidades mais novas da Capital. As novidades da Bahia ! Naqueles tempos, a Bahia era Salvador !... Como os meios de comunicação não eram os de hoje, os recém-chegados , com todas as novidades, eram motivo de atenções especiais e se aproveitavam para se darem ares de importantes, mesmo que passageira, afinal, acabavam de voltar de uma viagem, estavam voltando da Bahia, apesar de haverem rodado não mais que setenta quilômetros !
Mas o “ Pirulito “ já estava, novamente, de saída, Tinha que rolar por muito trilho até o final da viagem Piuiii...Piuiii...Piuiichan...chan...chan.. e lá se ia ele fungando e se embrenhando na escuridão da noite até que não se via nem se ouvia mais nada. Acabou. Já chegou, já foi, era hora de tomar o caminho de casa. A pouca ou quase nenhuma iluminação das ruas ia nos engolindo enquanto íamos deixando, ao longe, a estação ainda iluminada , mas que , aos poucos, escurecia também , até restarem apenas algumas poucas lâmpadas acesas gerando uma iluminação pálida que emprestaria ao resto da noite um aspecto lúgubre de velório. Nas ruas, alguns lampeões a carbureto com aquele seu mau cheiro característico ou a querosene quebravam a escuridão de vez em quando. Quando era noite de lua , tava tudo legal. Nem acendiam os lampeões . O céu era mais bonito e se viam mais estrelas ainda . Você já olhou para o céu, à noite, quando ele está estrelado e quando não tem à sua volta iluminação alguma ? Nossa, que coisa linda ! Indescritível . É, simplesmente, encantador !
Bem, a estada em Mata poderia durar alguns dias , não me lembro quantos. Sempre chegava o dia e a hora de voltar. E a volta começava ao ter que acordar cedo Para não perder o trem . Pelas ruas, neblina e um friozinho gostoso. Eu adorava e ver uma fumacinha sair da boca, era como se eu estivesse fumando. Me divertia. Não dava para entender mas eu gostava da brincadeira. Esta era a pior parte do passeio , sair da cama correndo. Engolir um café e sair com o pão nas mãos.... Mas, em compensação, na volta para casa , tinha a outra parte da viagem que eu mais gostava. O vovô, ou melhor, o nonno, já sabia... Estava careca de saber que tínhamos que descer em Plataforma, atravessar novamento o Porto dos Tainheiros de canoa para irmos tomar o bonde na Ribeira, que nos levaria até a Praça Cayru. A travessia era a melhor parte da viagem, a que mais me dava alegria. Enquanto a canoa vencia a distância eu brincava com a água do mar, naquela oportunidade limpa e transparente. Uma beleza. Dá para acreditar que o Porto dos Tainheiros já foi assim ? Pois é,..foi mesmo . Uma água fresca, gostosa . O Porto dos Tainheiros era um local limpo e saudável antes de começarem a aparecer as palafitas. Aliás, era nele que desciam os famosos Catalinas que cruzavam os céus do Brasil e desciam em Salvador. Ainda hoje existe a estação de passageiros, mal cuidada , é claro, mas está lá para contar a história . Os Catalinas eram feios, pesados, mas eram lindos vê-los amerizar. Desciam desajeitados, abrindo grande quantidade de água com espuma e, vagarosamente se aproximavam do seu local de atracação com direito a âncora também.. Para subirem, até pareciam que iriam precisar de todo o oceano , mas acabavam subindo e subindo e, aos poucos iam diminuindo até se tornarem um ponto no espaço que também desaparecia... Não me lembro exatamente os dias em que fazíamos as nossas viagens , mas eram constantes. Naqueles tempos, ninguém tinha compromisso com o tempo , muito menos o meu avô , que era escultor. Trabalhava quando queria e quando tinha inspiração. Aliás, eu acho mesmo que o tempo não dava bola pra ninguém porque tínhamos tempo para tudo e ainda sobrava e nem sabíamos o que fazer com ele... O tempo não passava e o ano nunca acabava. As férias demoravam para chegar, Hoje, o tempo avoa ! Olha , gente. Na história do “ Pirulito “ eu estava esquecendo de dizer que a Maria Fumaça não andava só. Tinha uma companheira, e barra pesada, Lindona ! Igualzinha a ela , porém , mais nova e cheia de cromados e dourados , tudo bem polido e lustroso . Uma maravilha ! Outra Maria Fumaça que não era apenas outra Maria Fumaça. Era coisa fina. Era a nossa Maria Fumaça , toda produzida e bem cuidada. Linda de morrer ! Quando apontava na curva chegava fazendo um bruta estardalhaço – Piuiii...piuiii...piuiii... e badalando o sino reluzente . Entrava imponente , resfolegante , na estação, lançando nuvens de vapor por todos os lados, dizendo: gente, cheguei ! OI eu ! E agora, depois de tantos anos, mais de meio século , onde andarão as nossas Marias Fumaça ?Dá dó só em pensar que possam estar em algum entroncamento ferroviário abandonadas e entregues à própria sorte para serem consumidas pelo tempo e devoradas pela ferrugem. Eram tão lindas !
Ah, sim, outra coisa que eu estava esquecendo. Durante as viagens para Mata tanto na ida como na volta, evidentemente, tínhamos o mesmo problema. Enfrentar os túneis da estrada. É que, ao transitar por eles, a fumaça das locomotivas, lançada neles invadia os vagões incomodando os passageiros. Era um incômodo que durava alguns minutos ainda depois que as locomotivas saíssem dos túneis para conseguirmos ar puro...Só vendo ! Era por isso que algumas pessoas viajavam de guarda-pós. Para preservar os seus ternos de linho branco irlandês, muito em voga na época. Coisas de antigamente. As coisas, de certa forma, melhoraram , mas sinto falta de como eram antigamente. Não dá para esquecer, não é mesmo ?
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Sarnelli, 15.12.2008.




sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Meu passeio ao Forte de São Marcelo



Salvador através de uma das janelas do Forte

Salvador, através de uma das janelas do Forte
Passeio ao Forte de São Marcelo em 18.12.2008Novamente acordei pensando no que fazer na manhã de sol que estava nascendo e que eu via através da janela ...Acordei, mas não estava desperto. Foi então que me lembrei que a minha digital já havia sido reparada e disse para a minha mulher : nega, vou até o Forte de São Marcelo . Me preparei , tomei um café e peguei a pista, como diz a D.Ester, a moça que ajuda aqui em casa...Desci na Praça Cayru, em frente ao Elevador Lacerda e caminhei até o prédio da estação de embarque de passageiros que utilizam as lanchas que vão para o Recôncavo , sob o sol das quase 9 horas da manhã , que já estava bastante forte. Na estação, uma enorme confusão. Muita gente querendo viajar para diversos destinos e uma desorganização completa num espaço tão pequeno .. Não encontrei o rapaz que atende os passageiros que vão ao Forte. Consegui passar pelo portão com a desculpa de que só queria tirar algumas fotos. Percebi que perdi a lancha que faz o pequeno trajeto, mas fui na terceira viagem Apareceu uma turma enorme de estudantes de Direito de uma Faculdade do Interior. Fizemos o trajeto em poucos minutos, talvez , três, sei lá..Sete mangos cada um. Não respeitaram nem a minha idade, mas fiquei feliz em contribuir. O Forte é um patrimônio que precisa ser mesmo preservado . Mais do que um Forte, é um monumento e um outro cartão postal inconfundível de Salvador. Dele, a vista da cidade é um espetáculo . Se divisa todo o porto, onde estava atracado um grande e imponenente navio de passageiros, com o casco branco. Havia também duas unidades da nossa Marinha . Cliquei quase uma centena de fotos , conversei com pessoas , brinquei com elas e troquei endereços. Quer dizer , fiz novas amizades. Chegou a hora da partida da caravela “ Príncipe Regente “ que levou uns visitantes estrangeiros para um passeio marítimo nas águas tranqüilas da Baía de Todos os Santos e eu pedi a lancha para pegar o caminho de volta para casa. Soube , à noite, através de contato via micro, que os nossos visitantes ficaram encantados com o passeio , realizado numa réplica da caravela “ Pinta “ de Colombo , que deslisou suavemente sobre as águas da Baía .. num belo dia de sol de verão , agraciado pela tranquilidade das águas do mar...Ver a cidade dos dois andares do mar, é uma delícia e um privilégio , algo inesquecível.O dia foi muito bonito, hoje ,verão à moda da casa , com a temperatura chegando aos 32ºC . Foi um esforço enfrentar os trajetos, tanto sol, mas o passeio valeu a pena . Ir ao Forte de São Marcelo é um passeio que todos os baianos devem fazer e os turistas também ...Se você , de fora , vier à Salvador neste verão, não deixe de programar uma visita . É até uma obrigação conhecer e pisar naqueleforte circular construído dentro do porto marítimo de Salvador, dentro da água mesmo, gente , ao qual só é possível o acesso de barco ou à nado, se você for um bom atleta !... É o melhor lugar da Bahia , para se ver a cidade dos dois andares. A não ser que você chegue de navio...Sarnelli , 18.12.2008
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um passeio saudosista pela estação de trens da Calçada


Um passeio pelo estação de trem


Eu estava preparando um artigo , ou melhor, uma historinha inspirada nas minhas viagens de trem na infância, com o meu avô , para colocar no meu blog , mas estava precisando de uma foto de uma locomotiva “ Maria Fumaça “ Não queria pinçá-la da Internet. Queria uma foto minha, queria uma “ Maria Fumaça “ só para mim! Pô , eu já tinha o meu texto prontinho, mas não tinha a minha “ Maria Fumaça “ ! Eu precisava achar a minha locomotiva para que eu próprio fizesse a sua foto para colocá-la no ar, ilustrando o texto. Cobrava de mim mesmo, uma foto de minha propriedade!Eu precisava de uma “Maria Fumaça “ que fosse fotogênica, pelo menos um pouquinho !...
Foi quando tive a idéia luminosa que, por sinal, demorou a surgir. Por que não pensei nela antes ? Uma coisa tão simples ! ... Me perguntei : por que não ir à estação da Leste Brasileira ? Lá, no meio de toda aquela sucata, deve haver algumas Marias fumacentas, mas adormecidas , juntamente com uma porrada de vagões abandonados no pátio ferroviário da companhia...Era o que eu pensav . Que não deveria faltar !
Na última segunda feira , no dia 15 de dezembro, acordei com uma firme decisão de conseguir a minha foto e o único jeito seria ir até a estação de Calçada . Me preparei, fiz a minha refeição matinal e me encaminhei para o ponto do Ônibus. Não adianta, não saio mais de carro, pois não estou disposto a me estressar no tráfego e a enfrentar problemas de estacionamento, etc., ainda mais , porque acho muito mais prático e econômico ... Já que entro pela porta da frente e sempre encontro um jovem gentil que, com maior vigor físico e condições para viajar em pé, me cede o seu lugar. Demorou um pouco , mas surgiu o ônibus que eu esperava, com a bandeira da “Ribeira “. Subi, me acomodei e enfrentei o trajeto olhando as coisas da cidade. Não demorou muito e cheguei. Desci, olhei a velha estação, tirei diversas fotos . Não mudou nada desde os meus tempos de criança, pelo menos externamente.Entrei no amplo salão tendo a impressão de que iria me emocionar, mas não aconteceu . Mudou pouco. A estação está servindo apenas para a movimentação de umas poucas composições que servem a um subúrbio próximo, porque a ferrovia, como ferrovia , não existe mais!. Passei livremente pela catraca . Esta é uma das vantagens da terceira ou quarta idade, e dei uma olhada no panorama. Logo vi uma “ Maria Fumaça “ ( mas só tinha uma mesmo !) exposta ao lado de uma outra locomotiva mais moderna , isto é, moderna, é modo de dizer..., que não me despertou o menor interesse. Fiz a festa. Tirei as fotos que quis e bem entendi da Maria fumacenta mas não deixei de sentir um aperto no coração ao verificar o estado em que se encontrava. Tive a impressão de que juntaram peças de diversas Marias para produzir aquela que estava em exposição no final dos trilhos que terminavam na estação . Tinha ou tem o n. 209 . Eu havia encontrado o que procurava , havia feito as minhas fotos e comecei um passeio pelo parque ferroviário para constatar a calamidade em que se encontram dezenas de vagões à espera de compradores ao preço de ferro velho...Alguns vagões até tinham o n. do lote a que pertenciam...Uma pena, um fabuloso desperdício do dinheiro público ao qual ninguém parecia dar importância. Perambulando pela estação, encontrei dois funcionários conversando e eu me aproximei, comecei a falar, e perguntei se poderia conseguir algumas fotos antigas. A moça me levou à parte administrativa. Só vendo o conforto ! Tudo moderninho , do jeito que tem que ser para proporcionar o devido conforto ao funcionário que trabalha e àquele que também não faz nada .Ela me mandou esperar um pouco e entrou. Iria falar com o encarregado das relações públicas ...Fiquei esperando. Esperei um bom tempo e nada ! Então me despedi da recepcionista pedindo-lhe a gentileza de mandar um recado lá para dentro dizendo que, com a idade que tenho, não dispunha de muito mais tempo para perder...A tristeza que senti ao ver como acabou um serviço que seria de vital importância para o país , foi igual à que tive ao perceber que existem ali, mais funcionários que vagões e locomotivas para administrar...!
Na ida ao ponto de ônibus, aproveitei para dar uns cliques em algumas cenas da Feira de São Joaquim. A minha grande sorte, ficou por conta do que aconteceu depois. A minha digital deu defeito, mas foi bastante responsável. Me permitiu tirar antes as fotos da minha “ Maria Fumaça” , antes de resolver entrar em recesso por conta própria , e assim não perdi a viagem E, por falar em viagem, não demora muito e vou fazer aquele trajeto até o subúrbio num daqueles vagões que ainda circulam. Vai ser uma coisinha rápida... Acabaram com a Leste, do mesmo modo como acabaram com o Loyde e a Costeira..., existem no papel mas não têm navios...
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Sarnelli, 15.12.2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Cristo da Barra pede atenção



Esta é a imagem , ou melhor, a estátua do Cristo Salvador ,que foi doada à cidade por um baiano e que está localizada no Morro do Cristo, na Barra . Amigos do alheio levaram quatro placas de mármore , que até hoje não foram repostas. A Prefeitura conhece o assunto mas não toma providências para a manutenção de uma obra de arte, patrimônio da cidade, alegando falta de disponibilidade financeira . Até quando a obra de arte, de autoria do escultor italiano Pasquale De Chirico , ficará nestas condições , se deteriorando cada vêz mais ?Este blog foi configurado para receber comentários e ou sugestões.O Verão está chegando. Venha curtí-lo em Salvador.Foto de Sarnelli

Minhas recordações da Maria Fumaça - 1a.parte



O P i r u l i t o 1ª. parte


Pirulito ? O que será o Pirulito ?Aquela bolinha de açúcar presa na ponta de um palito para a gente chupar ? Não ! Ou melhor, o que é que foi ? Ah,... uma grata recordação . Algo do passado que me volta à mente e me leva a fazer uma viagem no túnel do tempo. Retrocedo mais de meio século , na realidade uns sessenta e cinco anos e, portanto, volto à minha infância. Recordações de menino , mais fantasias da idade , acrescidas das emoções inerentes. Na realidade, tudo começava mesmo antes do início. Pode ser uma coisa dessa ? Pode, sim e eu explico....O Pirulito era uma composição ferroviária , um trem da antiga Leste Brasileiro , puxada por uma Maria Fumaça que arrastava atrás de si uma boa quantidade de vagões de passageiros e também de cargas e que saía da Estação de Calçada com destino a Alagoinhas, todos os dias. Se arrastando, passava pelo cruzamento da Baixa do Fiscal, Plataforma, Lobato, Mapele, Amado Bahia, Camaçari, Dias D’Ávila, Bonfim de Mata , Mata de São João, a nossa sede de veraneio de meio e de fim de ano. Meio tio Domingo chegou a ter uma fazenda, era pequena, mas era uma fazenda e até mesmo um alambique, onde destilava uma cachaça que batisou de “ Mocotó “ . Meu próprio pai chegou a ter uma fazendinha num local chamado Caboré , onde, aliás ficava o alambique do tio , ao lado de um rio de águas claras potável, mas esta já é outra história. Bem era uma festa, uma farra para mim, quando tinha que tomar o Pirulito e seguir para Mata de São João arrastado pelas mãos do meu avô materno. Ele saía à cinco da tarde e deveria demorar umas duas horas para nos deixar em Mata. Obviamente que não era uma ferrovia inglesa. Os horários eram algo versáteis...Ah, sim, eu comecei dizendo que a minha aventura começava antes mesmo de começar e era verdade. Não começava na estação do trem, em Calçada, não. Começava no Rio Vermelho a partir da avenida Oceânica 452 se não me falha a memória. Era o endereço do meu avô. É que, dali partia eu preso á mão ainda forte do meu avô , com a idade de cerca de pouco menos de 70 anos. Caminhávamos até o ponto do bonde, no início da avenida Oceânica onde funcionava o armazém do Seu Apolinário, um espanhol amigo da minha família. Hoje não existe mais. No seu local, está instalada uma vidraçaria. Bem, vamos em frente. Tomávamos o bonde para descer na praça Municipal , descíamos o Elevador Lacerda e, na Praça Cayru, tomávamos o bonde para a Ribeira, passando bem em frente à estação da Leste...Com certeza, na época, o Lacerda era bem mais veloz... Me lembro que, quando começava a descida, o deslocamento provocava um friozinho na barriga. Nas paradas, a mesma coisa. A finalidade era ir pegar o “ Pirulito “ em Plataforma , fazendo a travessia da enseada dos Tainheiros em canoa... Eu adorava aquele trajeto e sempre tinha pressa para não perder o trem, mas chegávamos à Plataforma e esperávamos um tempinho pelo “ Pirulito “, que entrava na estação apitando ou soando o sino... Sempre conseguíamos lugares para viajar sentados , embora mesmo as acomodações de primeira classe não fossem grande coisa...Acomodados, esperávamos o apito do Chefe da estação quando a Maria Fumaça resfolegava e começava, lentamente, a se movimentar.As pessoas viajavam bem vestidas, com o que tinham de melhor e tinham que se mostrar bem educadas. A bagunça toda estava na segunda classe onde as coisas aconteciam de qualquer jeito. Caipiras que voltavam para casa, ou melhor, tabaréus , como costumamos dizer, conduzindo trouxas , sacolas, malas velhas, caixotes e todos os tipos de trastes. Só não era permitida a presença de animais. Estes , deveriam viajar engaiolados e no vagão de carga. O resto, ora, valia tudo , até fumar, mascar fumo e cuspir no chão...!!! Enquanto aquele pessoal se acomodava nos bancos de madeira mesmo, na primeira classe nós tínhamos bancos relativamente espaçosos ( talvez por causa do meu tamanho de criança ) mas igualmente duros. Eram acolchoados , mas forrados com uma palhinha trançada que tornava a viagem meio incômoda, quase um tormento. Mas, valia tudo para ir à Mata com o meu avô !Piuiiii...piuiii...piuiii... um apito, uma descarga de vapor, um tranco o barulho de ferragens e chan chan, chan... a composição começava a se movimentar lentamente , aumentando o ritmo e a velocidade. Parecia que a paisagem se movia e que nós estávamos parados, fazendo com que o panorama passasse cada vez mais rápido pela janela do vagão. O momento que eu tanto esperava! Estava começando a minha viagem ! Em poucos minutos já estávamos em velocidade de cruzeiro , mas haveriam outras paradas no caminho, antes de chegarmos ao nosso destino e tomarmos o caminho de casa a pé, sob a luz de lampiões de carbureto, se a noite não fosse de lua .

Sarnelli – em 14.12.2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

Imagem da cidade





Em carrinhos como este , que você encontra espalhados por toda a cidade, claro que em locais de bastante movimento de pessoas ,você pode comprar um copo de " Munguzá - ( milho branco ) ", de mingau de Tapioca , mesmo de milho, ou outro qualquer , à vontade do Freguês...
Você encontra muito mais coisas pelas ruas...


Os carrinhos são confeccionados em aço inox.


Costume da Terra !


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Venha ver tudo de perto nas suas férias...


Foto de Sarnelli

Também temos torres gêmeas



Uma amostra da modernidade de Salvador . Deixemos o Pelô de lado e outras coisas do Centro histórico e vamos dar uma volta em novos bairros para onde a cidade se expandiu.
Aqui estão , no centro de umá área verde, na parte mais elevada do terreno, um par de torres gêmeas . Dois belos edifícios recém terminados de construir e ainda, certamente, não totalmente ocupados .
É assim Salvador , a primeira capital do Brasil, que mescla o passado com o futuro... Não parou no tempo !
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Venha ver de perto a mistura que há em Salvador. O contraste do antigo com o moderno, mas tudo lindo de se ver.
Foto de Sarnelli

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O incêndio da Feira de Água de Meninos



As feiras livres de Salvador são um assunto sobre o qual estou desejando falar, mas há pouco material disponível para mim, ou, pelo menos, ainda não o encontrei. Acho que já se falou de tudo. De certa forma, as feiras populares ficaram esquecidas. Poucas pessoas se interessaram pelo assunto, sem que tivessem feito a divulgação das suas histórias...que são, no mínimo, interessantes . De feiras populares tivemos uma importante e famosa que fez parte da história da cidade e agora temos a sua continuação , porém não na forma que seria desejável e definitiva.Estou me referindo, primeiramente , à Feira de Água de Meninos e , como não poderia deixar de ser, à de São Joaquim, ambas na parte baixa da cidade, ocupando terrenos juntos ao mar.A feira de Água de Meninos, não existe mais . Foi totalmente consumida pelo fogo e em seu lugar, anos depois , surgiu a de São Joaquim, um pouco mais adiante, que continua sendo a grande feira popular onde a população de baixa renda se abastece a preços convidativos , mas com algum sacrifício, pois as instalações são de barracos, caixotes , balaios, esteiras, e até sacos de aninhagem espalhados pelo chão com as mercadorias . Ali tem de tudo o que você possa imaginar...! Alguns saveiros, dos quais ainda restam, chegam diretamente à feira e entregam as mercadorias aos comerciantes, eliminando atravessadores , o que possibilita preços melhores... Mas eu já me adiantei um pouco, pretendo mesmo, é lembrar a feira de Água de meninos , que conheci pessoalmente. Era uma cidade de barracos de todos os tipos, dentro de Salvador , um verdadeiro labirinto , sobre um chão de terra, lama , limo , normalmente péssimo, imagine-se quando chovia. A Feira estava instalada sobre uma área aterrada , recuperada ao mar . Juntando-se a sujeira produzida pela própria feira, onde até mesmo animais eram abatidos e o seu sangue acabava misturado no solo com restos de tudo e cascas de frutas fermentadas , etc..A feira cheirava mal, muitas pessoas moravam nela, a quase totalidade dos feirantes, com famílias , e posso até mesmo afiançar que muita gente nasceu ali dentro ... Eu, com a minha mania de coisas da Bahia, novinho, recém- casado, um dos locais aos quais fiz questão de levar a minha jovem esposa, então com 23 anos foi, justamente, à Feira de Água de Meninos. Para mim, era o máximo, algo característico , coisa da terra , com a qual estava acostumado , mas , para a Paola , foi um desastre! Ela que vinha da Itália , que tinha morado em Grenoble, na França, e passado alguns anos em S.Paulo , morando em Santos, se apavorou quando viu o indivíduo suado, sem camisa , destrinchando um porco sobre uma taboa imunda e com uma enorme e afiada peixeira na mão , pés no chão no meio da lama !... Bem, continuamos o passeio depois deste meu desacerto, quase uma tragédia , e fomos para lá na Ribeira , uma das minhas paixões, com recordações de infância. Comprei um acarajé, mandei colocar pimenta e dei à Paola para experimentar...Nunca vi uma pessoa atravessar uma pracinha tão depressa ! Nem percebi e ela já estava no balcão da padaria pedindo um copo com água para apagar o incêndio da boca...Bem, vamos voltar à Feira de Água de Meninos ! Como disse, tinha de tudo, era o que hoje é São Joaquim , só que muito maior ...Mas, como sempre há um porém, se falava que a feira precisava sair dali . Conversas não adiantaram muito e, como sempre, acontece sem que ninguém saiba , nem como, nem porque. Houve uma coincidência (!). A cidade, evidentemente, não era a que é hoje...Naquela época, exatamente na área aterrada de Água de Meninos , estavam os depósitos de combustíveis para o abastecimento da cidade, da Esso, Texaco e Shell , aqueles tanques prateados enormes, que também deveriam sair do local , ou melhor da cidade ... numa noite que alguns insistem em dizer que era de lua cheia, no ano de 1964 , toda a feira ardeu numa fogueira só e eu acho que, se a lua estava cheia, era porque estava sendo iluminada aqui de baixo. Foi um fogaréu nunca visto em local algum com direito a explosões e a labaredas que, de repente, ganhavam as alturas , por pouco não queimando a lua ! Se estivesse um pouco mais pertinho... Os bombeiros, coitados, com o equipamento da época, mais a falta d’água e a dificuldade de entrar num labirinto cheio de lama e detritos, poucos ou quase nada puderam fazer. O mais prático foi mesmo esperar o fogo apagar por si, pois o que não faltou naquele incêndio fenomenal foi material inflamável , de fácil combustão , e iluminação...a própria fogueira iluminava o local. ! A fogueira, acho , podia ser vista da lua , do mesmo modo como a Muralha da China . Da Ponta de Itaipu, certamente. Lá do Alto de Santo António, sem dúvida e de outros pontos da cidade. Mas havia o temor de que boa parte da cidade viesse a explodir devido a vazamento de combustível dos tanques introduzido nos canos de esgotose galerias de água . Bastaria uma centelha e adeus boa parte da cidade baixa. Muita gente achou que o incêndio foi propositado e que serviu às duas finalidades. Os feirantes, como não podia deixar de ser, culparam a Petrobrás e começaram uma briga na justiça por indenizações , que nunca se resolveu . A feira de São Joaquim é a sucessora da de Água de Meninos e os tanques prateados , estão lá para as bandas de Mataripe...Em toda esta história, há uma coincidência estranha. Muitos prédios antigos do Centro Comercial que não podiam ser demolidos para a construção de novos , por serem considerados patrimônio histórico se queimaram espontaneamente , deixando os espaços para novas construções...Acreditam nisso ?Sarnelli ,10.12.2008Foto baixada da InternetNão deixe de visitar Salvador. As festa estão aí. Até fevereiro , é só festa !
Foto baixada da Internet

postado Sarnellii @ 06:49 0 Comentários
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Elevador Lacerda e mastros de saveiros na rampa



Mais uma foto antiga. Estamos vendo o Elevador Lacerda na sua majestosa imponência , fazendo fundo para uma quase floresta de mastros de saveiros ancorados na Rampa do Mercado Modelo. A Rampa, era o lugar de descarga e carga também, das mercadorias que as embarcações transportavam.
Como uma imagem vale mais que mil palavras, deixo a imagem e a dica de que, para ampliá-la, basta um clique sobre ela . Feito isto, use os cursores lateral e horizontal para passear sobre a foto e descobrir detalhes .
Recordando que o mercado sofreu três incêndios - O primeiro em 1922 , o segundo em 1943 e o último em agosto de 1969.
Lembrando que esta imagem em preto e branco, tem , no mínimo , 40 anos e que a precisão dos detalhes dependerão muito da qualidade do equipamento utilizado na época.
Foto cedida pela
Fundação Gregório de Matos
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Venha visitar a Salvador Moderna. O local onde existiu o antigo Mercado Modelo é um sítio histórico de inestimável valor. Visitu
ar Salvador, é adquirir cultura.
Texto de Sarnelli

Ainda o Mercado Modelo ( O antigo )



Esta foto é da lateral direita ( olhando o mercado de frente ) do antigo Mercado Modelo, aquele que foi totalmente consumido por um incêndio ... ao lado, a Rampa do Mercado , onde atracavam os saveiros e descarregavam mercadorias de todos os tipos . Claro que também levavam para o recôncavo , artigos adquiridos em Salvador, para o consumo das diversas populações.

O fim dos saveiros e também do Mercado Modelo, como centro de abastecimento, já estavam decretados pelo progresso . Caminhões , estradas asfaltadas , supermercados, descentralização do abastecimento , colocaram tudo na história . O Mercado Modelo tem a sua história, como também os saveiros , que fazem grande falta na paisagem da Baía de Todos os Santos ,com as suas velas brancas, se deslocando em todos os sentidos.Acabou a poesia...

O curioso é como , de um dia para o outro , algo desaparece do cenário , antecipando uma necessidade absoluta , uma vez que a área que ficou disponível serviu , perfeitamente bem, para a urbanização e organização de praça e pistas que alcançam a Av.do Contorno , que liga as duas cidades. Melhor, não podia ser !

Foto cedida

pela Fundação Gregório de Matos

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Não desperdice as suas férias deixando de vir a Salvador . Estamos em festa até fevereiro 2009.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O l a g a r t o



Não disse que tinha até lagarto gigante ? Olha ele aí, só que este é azul , mas tem de todas as cores. Aqui , basta um.

Bem, por hoje é só !

Clique sobre a foto para ampliá-la e depois use os cursores vertical e horizontal para ver detalhes


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Aproveite o fim de ano para vir conhecer Salvador, o lugar onde o Brasil nasceu.

Foto de Sarnelli
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Sabe onde estou ?



Você pode até pensar que estou num zoológico ou numa fazenda de criação...

Não, não estou. Esta foto foi tirada em um hospital aqui em Salvador , onde a minha primeira netinha esteve internada com um probleminha de bronquite.

É o Pronto Socorro Infantil. Os jardins têm uma decoração maravilhosa. Tudo ali é preciso , meticuloso. Note que a ave está com o pé direito enfaixado. Está doentinha, coitada ! E como as crianças acabam se distraindo com tantos bichos, aves ... Até lagartos gigantes tem por lá Vou colocar um na próxima foto.

Para curtir melhor esta foto , dê um clique sobre ela e depois utilize os cursores vertical e horizontal para esmiuçar os seus detalhes .

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Fim de ano está chegando. Estamos em festa até o Carnaval. Venha visitar Salvador .

Foto e texto de Sarnelli
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A Baía de Todos os Santos


Esta é a foto escolhida para hoje . Na verdade, é uma das minhas preferidas. Foi clicada da cidade alta e nos mostra uma paisagem onde aparece o telhado do Mercado Modelo , embarcações ancoradas nas águas tranquilas do porto de Salvador, um quebramar , o Forte de São Marcelo , navios ao largo à espera de atraçao e as águas azuis da Baía de Todos os Santos, a maior do Brasil . É ela que estamos vendo hoje . A Baía de Todos os Santos , vista numa simples foto , diz pouca coisa . É preciso vê-la ao vivo e a cores. A Baía de Todos os Santos tem um espelho d'água de mais de 1.000 Km2 e tem espalhadas na sua imensidão, 56 ilhas, sendo a mais importante e bastante conhecida , a Ilha de Itaparica.
A baía tem o nome de Todos os Santos porque era costume nomear as descobertas com o nome do santo do dia. A Baía de Todos os Santos foi descoberta no dia 1º de novembro de 1501 por uma expedição portuguesa e é atribuída ao navegador italiano Amerigo Vespucci.
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Foto de Sarnelli

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Rampa do Mercado Modelo ( o primeiro )


Foto da época ( é claro ) em que os saveiros abasteciam o Mercado Modelo que não existe mais , que era o centro de abastecimento da cidade . Os saveiros iam e vinham constantemente de localidades do recôncavo refazendo o abastecimento e se entulhavam no espaço da rampa em números exagerados. Dezenas deles grudadinhos uns nos outros . Eles foram, durante muito tempo, os responsáveis pelo abastecimento da cidade . Faziam parte da paisagem e enchiam a Baía de Todos os Santos de muita vida e movimento. Inspiravam poetas ! Reinaram até que o progresso veio. O asfalto , os caminhões , decretariam a extinção deste meio de transporte característico da Bahia. Não apenas traziam, como levavam para o recôncavo. A cena impressa na foto que ilustra este texto, é desconhecida pela maioria dos baianos de hoje . Se restaram alguns saveiros , serão uma meia dúzia utilizados em transportes de materiais de contrução entre as ilhas. Muitos deles foram reformados e transformados em escunas que navegam pela Baía de Todos os Santos em passeios turisticos, claro que nos meses da estação.
Foto gentilmente cedida
pela Fundação Gregório de Matos
Estamos no nosso período de festas . Venha ver como se vive por aqui. E a virada do ano e o carnaval, o maior do mundo, estão chegando. Fique esperto . Garanta logo o seu passeio.
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Sarnelli, 08.12.2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

Os nossos dois Mercados Modelo - Salvador


Os Mercados Modelo de Salvador




O primeiro Mercado Modelo foi inaugurado em 09.12.1912 e passou a ser o grande e principal centro de abastecimento da cidade. Nele, se comercializavam todos os tipos de mercadorias , o que chamamos por aqui de secos e molhados; cereais , cerâmicas, verduras, peixes, carnes , artesanatos , enfim , de tudo e até confecções. Nele ainda estavam embutidos um café , alguns pequenos restaurantes ... Os gêneros chegavam trazidos por saveiros, de localidades do recôncavo . Tais embarcações eram projetadas para navegarem em águas rasas , como rios e para poderem chegar até uma praia e até mesmo encalhar nela com a maré alta, realizar a descarga durante o período de maré baixa , e sair na nova maré alta. Eram impulsionadas a vela. A depender do tamanho, transportavam grandes quantidades de mercadorias . Havia centenas deles que cruzavam a Baía de Todos Santos, todos os dias da semana, do mês, o ano inteiro,criando um visual inesquecível – Velas brancas, que se movimentavam , sopradas carinhosamente pelos ventos da Baía de Todos os Santos , em todas as direções inspirando poetas e sonhadores . Melhor ainda, deixando muitas saudades... Para o abastecimento do Mercado Modelo, aportavam ao seu lado, numa localização que ficou conhecida como a “ Rampa do Mercado Modelo “ , que existe até hoje, mas, evidentemente que sem a mesma função. Este primeiro MM foi vítima de, pelo menos, sete incêndios.O primeiro, aconteceu em 1922 . O último, em 1969 , Este, destruiu completamente aquele centro de abastecimento. No entanto, já estava mesmo condenado pelo progresso. Dentro em pouco, seria substituído pelos supermercados , o abastecimento viria pelas estradas asfaltadas por meio de caminhões e , com o crescimento da cidade e da população com a conseqüente descentralização , perderia mesmo a sua função .

O atual Mercado Modelo ,mudou de local e de ramo ! Foi instalado em um prédio antigo, construção de 1861 , porém na mesma área e bem em frente ao antigo , onde havia funcionado a Alfândega de Salvador e é um monumento tombado pelo Patrimônio Histórico. Também este , sofreu um incêndio de proporções, mas foi restaurado e hoje é local de visitação obrigatória de turistas que passam pela cidade e que têm que levar uma lembrança da Bahia. Dentro dele estão mais de 260 lojas de artesanato , dois restaurantes famosos , alguns bares . Pelo Mercado Modelo passam personalidades ilustres que não podem vir à Bahia sem dar uma passadinha no Mercado Modelo . A Rainha da Inglaterra, esteve lá.

A área onde existiu o primeiro Mercado Modelo foi reurbanizada , na fonte do Mercado, foi colocado um monumento de autoria do Artista Plástico Mario Cravo . No centro da Praça Cayru, já existia e lá está, um monumento em homenagem ao Visconde de Cayru ,inaugurado em 1934 , de autoria do escultor italiano Pasquale de Chirico. Enfim, a área onde se encontra o Mercado Modelo é, simplesmente, um museu a céu aberto. O mar batia no sopé da montanha. A área foi recuperada e utilizada da melhor maneira possível . É um sítio histórico . Começa que o bairro é o da Conceição da Praia, onde está a igreja do mesmo nome, mandada construir por Tomé de Souza, inicialmente em taipa. A Capitania dos Portos e Escola de Aprendizes de Marinheiroscomn o seu belo prédio, estão naquela área , O Mercado Modelo, Já sabemos.O Elevado Lacerda , outro importante cartão postal da cidade, desemboca, na parte baixa, na Praça Cayru e um casarão totalmente revestido de azulejos portugueses , está sendo recuperado para a instalação de um hotel de alto nível, mas manterá o seu apecto externo original. Não dá para esquecer o casario colonial que ainda existe no bairro em cores alegres e distintas, que alegram o local.

A foto que apresenta este texto é do último incêndio do Mercado Modelo. Dá para ser ver a rampa, saveiros , e, ainda, um abrigo de bonde na sua frente , na Praça Cayru.

A foto é gentileza da Fundação Gregório de Matos.

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Uma dica: clique sobre a foto para que ela se amplie e use as barras vertical e horizontal para passear sobre ela.

Sarnell, em 07.12.2008

Uma dica para os visitantes do meu blog




Para tirar maior proveito das fotos , dê um clic sobre cada uma delas e depois use as barras vertical e horizontal para explorar os detalhes da imagem . Experimente com esta foto . Dê um clique sobre ela, e veja como amplia. Depois , é só passear sobre a imagem , curtindo detalhe por detalhe.



Este blog foi configurado para receber comentários e sugetões. Se desejar uma determinada foto de Salvador, dá a dica . Vou fazer o passível para colocá-la no ar, com a descrição .

Esteja esperto. Estamos em dezembro, a festa da virada vem aí. Venha participar dela, que acontece na orla marítima .

Foto de Sarnelli
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Parcial do Centro de Salvador, cidade alta

Na foto, estamos vendo a confluência de diversas ruas ( e praça ) ainda no Centro Histórico de Salvador. A faixa asfáltica que aparece em primeiro plano é um declive que sai da Rua Chile , uma via muito famosa, que perdeu a sua importância com o crescimento e a expansão da cidade em todas as direções, em demanda das avenidas de vale... Mas ela já foi a mais conhecida e importante de Salvador. À direita , fora da foto, está o conjunto escultórico de Castro Alves , em posição declamatória. Onde o asfalto se divide, à esquerda e fora da sua visão , está a Ladeira de São Bento e, seguindo em frente , a Rua Carlos Gomes . Onde termina o calçadão da Praça , virando à direita, está o que podemos considerar o final ou começo da Ladeira da Montanha a depender do sentido em que se pretende transitar. Hoje ela só recebe tráfego vindo da cidade baixa para a alta. Em outros tempos, quando os veículos eram quase uma raridade na cidade, e a população se transportava em bondes elétricos, o tráfego se fazia nos dois sentidos. Era, na verdade, a única opção , pavimentada com paralelepípedos , que, com a constância do uso, se tornavam lisos. Quando chovia um pouco, os carros costumavam derrapar e até mesmo bater uns nos outros ,na subida ou mesmo na descida, no final da ladeira, na parte baixa da cidade. Me lembro que era necessária muita habilidade para iniciar a subida da ladeira. Não se podia forçar muito o acelerador, da mesma maneira que, na descida, não se podia pisar no freio com uma certa violência...Hoje, o seu revestimento é asfáltico e, evidentemente, o problema não existe mais . Hoje existem outras vias para se alcançar o conhecido " comércio " , na cidade baixa, a partir de diversos outros pontos da cidade. No entanto, a Ladeira da Montanha, que passa por baixo do vão do Elevador Lacerda, ainda é uma das principais vias de ligação entre os dois níveis da cidade. O Belo edifício que se vê onde o asfalto se divide , é o SULACAP . Localiza-se entre a Ladeira de São Bento e Rua Carlos Gomes.

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O ano está acabando . Venha participar da virada do ano em Salvador .

Foto de Sarnelli
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sábado, 6 de dezembro de 2008

Elevador do Taboão

Aposto que a maioria da população baiana desconhece que, dentre os cinco ascensores públicos que movimentam a população entre as cidades alta e baixa de Salvador, um deles não funciona e que é uma peça de inestimável valor histórico . Ele ligou, num passado já longinquo , a parte baixa do Taboão, daí o seu nome, que , em questão de segundos, tirava as pessoas da parte baixa do Pelourinho e as colocava diretamente já na zona do comércio. Como é hábito , costumamos abandonar o nosso partimônio à própria sorte ,deixando-o a mercê do tempo , que, lentamente , acaba por dar fim ao material, principalmente quando a estrutura é de ferro ou mesmo de aço. Está sendo assim com o Elevador do Taboão. O Taboão é uma área de comércio, na parte baixa do Pelourinho.
Na foto , é aquela estrutura tubular de ferro , pintada de amarelo, onde se movimentava uma única cabina por meio de um sistema de tração interessante. Certamente que havia um motor, mas ele era acionado por um operador que viajava na cabine com os passageiros. Atravéz do teto e passando pelo piso, havia um cabo de aço que precisava ser acionado manualmente , tanto para subir a cabine, como para descê-la. Quem viu, como eu, viu... Quem não viu, venha correndo para ver o que ainda resta do antigamente famoso Elevador do Taboão. Como se vê, o desnível entre o Taboão e a cidade baixa não é grande, mas para se fazer o percurso a pé, ele era longo e demorado. Era preciso enfrentar duas ladeiras.Quando será que as nossas autoridades vão enxergar que temos em mãos mais uma atração turística ?
Sarnelli

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Foto de Sarnelli.
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O Remorso e Sarnelli



Fui fotografado ao lado de um trabalho do meu avô materno , o escultor italiano Pasquale de Chirico, antigo morador do Rio Vermelho, em endereço da Av.Ocêanica . Este trabalho se encontra bem em frente à porta principal da Escola de Belas Artes da UFBA, no bairro do Canela, e a denominação de " Remorso " se deve mesmo ao fato de que a imagem, apresenta o semblante de alguém em conflito. Existem duas cópias, ambas originais,fundidas em bronze, deste mesmo trabalho. A outra , está no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória. Pasquale De Chirico, é o mesmo autor do Cristo da Barra, da estátua do Barão do Rio Branco na praça de São Pedro, da estátua de Castro Alves , do conjunto escultórico em homenagem ao Visconde de Cayru na praça do mesmo nome, do busto do Bispo Don Pedro Fernando Sardinha que se encontra na Praça da sé, do monumento ao imperador D.Pedro II que está no jardim de Nazaré e de muitas outras obras espalhadas pela cidade. Muitos trabalhos, ele os realizou na antiga Escola de Medicina da Bahia, o verdadeiro motivo da sua vinda para Salvador. Poderia ter deixado para nós mais um belo monumento em homenagem à Ruy Barbosa. Participou da concorrência pública, venceu o concurso, mas não houve dispobilidade financeira para a realização da obra. A maquete com a qual Pasquale venceu o concurso, está no acervo da Casa de Ruy Barbosa, no Centro histórico de Salvador.
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Foto clicada por um amigo ( do acervo de Sarnelli )

O casarão da família Taboada no Rio Vermelho


O casarão dos Taboada no Rio Vermelho



Procuro na lembrança da minha infância no Rio Vermelho , um dos mais antigos bairros da cidade, hoje reduto de artistas e paraíso dos boêmios, local de baianas famosas do acarajé, onde já houve até uma guerra por causa dos bolinhos de feitjão , e de alegres noites vividas nos bares e restaurantes que abundam na área , principalmente nas vésperas de feriados e fins de semana .
As minhas recordações, tênues , vêm de um tempo em que , morando onde morava, chegar até a praça da igrejinha de Santana, era algo que não se fazia, mas,assim mesmo, de vez em quando, eu ia, com o meu avô materno, o Pasquale especificamente para comprar salame , algo difícil na época, porque em Salvador não havia coisa alguma , principalmente que prestasse ! Antes de mais nada, é conveniente situar no tempo, o começo desta história , Eu devia ter uns dez anos , o que , automaticamente estabelece que começa há 67 anos , o que quer dizer , no ano de 1941 .época em que o bairro era no fim do mundo , com relação à cidade e o mundo estava em guerra lá pela Europa, Ásia. Brigavam a Alemanha , a Itália, a França , o Japão a Rússia , Estados Unidos, mas era algo que não interessava a um garoto de apenas dez anos. A preocupação era dos mais velhos, que tinham sempre um probleminha de ordem política, a depender da sua nacionalidade.Mas, vou retomar ao fio do meu novelo. Rio Vermelho era , além de uma colônia de pescadores, apenas local de veraneio da turma que passava o ano na cidade e só aparecia por aqui nas férias do meio do ano dos colégios e, naturalmente , do fim de ano e para passar o verão tomando banhos de mar e bastante sol , e por onde passava o bonde que ia até Amaralina o n.16. Fora da época de veraneio, era um bairro morto, uma verdadeira cidade do interior , com poucos moradores. Naquela época, funcionava a velha Pastelaria do Sr. Taboada, também a venda do Seu Astério. No largo de Santana, onde está a Igrejinha, acontecia uma festa todos os anos com quermesses , que reunia os poucos moradores do bairro . Tinha a missa aos domingos e feriados e todos cabiam dentro da velha igrejinha . Ninguém ficava do lado de fora. A festa mais importante , ou única, que tínhamos, era comemorada com as quermesses na pracinha e com um banho de mar a fantasia que reunia uma meia dúzia de gatinhas em cima de um caminhão que ia de Santana ao início da av.Oceânica, ao som de uma banda desafinada, mas que fazia a alegria de todo mundo As meninas, com fantasias de papel crepom que, logicamente, na hora do banho de mar na praia de Santana se desfaziam com facilidade. Era uma praia saudável, água limpa e,claro, não se conhecia algo que hoje tornou a tal praia imprestável: a poluição, que veio com o progresso. Com os anos, o que foi um dia um banho de mar a fantasia, se transformou e tomou a dimensão que tem hoje a festa de 2 de fevereiro , quando todos nós vamos prestar as nossas homenagens a Yemajá, uma grande festa que só perde para o carnaval de Salvador, a maior festa de rua do mundo. Puxa, mas eu comecei falando do casarão dos Taboadas que continua de pé após longos anos de abandono e que há algum tempo, aliás há pouco tempo, começou a ser reformado, pois tomei conhecimento de que ali deveria surgir uma pousada. Houve muito trabalho , muito cascalho foi levado embora em containeres, mas as obras, curiosamente, pararam de uma hora para outra , elas que andavam em ritmo acelerado ! . Estranho, não ?... Encucado , enchi a minha cabeça de interrogações . Queria ver aquele belo casarão voltar à vida , como aconteceu com o do Villa Forma , mas os trabalhos continuam parados. Vim a saber, através de morador bem informado, que deu zebra!. Os dois sócios ingleses que estavam investindo na obra, tinham a sua grana em New York , em ações...De um momento para outro , a zebra entrou em cena atropelando os investidores que se pensavam tranqüilos. Elas mexeram com o mundo todo . Culpa de um tal de Mr. Bush ? Agora, o casarão , que já abrigou, também moradores avulsos e, pelo menos duas padarias , a de Jesus e a de Firmino que foi desacelerando até chegar ao ato da entrega do prédio , está , novamente , à venda .Ah, e teve também a “ Roxinha num pequeno espaço do térreo, com porta abrindo para a rua, com os seus bolinhos de estudante , acarajés e abarás.
Fala-se que pedem 1,5 milhão. Talvez valham os trabalhos que já foram realizados internamente ( a parte externa só pode ser recuperada, sem modificações. Salvo engano, o prédio foi construído em 1902 ) mas, quem tem dinheiro para a tal aquisição e para prosseguir, ainda por cima, com o mesmo projeto ? Ali, deveria surgir uma pousada..o que seria bom para o bairro , Ficou difícil e o que se prevê, é que, por mais alguns longos anos, o casarão dos Taboada ficará no ponto em que parou. Uma pena , mr. Bush !...
Bem,e a história minha e do meu avô ?Voltamos a ela. Volta e meia aparecíamos na pastelaria e, quase sempre, para comprar o salame , Vez por outra, uma lata de sardinha de qualidade duvidosa ,e até salsichas enlatadas da marca Swift ... Algo que nunca me esqueci, foram as mesas com tampos de vidros com tela de arame e os pés de ferro fundido em tripé trançado ,imitando galhos de árvores, pintados de verde, As mesas ficavam nos fundos , ao ar livre, onde a cervejinha era tranqüila. Meu avô só bebia ocasionalmente. A clientela era grande e a beleza e a tranquilidade do local proporcionava horas de boa conversa com, evidentemente, o consumo de diversas garrafas de cerveja, Muitos clientes chegavam à cavalo, deixavam as suas montarias na porta do estabelecimento com as rédeas presas a uns paus colocados ali exclusivamente para esse fim. A maioria, chegava a pé mesmo ... . Naqueles tempos, ninguém tinha pressa e todos tinham muito para contar, principalmente piadas , e das boas...Se faziam rodas intermináveis !Conversa vai conversa vem, tomávamos o rumo de casa , na frente da qual construíram o Sukiaky , na Av,Oceânica, levando o nosso salame cortado em fatias exageradamente grossas , do jeito que os espanhóis cortavam, fosse lá o que fosse. Fazíamos uma festa, comendo um sanduíche de salame, embora na época este produto não fosse grande coisa . Só com o tempo, com o passar de muitos anos, as coisas foram melhorando em matéria de abastecimento e qualidade de produtos.... Quem não viveu aqueles anos , não faz idéia do que eles foram. Hoje compramos em supermercados tudo o que queremos e imaginamos. Tudo embaladinho e direitinho, com direito a reclamação no Procom... mas, “ naqueles tempos “ as carnes ficavam penduradas em ganchos nas portas dos açougues, à disposição das moscas e quando você comprava um pedaço, o levava para casa enrolado em jornal velho, tente imaginar só isto !... aquela época foi dura para este tipo de coisa ! Se foi!... Voltando àquela turma da cerveja lá nos fundos, se bebessem um pouco a mais, não tinha importância. Os cavalos os levariam de volta para casa, com toda tranquildade !.. Sarnelli , 06.12.2008