quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Como eram as festas de São João antigamente





Como eram as festa de São João


Como tudo muda o tempo todo, também as festas foram se modificando com o passar dos tempos. Como o São João era diferente !... Mesmo antes do mês de junho já começávamos a ver balões pelo céu escuro ,mas pontilhado de estrelas , levados pelos ventos, nunca soubemos para onde . Certamente que muitos iriam cair no mar e nunca ouvi dizer que algum balão tivesse caído no mato e incendiado uma floresta .. Eles não eram tão grandes assim e só começavam a cair quando as suas buchas apagavam, fazendo-os perder pressão. Assim , chegavam de volta ao solo sem causar danos. Pelo menos, naqueles meus tempos de criança , era assim. O que eu me lembro, é que o céu coalhava de balões, que eram dedicados a São João e também a São Pedro , que ainda não havia tido a sua festa cassada. Nós soltávamos balões até o 2 de julho...
Era lindo, lindo de morrer ! O São João, o sentíamos no ar. Era esperado com ansiedade Como tudo começa pelo princípio, também eu vou ter de começar desse jeito. Então, vamos lá ...

Era uma vez...teve um tempo em que eu era um menino levado, em que só pensava em todas as festas que aconteciam durante o ano. Ansiava pela chegada do São João para ganhar fogos e poder soltá-los junto com os balões que nós fabricávamos em casa... fazíamos o nosso quartel general na casa de um, onde , munidos de papel de seda , cola feita com goma , tesouras e facas , sobre uma grande mesa ,começávamos, um mês antes, a fazer balões de diversos modelos, mas não muito grandes. Precisávamos de arame para a boca, que era o suporte da bucha e apenas mais, só de tempo, à espera dos dias da festa . Enquanto isso, produzíamos os nossos balões , dos quais, uma parte, era dedicada a Sto. Antônio...que nunca foi esquecido. São Pedro também ganhava alguns...
As famílias também se preparavam para as festas juninas que começavam com as novenas à Sto. Antônio, depois São João e São Pedro, mas sempre foram estendidas até o dois de julho. Era preciso preparar as comidas e bebidas tradicionais das festas juninas : milho cozido, canjicas , sempre polvilhadas com canela em pó ,bolos de milho, de carimã , licor de jenipapo à vontade porque a festa era, vamos dizer assim, comunitária .As famílias concorriam para apresentar a melhor canjica do pedaço. O costume era a troca de pratos e, então, era aquela variedade de várias procedências. Todas as comadres e amigas mandavam, uma para outra. e era preciso comê-las porque não podiam demorar já que azedavam e, naqueles tempos, não tínhamos os refrigeradores de hoje .Tudo dava trabalho, pois não existiam os recursos modernos. Era tudo na marra mesmo, na mão grande. Era necessário mesmo ralar os cocos e os milhos. A geladeira funcionava com um bloco de gelo comprado na porta de casa , na passagem do carro que fazia a distribuição. Era algo rudimentar. Fazia mais sujeira do que gelava alguma coisa ...
As portas ficavam abertas e todas as casas do bairro acessíveis a quaisquer pessoas que desejassem entrar ,mesmo desconhecidas , para tomar um licor que podia ser de jenipado, de laranja ou outro qualquer e comer alguns pedaços de canjica ou de bolo, chupar uma laranja ou uma tangerina . Comer ainda alguns amendoins cozidos ou mesmo torrados , que eram um problema : quanto mais você comia , mais queria e não havia meio de parar...
O negócio, ou melhor, a brincadeira , era ir de casa em casa comendo e bebendo e participando da folia . Se alguém faltasse, a comadre reclamava a ausência , enfim era uma festa alegre e comunitária, só que nas casas de cada um.A ausência de alguém, podia, até mesmo, gerar um desconforto temporário...
Sim, claro que sempre tinha uma fogueirinha na porta para ajudar a aquecer o ambiente, acender os fogos, assar o milho e mesmo as castanhas de caju que eram jogadas nas brasas. Todas as famílias faziam questão absoluta de receber os amigos e os vizinhos e mesmo os desconhecidos eram benvindos, Era uma ofensa, faltar...ou mesmo não aceitar os convites.
Numa festa de São João, era claro que não poderiam faltar os caipiras com os seus chapéus de palha ,com menos um ou dois dentes , calças remendadas e a caipirinha de tranças para dançar em torno da fogueira e mesmo uma quadrilha. As quadrilhas do meu tempo de criança, eram bem diferentes daquelas que existem em Brasília. Aliás, naquele tempo não existia Brasília. Quem sabe se era por isso que só existia a quadrilha de São João ?
As ruas ficavam cheias de fogueiras, grande e pequenas. Alguma apagavam logo e outras ardiam a noite inteira, até o dia seguinte. Durante a noite inteira uma grande animação , soltura de foguetes, soltura de balões e o céu enfeitados de tantas luzes que se movimentavam levadas pelos ventas. Nós soltávamos os nossos. Alguns subiam, outros não e uma parte até mesmo pegava fogo ainda nas nossas mãos. Eram balões de diversos tipos e coloridos. Alguns levavam lanterninhas penduradas, enfim, olhar para o céu, era olhar um espetáculo.Passado o São João, os balões , nos céus , iam rareando até que desapareciam...
As canjicas eram feitas nas casas mesmo e davam um trabalhão . Tomavam muito tempo . O milho demorava para cozinhar na fogueira e os outros doces feitos na cozinha, também eram feitos em fogões à lenha . Apesar do trabalho, toda a comunidade vibrava de felicidade.
Mas as coisas mudaram. O progresso tirou os balões dos céus . A canjica não é feita mais em casa . Você pode comprar na padaria ou em uma delicatessen e os licores, há centenas de marcas industrializadas que você pode comprar . Com dinheiro, pode armar a sua mesa com o que quiser, sem o mínimo esforço , mas não é a mesma coisa ! Se você quiser, ainda pode comprar um pacotinho de canjica pronta no supermercado e fazê-la em casa. Ficou tudo mais fácil, mas perdeu a graça !

Não precisa ir muito longe não . Aqui perto de casa há uma delicatessen , coisa moderna, onde você encontra de tudo. Só na entrada você endoida. Não sabe o que escolher. Então, para que tanto esforço e encostar o umbigo no fogão ? O pior é que as coisas não são mais genuínas. Numa loja, ao meu lado, uma senhora comprava essências e, pasmem, até de jenipapo, que é uma fruta tipicamente junina e tradicional, pelo menos na Bahia. . Quanta porcaria rola por aí em nome da modernidade e da praticidade !

Voltando um pouco atrás, o momento da soltura do balões era importante. Precisava abri-los. Uma roda de pessoas segurava-os , uma pessoa cuidava das buchas untadas com querosene , colocava-as nos suportes e as acendia. Era preciso que as buchas acesas estivessem rigorosamente centralizadas para não queimar os balões no chão. Depois, com a bucha acesa, era só segurá-los enquanto pegavam pressão e depois deixar que subissem sozinhos. Não precisavam de impulso Eram os momentos da algazarra, da gritaria , enfim os momentos culminantes da festa . Ver os balões subirem. Era um momento de vitória . Os balões subiam, e subiam, e iam se encontrar com os outros que já estavam passando pelos céus.Quanto tempo ficariam no ar, ninguém sabia!Aquele que tivesse um furo, logicamente não iria muito longe. Era uma glória fazer todos os balões fabricados subirem...
Um dos momentos mais agitados das festas juninas era quando a meninada percebia que um balão estava caindo por perto do seu pedaço. Começava a correria para pega-lo. Via de regra, a disputa era tão grande que, do balão, caído, só sobravam mesmo pedaços de papel de seda enegrecidos pela fumaça da bucha...
Hoje,. Ainda existe o São João , Santo António não é muito festejado, só ganha as rezas das novenas e São Pedro foi cassado. Os balões estão proibidos devido aos riscos que apresentam para a cidade grande, moderna e para as refinarias de petróleo.

Eu costumo dizer que nasci num mundo, fui criado nele e hoje vivo em outro , fora do meu tempo, mas não me queixo...Nasci no tempo e na hora certa...

Mas o São João não tem graça sem a presença do sanfoneiro e das quadrilhas ( proibido pensar em Brasília ) que fazem a alegria do povo e anima para atacar a canjica e o licor de jenipapo.. A sanfona é a dona da festa, agita a turma e coloca a quadrilha nos tablado.São as quadrilhas que mais agitam a festa com todo o ritmo do forró, todo o seu colorido e com os concursos com os pares vestidos à caráter junino .

Ah...! E o casamento na roça ? Tinha que ter a figura do delegado com a espingarda nas costas do noivo, porque ele tinha que reparar um mal feito e tinha que pagar por aquilo. Onde já se viu deixar um malfeitor impune ? Tinha que casar, nem que fosse com o cano de uma espingarda nas costas...

Há costumes violentos em cidades do interior onde ocorrem as batalhas de espadas , que causam dezenas de vítimas todos os anos, por queimaduras de vários graus . Espadas são grandes rojões e com elas são feitas guerras em diversas cidades. Felizmente, aqui na capital não existe este costume. A guerra é tão violenta e perigosa que os participantes se protegem com luvas de couro, óculos, capacetes e outros bregueços de segurança . Mas, mesmo assim, sempre há vítimas. Algumas perdem dedos, até mãos . É um divertimento muito arriscad , mas é tradicional.

Aqui na capital, também há festas à moda do interior. É montada toda uma estrutura para receber milhares de pessoas para brincarem o São João com tudo o que têm direito. Só precisam mesmo é ter dinheiro no bolso , disposição, preparo físico e vontade de encher a cara !Aqui na capital, é reproduzida uma cidade do interior onde tudo acontece com a presença de milhares de pessoas.

Sarnelli , 06.02.2009

4 comentários:

Carmela disse...

Bons tempos.A festa na verdade começava com os preparativos para a comilança . Nesses tempor modernos as iguarias são compradas prontas nos mercados na Perine, coisa mais sem graça!

Sarnelli disse...

Carmela, relatei os fatos do meu ponto de vista de criança ansiosa pelas brincadeiras ... na verdade , as comilanças eram um outro departamento - Como você disse : hoje a coisa não tem graça nenhuma !

Anônimo disse...

antigamente era mas divertido pois todos participavam sem mas nem menos




Anônimo disse...

são joão quase se acaba; violencia nem se fala; mas sonhar sempre é uma virtude é é bom torná-la uma grande fantasia, além da imaginação.