Conheça Salvador de ontem, de hoje, seus monumentos, suas paisagens , suas curiosidades, seus encantos , suas tradições, suas festas populares e o maior carnaval do mundo.
Debruçado sobre a amurada da praça Municipal, ao lado esquerdo do Elevador Lacerda, olho para baixo em direção à Praça Cayru . Me espanto ao ver quanta coisa está concentrada naquele espaço da Conceição da Praia , um dos mais antigos locais de Salvador. É um museu a céu aberto , na cidade baixa , e quase ninguém percebe !
Aquela área da Conceição da Praia, concentra grande parte da história da cidade . Primeiro, porque toda ela foi recuperada ao mar e segundo porque se olharmos com atenção , casarão por casarão , prédio por prédio , faremos uma viagem no túnel do tempo e veremos o saldo do trabalho dos nossos antepassados e o que deixaram para nós, que as nossas autoridades estão deixando que o tempo, na sua ação lenta e constante, está destruindo . Não são apenas os bens materiais , mas a história que vai se apagando aos poucos. Antes de descer , dou uma olhada em volta: o palácio Rio Branco, com quatro obras do Pasquale , a Câmara dos Vereadores, o prédio da Associação dos Empregados no Comércio e a estátua a Tomé de Souza. Coisas lindas e significativas. Me encaminho para a entrada do Elevador Lacerda , talvez o maior cartão postal da cidade . No local onde deveriam existir dois belos prédios, onde funcionaram a Imprensa Oficial e a Biblioteca Pública, que foram, inexplicavelmente, demolidas, está a sede da Prefeitura , um amontoado de ferros que não combina absolutamente com a bela praça e o seu estilo , ainda pavimentada com paralelepípedos com os trilhos do bonde que parava na porta do elevador, à vista ...É verdade que os dois prédios não atendiam mais às suas funções, mas poderiam ter-lhes dadofinalidades sociais ... Que instalassem a Prefeitura em outro local, mais apropriado.
Passo pela catraca livremente, pois tenho direito a transporte público gratuitamente . Faço o trajeto em poucos segundos até a cidade baixa, saindo na Praça Cayru . Vamos ver ? O elevador Lacerda, por si só , saindo do chão da praça Cayru e elevando-se aos seus 72 metros de altura, já é um monumento ! Uma obra arrojada ! Ao meu lado direito, um belo casarão , todo revestido em azulejos portugueses em azul e branco, em fase de recuperaçãoe que será transformado em um hotel de classe. Na minha frente , o atual Mercado Modelo ,que ocupa um casarão onde funcionou a Alfândega ,centro de venda de artesanato , curiosidade e visita obrigatória de quem vem à Salvador. De frente para o Mercado, o monumento ao Conde dos Arcos, de autoria do escultor italiano Pasquale De Chirico, inaugurado em 28.11.1934 . Mas não é só isso. No espaço onde existiu o primitivo Mercado Modelo , vítima de diversos incêndios , uma obra do escultor Mario Cravo , mas o destaque na paisagem fica por conta do belo prédio onde funciona Capitania dos Portos do estado da Bahia e Escola de Aprendizes de Marinheiros , bem ao lado da famosa rampa do Mercado modelo , onde atracavam os saveiros que movimentavam a economia baiana em outros tempos. Finalizando, mais um destaque: a igreja de N.Sra. da Conceição da Praia, mandada construir por Tomé de Souza, o fundador da cidade , inicialmente , em taipa e, posteriormente , em blocos de mármores, talhados um por um , em Portugal , e de lá trazidos apenas para serem montados . Durante algum tempo, os restos mortais da Irmã Dulce, o Anjo bom da Bahia, repousou na base de um dos seus altares. Como se tudo isto não bastasse, na paisagem, se insere o Forte de São Marcelo e a antiga estação de embarque de passageiros. O mar que se vê, é o da Baía de Todos os Santos, com as suas mais de 50 ilhas. Se desejar algo mais, fique de costas para o mar e olhe para o alto para ter uma visão panorâmica da cidade dos dois andares.
Não foram moles não Nem sei como é que fui parar lá. Não me lembro. Não consigo . Vou fazer um esforço para me lembrar das coisas da época porque a nossa vida foi muito difícil, minha e de Paola, a camisa 10, que segurava a barra da nova família que estava se constituindo. Antes de mais nada, vou dizendo que incluo esta parte da minha vida no meu “ antigamente era assim “ ou foi assim . Duro de roer. Foi em maio de 1959 , precisamente no dia 4, que acomodei o trazeiro naquela cadeira pela primeira vez, com o cargo de Chefe do Setor de Compras e Abastecimento, que não era aqui não. Era no fim do mundo. Fim do mundo que ficou perto para nós, hoje, mas onde, antigamente, só se chegava após uma viagem sacrificada . Fiquei por lá até outubro de 1960 . Estávamos nos instalando numa área que estava sendo desbravada e conhecida como Granjas Rurais Presidente Vargas , onde os terrenos eram vendidos a preços de banana . Se tivéssemos tido uma visão mais avançada, teríamos feito barba e cabelo . Naquela época, ninguém acreditava na Pituba e veja o que ela é hoje ! Bem, mas o assunto é o meu trabalho , a minha passagem pela empresa que instalamos naquele cafundó do Judas. Era tempo de pioneirismo. A empresa que estava chegando a Salvador tinha mesmo que se instalar no fim do mundo , principalmente depois do incêndio da Feira de Água de Meninos . Os tanques de combustíveis que estavam por lá, já estavam sendo transferidos para Mataripe. Depois da fogueira, e que fogueira, de Água de Meninos, nada mais de inflamáveis dentro da cidade. Certo. E, por causa disso, fomos instalar os nossos tanques em Campinas de Pirajá, que hoje é ali. Gente, para chegar lá, era um inferno ! Só havia uma opção , que era a estrada de rodagem – a saída de Salvador para o interior. Até o Largo do Tanque, tudo bem . Depois ? Zebra !... Do Rio Vermelho, da minha casa , para o terminal, era uma aventura e eu não podia , em hipótese alguma, correr o risco de perder o meu transporte, uma Opel, n. 181 da frota. A viagem era alegre e divertida por causa das brincadeiras e piadas com os companheiros mas, se perdesse a hora, era uma tragédia. Era melhor não ir, porque, ainda que tudo corresse bem, chegaria ao destino na hora de voltar. Imagine só : pegar um bonde no Rio Vermelho até a Praça Municipal, descer o Elevador Lacerda e pegar outro bonde até Calçada. Lá, esperar por dos dois ou três ônibus que faziam a linha Pau da Lima,via São Caetano , que só aparecia de hora em hora. Ainda assim, esperar o ônibus não era nada. Já cansado, tinha que enfrentar uma fila estranha e curiosa : gente de todo tipo, vestida, não vestida, de pés no chão, fumando charutos e cuspindo para todos os lados aquelas cusparadaspegajosas , nojentas e amarronzadas que revoltavam o estômago . A fila ficava em cima de uma ilha pavimentada com pedras portuguesas , mas era preciso entendê-la . Não era fila de pessoas não. Era fila de coisas , que marcavam os lugares das pessoas... podia ser um cacho de bananas, uma lata de azeite de dendê, sacos de farinha de mandioca, um peru com as pernas amarradas, um porquinho também com as quatro patas amarradasou mesmo um cabrito ou uma gaiola com passarinhos. Gente, quando o ônibus pintava , era aquele corre-corre para apanhar as coisas . Aparecia gente de todos os lados e afunilavam na porta do ônibus. Valia a lei do mais forte ! Quase sempre eu viajava em pé . Não era mole não ! E a poluição ambiental ? Gente que suava a suor de uma semana sem tomar banho ! E mais a buraqueira da pista ? Toda aquelas tralhas e animais no piso do ônibus ? Era um sofrimento !
O trabalho em si, era aquele burocrático mas era volumoso demais , tanto que estávamos autorizados a fazer todos os extrardinarios que fossem necessários e que pudéssemos . Essa parte era boa porque necessitávamos e nós conseguíamos, a custa de muito esforço, é claro, simplesmente dobrar e às vezes até mesmo ultrapassar o salário. Para sair de casa, o meu horário era cinco da manhã e eu já saía com a marmita pronta pela Paola que acordava de madrugada para me dar comida fresca. Eu era o primeiro a ser apanhado , íamos em busca dos outros companheiros e era o último a ser largadoà noite. Lá, nem geladeira tínhamos . Água para beber, se apanhava na cidade! Por isso, era controlada rigorosamente porque só se podia pegá-la uma vez por semana. Não se encontrava nada por lá, nada mesmo. Estávamos mesmo no mato em companhia de bichos e cobras e a água existente na redondeza era contaminada , imprópria para qualquer consumo e utilização. Para não dizer que não havia nada mesmo, porque estávamos a 400 metros de um Posto da Polícia Rodoviária, talvez 300 , onde também não havia nada, montaram um barraco, mas um barraco mesmo, com pedaços de coisas , para uma negra de nome Luzia, protegida do Correia, o cabra da peste pernanbucano que era o Chefe do Tráfego , que começou a fazer alguma coisa para nós. Vez por outra arriscávamos a saúde e íamos engolir uma gororoba que ela punha na mesa. Tinha ocasiões em que a Luzia fazia um figadozinho que era verdinho, verdinho que era uma beleza...Quando ela conseguia uma Coca-cola , era almoço de festa. Não era gelada não, mas assim mesmo soltávamos foguetes porque o refrigerante ajudava na digestão . Não é bom para desentupir pias ? Como disse, o trabalho era, normal, aquele de uma empresa que se implanta mas o transporte é que era o problema. Quem não pegasse o transporte para sair às 17 horas, estava frito e refém das oportunidades. Quase sempre eu e o Arinel nos arranjávamos com o Sr.Gianelli , Chefe Geral do Estabelecimento , como o italiano gostava de ser chamado. Gente boa o Gianelli , mas tinha a mania de só sair do terminal pelas 19 ou 20 horas. Ele tinha um jeep que chamava de “minha jipa “ . E ainda tinha mais : ele ia largando as pessoas pela cidade e elas tinham que se virar. O importante mesmo era conseguir sair de Campinas. Aos sábados, saíamos cedo. Às 17 horas e íamos tomar uma cerveja no bar do china , no Barbalho, do que resultava atrasar a chegada em casa . Por muito tempo só consegui ver o Cláudio dormindo, pois eu chegava tarde e saía , ainda de madrugada. Aos domingos, quando eu podia ter a sua companhia, estava exausto e quase não me agüentava em pé, acreditem.Vivia constantemente cansado , cansaço crônico. Mas não havia outro jeito, tinha que trabalhar . Teve um lance que não dá para esquecer. Uma tarde, o Superintendente Dr.Raffaele me chamou e disse que pretendia que eu fosse até Poções, que é ali...onde hoje se chega em cerca de umas três horas, para conseguir uma carga de retorno para a nossa carreta de fogões. Era a época em que a empresa estava chegando e introduzindo na praça o gás para fogão, ou seja, o gás engarrafado. As cozinhas aqui , na maioria das casas, eram à lenha. Ainda se usava o abano , o pegador de brasas e as casas tinham chaminés. Havia o limpador de chaminé profissional Quando uma chaminé entupia, era um desastre . A casa enchia de fumaça, todo mundo ficava com os olhos ardendo e, ainda por cima, o fogão não funcionava! Uma droga ! Bem, os fogões chegavam do sul, em carretas , já montados, porém protegidos por grossas mantas para que o atrito entre eles não estragasse o esmalte.O problema era que a carreta deveria voltar vazia e se pretendia conseguir um frete de retorno para custear a descida. Pois bem. Eu era um soldado e o General estava me dando uma ordem . Me preparei e, no dia, Paola me fez um bolo, me arranjou mais alguma coisa e meu deu roupas limpas. Saímos de Campinas numa tarde qualquer de um dia de antigamente, Às duas da tarde , pegamos a estrada para vencer a primeira etapa, que veio a se constituir em um desastre. Não havia asfalto. Só poeira e buracos. Para se ter uma idéia, Feira , onde hoje se chega com 1,15 hora de carro estava distante de nós , mais que uma tarde inteira. À noite nos pegou na estrada e encostamos num barraco que apareceu, onde trituramos alguma coisa e devoramos o bolo. Pronto, já no primeiro dia , lá se foi o bolo. Passamos a noite na carreta e, no dia seguinte , prosseguimos por aquela estrada barrenta, poeirenta e cheia de buracos. Ainda nem bem tínhamos começado a viagem e a minha camisa branca mudou de cor para vermelho. Perdida, o primeiro prejuízo . Nós viajávamos, viajávamos, mato de todos os lados e Poções não chegava ! Não agüentava mais aquela aventura, aquela buraqueira, aqueles solavancos e o calor do próprio motor. Uma noite, dormi na carroceria, entre as mantas, porque estava frio demais, mas não tinha jeito, estávamos na estrada. A cabine, equivalia a uma geladeira. Na manhã seguinte, paramos em um posto. Tive que ir ao banheiro mas o intestino estava preso. Estava reclamando os maus tratos. Finalmente, sempre tem que haver um finalmente, chegamos a Poções. Fim de tarde , que alívio ! procuramos uma pensão na praça principal da cidade e encostamos a carreta. O motorista dizia conhecer e que era boazinha. Boazinha para ele. Seria para mim? A primeira coisa que procurei foi tomar um banho. Estava ressecado, me sentia um caco. Sonhava em tomar um banho, jantar e dormir. Nada mais. Me arranjaram uma toalha ( sem comentário ) e fui pró banheiro.Estava frio. De cara pisei em algo mole que não devia estar lá. Em todo caso, tomei o banho gelado, No jantar , houve uma briga entre eu e o frango que me colocaram no prato que me pareceu ter sido um ex lutador de Box falecido e aproveitado na panela. Na verdade pensei ter sido um galo de rinha ou mesmo um urubu. Quando vi o quarto, me apavorei ! Cheguei para o motorista e lhe disse: vamos trocar. Você dorme na pensão e eu na cabine. E assim foi. Apanhei umas mantas e me acomodei no beliche da cabine. Dormi uma noite razoavelmente bem. Acordei cedo, morrendo de frio e fome , com a cabine gelada.Até que foi bom. Depois de um café grosseiro, aluguei um carro e fui até a mina de amianto. O negócio não deu certo porque pagavam muito pouco. Se aproveitavam da situação porque havia motoristas que topavam qualquer frete, bastando que desse para custear a volta. Mas, não era o nosso caso. Ainda teríamos o ônus da entrega... Chegou a hora de tomar uma decisão. Liberar o motorista e voltar para casa de ônibus . Achei que seria burrice e que não agüentaria o mesmo tipo de viagem . Decidi seguir com a carreta para a cidade de Vitória da Conquista , Foi uma decisão acertada. Em Conquista , me despedi do motorista e do ajudante que até aqui ficou escondido nesta história , mas que estava lá e tomei um quarto no Hotel Albatroz , o melhor da cidade, com uma certa dificuldade devido ao meu aspecto. Tomei um belo banho jantei como um rei. Não me perguntem o que comi, mas estava legal. Dormi o sono dos justos, Anestesiado pelo exaurimento. No dia seguinte, após e café e já recuperado pelo menos em boa parte , procurei a Real companhia aérea que não existe mais e que tinha como símbolo um corcunda ,que o meu avô dizia dar sorte. Comprei a passagem, me mandei para o aeroporto, mais parecido com um campo de futebol e, às dez da manhã , o Douglas DC3 levantava vôo comigo no seu bojo. Antes do meio dia, estava em casa abraçando a minha Paola e o meu filho Cláudio. Era um sábado. Fiz um retorno em menos de duas horas, de uma viagem que durou três dias na estrada...É...mas antigamente era assim mesmo. Quando a Rio/Bahia estava ainda no papel, antes de ser completada e asfaltada, nós, aqui na Bahia, vivíamos, pode-se dizer, totalmente isolados do resto do mundo. Éramos uma aldeia . Pois é... andava muito cansado, precisando de férias mas o meu amigo Raffaele achou que eu não podia sair. Dei-lhe o trôco. Apresentei-lhe uma carta de demissão e respeitei o aviso-prévio que me cumpria dar à empresa. Antes de concluir esta passagem da minha vida, não posso deixar de colocar aqui a estória da lasanha do Arinel.
Ele era o Chefe da Contabilidade e, como nós trabalhávamos no mesmo salão, estávamos sempre juntos, Juntos para tudo , até na hora do almoço. E, então, um dia, ele me viu comendo uma lasanha verde . Não fez cerimônia. Foi logo dizendo. Sarnelli, me dá uma pedaço dessa lasanha ! Para ele, foi um sucesso , para mim, o meu almoço ficou menor. Depois desse episódio, eu tive que convidá-lo com a sua família para vir um domingo comer uma lasanha verde em casa. Avisei à Paola: se prepare porque a turma é da pesada . Mas eu não sabia ao certo, o peso do peso. Ele , andava pelos 120 quilos e o seu pessoal, mulher e dois filhos eram bem encorpadinhos. No domingo combinado, lá pelas dez da manhã, chegaram e nós ficamos conversando até a hora do almoço . Fizeram a festa ! Passamos a tarde também conversando e eu esperando que eles se fossem, mas nada. O tempo passou , escureceu e eles estavam em casa. Chegou a hora do jantar e o Arinel perguntou: Ainda tem lasanha ? Tem, sim. Então vamos jantar aqui. Pronto, lá se foi mais lasanha. Jantamos e ele foi de uma sem cerimônia espetacular . Perguntou novamente: ainda ficou lasanha ? É... ainda tem. – embrulha que eu levo, disse ele ! e foi , ainda, o que eu e ele almoçamos no dia seguinte em Campinas. Essa ficou na história. Boa, não ?
Estou sempre falando de coisas do passado , não é mesmo ? , ... é isso mesmo que estou fazendo, é mania. Há coisa melhor do que falar das nossas próprias experiências , do que recuperar fatos da nossa memória, a partir da infância ? É que me lembrei do meu colega e amigo , o Agnaldo, cujo sobrenome não me recordo. Ele era ou é filho do telegrafista da estação de trem de Mata de São João,pelos idos da década de 1940 , uma cidadezinha do interior da Bahia , que parou no tempo e no espaço , a apenas cerca de 70 quilômetros de Salvador. Como todos sabem ,o telégrafo, era um equipamento indispensável numa estação de trem, para administrar os horários e acompanhar a evolução das viagens das composições puxadas pelas famosas Marias-fumaça. Na época, quando eu tinha os meus dez anos, era coisa moderna , e o mais eficiente meio de transmissão de notícias. Era muito importante. O rádio, caso se conseguisse energia para fazê-lo funcionar, captava muita interferências e era um custo entender as notícias. Era mais estática e descargas elétricas , do que outra coisa .Como não havia energia na cidade , ou era necessário um pequeno gerador ou algumas baterias de carro que precisavam estar sempre na recarga. O telégrafo com aquela manipulação do código Morse ( toquinhos que transmitiam pontos, hífens , dois tracinhos ) fazia circular e chegar as notícias. Na época, era algo fantástico ! De olhos na fita que saía da máquina, cheia de traços e pontos, nós, a meninada , acompanhávamos a aproximação do trem, do “ Pirulito “ , que havia saído de Salvador em direção a Mata e outros destinos mais longe e sabíamos quando iria chegar. Era preciso algum conhecimento e experiência para saber o que aqueles pontos e traços na fita de papel informava. Interpretar de ouvido os toques, então, era a maior demonstração de habilidade possível , por que não ? Motivo de orgulho do operador da estação telegráfica ! Ficávamos encantados com aquela mágica que já conhecíamos de filmes de far-west , meninos desocupados e que só pensávamos em brincadeiras e em descobrir o mundo , não podíamos ficar alheios àquela invenção tão importante. Procurávamos aprender o código de traços e pontinhos, conseguir interpretá-lo na fita estreita que saía de uma grande bobina, ou melhor, de um carretel, indo cair diretamente no chão, raramente dentro de uma cesta , O telégrafo nos fascinava . Tentávamos interpretar, de ouvido, os toques da máquina, traduzir os pontinhos e traços e fazer os nossos próprios manipuladores. Aí, entrava a nossa criatividade ! Fiz diversos !Uma caixinha de charutos Suerdieck, um carretel de madeira vazio, cortado ao meio, algumas tachinhas , e uma tira de borracha , tirada de uma câmara de ar de bicicleta, e pronto, montava um manipulador . Nós treinávamos de brincadeira, lógico. Não se chegava a lugar algum . Não transmitíamos nada, mas tínhamos o nosso manipulador. Era apenas mais um brinquedo de madeira entre os tantos que costumávamos construir...Independentemente do telégrafo da estação, a cidade tinha uma agência dos Correios onde funcionava o equipamento oficial. O telegrafista era um senhor de uma certa idade e o seu diferencial era uma perna de pau, tal qual um pirata. Só lhe faltava mesmo o papagaio no ombro ! Nunca soube porque perdeu a perna, mas isso era algo que não interessava . O que interessava mesmo era ver a sua figura circulando com aquela perna de pau encaixada à altura do joelho...e de charuto na boca. Uma figura ímpar, porque transportava uma reluzente careca... Bem, vamos voltar ao Agnaldo, porque a história está acabando. Sabem qual era o sonho do Agnaldo ? Já adivinharam ? Ser telegrafista, igual ao pai , vestir uma farda igual e se cobrir com um quepi daquele com a pala preta, me parece que de baquelite. Aliás , na época, era costume os filhos seguirem as profissões dos pais . Queria circular imponente, e importante pela estação dos trens. Pois é...tínhamos a mesma idade . Desde que saí de Mata para ir estudar no Vieira, nunca mais o vi. Se ele estiver vivo, estará aposentado como eu , olhando para trás, como todos nós fazemos, com saudades do manipulador no qual deve ter dado os primeiros toques , transmitindo em código Morse, as suas primeiras mensagens , quando deu início à sua carreira de profissional , numa hoje profissão totalmente superada. Espero que tenha conseguido. Não sei onde anda o Agnaldo nem se ele chegou a tocar em um micro. Certamente que ele pode ser considerado, como o pai, um pioneiro, dono de uma profissão que o progresso engoliu. Foi a evolução, o progresso , que acabou com uma infinidade de profissões dos tempos dos nossos avós , mas criou outras. Para nós , para os nossos filhos e complicou as vidas dos nossos netos e bisnetos... A coisa não era tão fácil assim. Bastava um temporal, uma ventania , para quebrar os fios e interromper as comunicações . Isto sem contar com o furto de fios que já existia naquela época . Havia também atrasos por congestionamento de mensagens nas linhas. O telégrafo mais seguro foi, sem dúvida, o cabo submarino. Os cabos eram lançados no fundo dos mares em todas as direções, ligando países.Deve haver milhares de quilômetros deles repousando nos fundos dos mares abandonados que foram , por terem se tornado inúteis , com o progresso das comunicações. Aqui em Salvador, funcionava a The Western Company, companhia inglesa que teve a concessão por 100 anos. Hoje, como sabemos, tudo isto é coisa de museu. As comunicações transitam por satélites plantados no espaço e são imediatas. Um telegrama Western, que era o meio mais rápido de comunicação , podia ser entregue no espaço de duas ou três horas ou mesmo de uma apenas uma se o expedidor o taxasse e pagasse como “ urgente “.Claro que existiam outras empresas telegráficas como americanas ,italianas , inglesas, etc. É.. Agnaldo, que saudades de antigamente, não é mesmo ? Esteja onde você estiver, deve estar vendo tudo o que aconteceu no nosso mundo, do de antigamente, para hoje , e dizendo: “ eu fiz parte desta história” . Que esteja vendo como as coisas eram mais simples e como hoje estão mais complicadas, mas, aqui para nós, que o mundo, sob certos aspectos, melhorou, melhorou e nem precisava tanto... Mas tem muita coisa para consertar até que os homens possam viver em paz consigo e com a natureza. No entanto, tudo o que surgiu de bom , nos custa um esforço muito maior com menos tranqüilidade...Vamos agradecer por termos nascido na hora certa e vivido o melhor período que o mundo poderia ter nos proporcionado . Um abraço, Agnaldo, esteja onde estiver.
Algo em que venho pensando há muito tempo é fazer um comentário sobre a troca de presentes , principalmente aqueles que se tornam obrigatórios porque um amigo ou uma amiga faz aniversário...ou porque vão casar . Aqui para nós, o que é que eu tenho com isso ? E eu fico pensando : todos nós temos uma boa quantidade de amigos, amigas, e de conhecidos que, obrigatoriamente, fazem aniversários todos os anos , simplesmente porque num dia do passado, nasceram , ou porque vão casar ! A barra está ficando pesada! Será que há como ser diferente ? E os presentes são uma obrigação constante durante o ano inteiro, pois ainda inventaram dias em que presentear se tornou quase que uma obrigação para a felicidade de comerciantes que fizeram nascer o círculo vicioso . Começando pelo Natal, vamos ao dia das mães , dos namorados , etc., aos aniversários , aos chás... Quando nem bem termino de passar por uma data, vem logo uma outra para desembolsar alguma graninha , difícil de se conseguir, para comprar alguns presentes que não posso deixar de dar. Tem gente que adora presentear, mas tem gente que embora adore, tem que sacrificar seu orçamento pessoal para não passar vexame e a vergonha de não haver dado um presente, não valendo a alegação de que se esqueceu, porque, mesmo assim, fica devendo...e a coisa piora se, num determinado mês, mais de um amigo, amiga ou parente faz aniversário . Puxa vida, justamente no mês em que o orçamento encolheu e não há como espichá-lo vem uma gripe ...que droga , mas tenho que dar um jeito, porque não fica bem...no ano passado eu recebi um presente de fulana e este é o mês dela. ! Mas este mês não há mais gordurinha para cortar e eu preciso debelar esta gripe. Não posso perder dias de trabalho. Porra, esse negócio de presentear me incomoda, porque é sempre uma preocupação a mais , trabalho a mais e ainda por cima , tenho que acertar na escolha para não jogar o meu rico dinheirinho pelo ralo. Via de regra, a gente nunca acerta : é um perfume que não agrada, é uma caixa de sabonetes que vai para o fundo do armário ficar esquecido e ressecado , é uma blusa um número menor , uma camisa que não agrada e que precisará ser trocada, além de não ser da cor da minha preferência, é um bibelô que vai virar mais um cacareco rolando por dentro de casa ou então um par de calcinhas de cor berrante para a mulher ... no caso dos homens, meias , cuecas , lenços , são as pedidas de sempre...Eu já não agüento mais de tantas cuecas , meias ( que não uso mais ) e lenços . O pior de tudo, é quando vem de volta um presente que a gente repassou , recebido em anos anteriores... que raiva ! Esse negócio de ter que dar presentes me estressa. Precisa acabar, e assim todo mundo fica feliz. Ninguém fala nada , mas aposto que pensa ! Fosse só isso ?... Não é que inventaram mais umas novidades como “ chás de panelas “ , “ chás de bebês “, “ despedidas de solteiros “, etc. Até os homens embarcaram nessa moda ! Do jeito que está, vou requerer falência... Há uma crise em andamento. A marola do Presidente está virando onda ... Vou sair do mercado , mesmo porque ninguém consegue me dar algo de que realmente necessito...! Alguém concorda comigo ?
Dentro do possível, vamos diminuir o consumo de sacolas plásticas, principalmente aquelas que trazemos dos supermercados e, ainda mais, de onde for possível ?
O objetivo é trazer para casa apenas 20% do que estávamos acostumados a trazer. Por que ? Porque estamos utilizando uma parte para a embalagem do nosso lixo doméstico, pelo menos enquanto não surgir outra solução.
Para recusar as sacolas , é preciso que você tenha a sua retornável e que a utilize cada vez que for aos supermercados. Há diversos tipos na praça. Inclusive uma das redes as vende a 2 reais e é possivel comprar também em estabelecimentos comerciais um tipo forte e muito bonito por 8 pratas. Se desejar, pode fazer a sua sacola ( popular, mas que serve do mesmo jeito ) em casa mesmo. Compre um saco de farinha na padaria, que custa 60 centavos. Com um saco, você vai conseguir fazer duas sacolas iguais as que estão na foto . Curiosamente, cada uma dela vai terminar custando, aproximadamente , 60 centavos...
Leve para casa apenas o indispensável...Fale com os seus amigos e amigas para que adiram a esta campanha ! Os 80% de sacolas que recusarmos, certamente não irão ser jogadas na natureza.
Como tudo muda o tempo todo, também as festas foram se modificando com o passar dos tempos. Como o São João era diferente !... Mesmo antes do mês de junho já começávamos a ver balões pelo céu escuro ,mas pontilhado de estrelas , levados pelos ventos, nunca soubemos para onde . Certamente que muitos iriam cair no mar e nunca ouvi dizer que algum balão tivesse caído no mato e incendiado uma floresta .. Eles não eram tão grandes assim e só começavam a cair quando as suas buchas apagavam, fazendo-os perder pressão. Assim , chegavam de volta ao solo sem causar danos. Pelo menos, naqueles meus tempos de criança , era assim. O que eu me lembro, é que o céu coalhava de balões, que eram dedicados a São João e também a São Pedro , que ainda não havia tido a sua festa cassada. Nós soltávamos balões até o 2 de julho... Era lindo, lindo de morrer ! O São João, o sentíamos no ar. Era esperado com ansiedade Como tudo começa pelo princípio, também eu vou ter de começar desse jeito. Então, vamos lá ...
Era uma vez...teve um tempo em que eu era um menino levado, em que só pensava em todas as festas que aconteciam durante o ano. Ansiava pela chegada do São João para ganhar fogos e poder soltá-los junto com os balões que nós fabricávamos em casa... fazíamos o nosso quartel general na casa de um, onde , munidos de papel de seda , cola feita com goma , tesouras e facas , sobre uma grande mesa ,começávamos, um mês antes, a fazer balões de diversos modelos, mas não muito grandes. Precisávamos de arame para a boca, que era o suporte da bucha e apenas mais, só de tempo, à espera dos dias da festa . Enquanto isso, produzíamos os nossos balões , dos quais, uma parte, era dedicada a Sto. Antônio...que nunca foi esquecido. São Pedro também ganhava alguns... As famílias também se preparavam para as festas juninas que começavam com as novenas à Sto. Antônio, depois São João e São Pedro, mas sempre foram estendidas até o dois de julho. Era preciso preparar as comidas e bebidas tradicionais das festas juninas : milho cozido, canjicas , sempre polvilhadas com canela em pó ,bolos de milho, de carimã , licor de jenipapo à vontade porque a festa era, vamos dizer assim, comunitária .As famílias concorriam para apresentar a melhor canjica do pedaço. O costume era a troca de pratos e, então, era aquela variedade de várias procedências. Todas as comadres e amigas mandavam, uma para outra. e era preciso comê-las porque não podiam demorar já que azedavam e, naqueles tempos, não tínhamos os refrigeradores de hoje .Tudo dava trabalho, pois não existiam os recursos modernos. Era tudo na marra mesmo, na mão grande. Era necessário mesmo ralar os cocos e os milhos. A geladeira funcionava com um bloco de gelo comprado na porta de casa , na passagem do carro que fazia a distribuição. Era algo rudimentar. Fazia mais sujeira do que gelava alguma coisa ... As portas ficavam abertas e todas as casas do bairro acessíveis a quaisquer pessoas que desejassem entrar ,mesmo desconhecidas , para tomar um licor que podia ser de jenipado, de laranja ou outro qualquer e comer alguns pedaços de canjica ou de bolo, chupar uma laranja ou uma tangerina . Comer ainda alguns amendoins cozidos ou mesmo torrados , que eram um problema : quanto mais você comia , mais queria e não havia meio de parar... O negócio, ou melhor, a brincadeira , era ir de casa em casa comendo e bebendo e participando da folia . Se alguém faltasse, a comadre reclamava a ausência , enfim era uma festa alegre e comunitária, só que nas casas de cada um.A ausência de alguém, podia, até mesmo, gerar um desconforto temporário... Sim, claro que sempre tinha uma fogueirinha na porta para ajudar a aquecer o ambiente, acender os fogos, assar o milho e mesmo as castanhas de caju que eram jogadas nas brasas. Todas as famílias faziam questão absoluta de receber os amigos e os vizinhos e mesmo os desconhecidos eram benvindos, Era uma ofensa, faltar...ou mesmo não aceitar os convites. Numa festa de São João, era claro que não poderiam faltar os caipiras com os seus chapéus de palha ,com menos um ou dois dentes , calças remendadas e a caipirinha de tranças para dançar em torno da fogueira e mesmo uma quadrilha. As quadrilhas do meu tempo de criança, eram bem diferentes daquelas que existem em Brasília. Aliás, naquele tempo não existia Brasília. Quem sabe se era por isso que só existia a quadrilha de São João ? As ruas ficavam cheias de fogueiras, grande e pequenas. Alguma apagavam logo e outras ardiam a noite inteira, até o dia seguinte. Durante a noite inteira uma grande animação , soltura de foguetes, soltura de balões e o céu enfeitados de tantas luzes que se movimentavam levadas pelos ventas. Nós soltávamos os nossos. Alguns subiam, outros não e uma parte até mesmo pegava fogo ainda nas nossas mãos. Eram balões de diversos tipos e coloridos. Alguns levavam lanterninhas penduradas, enfim, olhar para o céu, era olhar um espetáculo.Passado o São João, os balões , nos céus , iam rareando até que desapareciam... As canjicas eram feitas nas casas mesmo e davam um trabalhão . Tomavam muito tempo . O milho demorava para cozinhar na fogueira e os outros doces feitos na cozinha, também eram feitos em fogões à lenha . Apesar do trabalho, toda a comunidade vibrava de felicidade. Mas as coisas mudaram. O progresso tirou os balões dos céus . A canjica não é feita mais em casa . Você pode comprar na padaria ou em uma delicatessen e os licores, há centenas de marcas industrializadas que você pode comprar . Com dinheiro, pode armar a sua mesa com o que quiser, sem o mínimo esforço , mas não é a mesma coisa ! Se você quiser, ainda pode comprar um pacotinho de canjica pronta no supermercado e fazê-la em casa. Ficou tudo mais fácil, mas perdeu a graça !
Não precisa ir muito longe não . Aqui perto de casa há uma delicatessen , coisa moderna, onde você encontra de tudo. Só na entrada você endoida. Não sabe o que escolher. Então, para que tanto esforço e encostar o umbigo no fogão ? O pior é que as coisas não são mais genuínas. Numa loja, ao meu lado, uma senhora comprava essências e, pasmem, até de jenipapo, que é uma fruta tipicamente junina e tradicional, pelo menos na Bahia. . Quanta porcaria rola por aí em nome da modernidade e da praticidade !
Voltando um pouco atrás, o momento da soltura do balões era importante. Precisava abri-los. Uma roda de pessoas segurava-os , uma pessoa cuidava das buchas untadas com querosene , colocava-as nos suportes e as acendia. Era preciso que as buchas acesas estivessem rigorosamente centralizadas para não queimar os balões no chão. Depois, com a bucha acesa, era só segurá-los enquanto pegavam pressão e depois deixar que subissem sozinhos. Não precisavam de impulso Eram os momentos da algazarra, da gritaria , enfim os momentos culminantes da festa . Ver os balões subirem. Era um momento de vitória . Os balões subiam, e subiam, e iam se encontrar com os outros que já estavam passando pelos céus.Quanto tempo ficariam no ar, ninguém sabia!Aquele que tivesse um furo, logicamente não iria muito longe. Era uma glória fazer todos os balões fabricados subirem... Um dos momentos mais agitados das festas juninas era quando a meninada percebia que um balão estava caindo por perto do seu pedaço. Começava a correria para pega-lo. Via de regra, a disputa era tão grande que, do balão, caído, só sobravam mesmo pedaços de papel de seda enegrecidos pela fumaça da bucha... Hoje,. Ainda existe o São João , Santo António não é muito festejado, só ganha as rezas das novenas e São Pedro foi cassado. Os balões estão proibidos devido aos riscos que apresentam para a cidade grande, moderna e para as refinarias de petróleo.
Eu costumo dizer que nasci num mundo, fui criado nele e hoje vivo em outro , fora do meu tempo, mas não me queixo...Nasci no tempo e na hora certa...
Mas o São João não tem graça sem a presença do sanfoneiro e das quadrilhas ( proibido pensar em Brasília ) que fazem a alegria do povo e anima para atacar a canjica e o licor de jenipapo.. A sanfona é a dona da festa, agita a turma e coloca a quadrilha nos tablado.São as quadrilhas que mais agitam a festa com todo o ritmo do forró, todo o seu colorido e com os concursos com os pares vestidos à caráter junino .
Ah...! E o casamento na roça ? Tinha que ter a figura do delegado com a espingarda nas costas do noivo, porque ele tinha que reparar um mal feito e tinha que pagar por aquilo. Onde já se viu deixar um malfeitor impune ? Tinha que casar, nem que fosse com o cano de uma espingarda nas costas...
Há costumes violentos em cidades do interior onde ocorrem as batalhas de espadas , que causam dezenas de vítimas todos os anos, por queimaduras de vários graus . Espadas são grandes rojões e com elas são feitas guerras em diversas cidades. Felizmente, aqui na capital não existe este costume. A guerra é tão violenta e perigosa que os participantes se protegem com luvas de couro, óculos, capacetes e outros bregueços de segurança . Mas, mesmo assim, sempre há vítimas. Algumas perdem dedos, até mãos . É um divertimento muito arriscad , mas é tradicional.
Aqui na capital, também há festas à moda do interior. É montada toda uma estrutura para receber milhares de pessoas para brincarem o São João com tudo o que têm direito. Só precisam mesmo é ter dinheiro no bolso , disposição, preparo físico e vontade de encher a cara !Aqui na capital, é reproduzida uma cidade do interior onde tudo acontece com a presença de milhares de pessoas.
Muita gente , principalmente jovem , passa pelo Posto Chaminé , vê aquela peça com a altura de provavelmente de uns trinta metros , não sabe e não se interessa em saber porque ela ali está , se é apenas uma jogada de marcketing para chamar atenção...
Acho que deve provocar , pelo menos , uma simples curiosidade e gerar uma pergunta : o que tem a ver , o que está fazendo uma chaminé daquela, altura em um posto de gasolina ? Seria o mínimo. Na verdade, é parte da história do bairro do Rio Vermelho, que merece ser contada . Ali, exatamente ali, onde está aquele posto de gasolina cujo nome é Posto Chaminé, evidentemente, existiu uma fábrica de papel e papelão que a voracidade do progresso e crescimento da cidade terminou por engolir...Da fábrica, a única coisa que sobrou mesmo foi a velha e elegante chaminé, o que já foi alguma coisa.
Na época da sua desativação, houve um movimento muito forte de alguns pesos pesados, intelectuais do bairro, mas que , apesar do apoio do saudoso escritor Jorge Amado,que desejavam o espaço para um centro cultural que, infelizmente, não foi bem sucedido. Assim , a fábrica foi demolida e o espaço deu lugar ao posto, que conservou a chaminé, que é o seu referencial, e, como seus vizinhos, ,uma loja da Mcdonald , mais um supermercado...
Era a conhecida linha do bonde do Rio Vermelho de cima, que fazia o retorno para a cidade , um pouco mais adiante , aproximadamente onde está o quartel de Amaralina . Era a linha 14 . Por aqueles trilhos passavam também os bondes de Amaralina, que ostentavam a bandeira n. 16.
A cidade continuou crescendo, chegou o asfalto e foi indo em direção à Itapoã , ligando-se com o aeroporto , enfim, muitas coisas mudaram.
Da velha fábrica de papel e papelão , por onde cansei de passar de bonde por dentro do mato, me lembro dela e de montanhas de madeira que seriam consumidas na fornalhas , só ficou mesmo a chaminé... Não teria dado mesmo para conservar uma fábrica de papel e papelão no centro da cidade, até hoje . Para quemvem vindo daquele tempo, passar por ali, hoje, de carro, não mais de bonde nem mesmo de “ marinete “ , leia ônibus, e ver aquela velha e conhecida chaminé, é um rápido retorno ao passado.
Não é a primeira vez que me acontece ! Uma certa feita, mandei um mail para alguém que eu supunha ser amigo, pois havia uma relação de família e recebi uma resposta seca à italiana , informando-me que aquele micro era uma ferramenta de trabalho ! O mais incrível, foi que a resposta veio de um brasileiro, naturalmente, àquela época , já italianizado ... Bem recentemente , por engano, mandei um repasse , inadvertidamente, para alguém que entrou na minha relação de endereços capturado pelo próprio Outlook e recebi um pedido áspero para retirá-lo da minha lista e deixar de enviar piadinhas... no pé do mail, vinham as características do indivíduo que devia ser um executivo, provavelmente com alguma importância no local em que trabalha , mas que demonstravam, claramente, que estava muito centrado no trabalho e , ainda mais na importância do seu trabalho...Deu para sentir que o objetivo da vida do indivíduo era um futuro promissor ! Nada demais , não é mesmo ? E foi aí que volvi o meu pensamento para uma ocorrência de alguns anos, que já na época eu achei estranha, mas, cada um faz da sua vida o que quer e bem entende. Uma companheira da minha mulher , que freqüentava uma mesma entidade que ela, estava se despedindo das amigas, porque estava indo, de Salvador , morar em São, pois seria muito melhor para a carreira do marido. Não é que ela não estivesse bem aqui não, mas queriam coisa melhor ! Ora , é certo que é necessária uma certa ambição na vida , no sentido de que esta não seja mesmo ambição desenfreada e sim um objetivo, mas dentro de um certo limite. Já ontem , recebi uma mensagem , que já repassei aos amigos da minha relação , dedicando-a àqueles e àquelas que só têm tempo para trabalhar. É que a história, que eu já conhecia e que é verdadeira , me tocou mais, desta vez. Um pai, relatando todo o seu esforço para preparar um futuro para a família , que dedicava todo o seu tempo ao trabalho e a conseguir coisas que todos os anos acrescentava à sua declaração de imposto de renda. Os seus bens cresciam de ano para ano , tudo perecia estar indo segundo o programado . Na coluna onde se declara os bens , todos os anos acrescentava algumas vitórias , até quando ele teve que retirar da coluna onde estavam os seus maiores bens , os nomes dos seus próprios filhos menores, por terem , de uma forma ou de outra, se desencaminhado na vida. No seu desabafo, ele dizia desejar trocar tudo o que acumulou , todos os itens da coluna de bens materiais , por aqueles dois nomes que não mais lá estavam. O menino, com cerca de 14 , vítima de drogas e a filha, pouco antes de completar 15 anos, prostituída... Tarde demais ! A vida não dá marcha-ré... Tudo, porque só tinha tempo para o trabalho, e ainda porque não percebeu que havia algo muito precioso que precisava da sua atenção , da sua orientação e que valia muito mais do que aqueles números que estivessem totalizados no item dos bens materiais... O que fazer, então, de todos os bens que conseguiu , se perdeu o que de mais precioso possuía ?
Sarnelli, 11.02.2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
ALISTE-SE NO EXÉRCITO DE COMBATE A DENGUE E CONSIGA NOVOS VOLUNTÁRIOS.
O saudoso Governador Otávio Mangabeira tinha uma frase que se aplicava a quase tudo e que vale até hoje: Dizia ele : “ pense num absurdo, que na Bahia ou já aconteceu ou está por acontecer “...
Isto, a propósito do pouco caso que as autoridades que colocamos na administração da cidade, dão à conservação do patrimônio público e a muitos outros problemas de interesse da população . Certo, que há problemas urgentes e complexos para serem solucionados, mas parece que o que mais interessa agora e fazer aquilo que, de uma maneira ou outra, esteja relacionada com as eleições de 2.010 . Ao Prefeito atual, que foi reeleito, cabe-lhe apenas tomar as rédeas da administração da cidade porque ele mesmo, não voltará...Então, vamos trabalhar !
Há meses que venho reclamando a falta de 4 placas de mármore preto que foram furtadas da coluna de sustentação do nosso Cristo, aquele que está instalado no morro em frente ao Farol da Barra e ao lado da avenida Oceânica, que um dia se chamou Getúlio Vargas, mas, esta , deve ser outra história . Vamos aguardar que levem mais placas ?
O fato é do conhecimento da Fundação Gregório de Matos que, ainda no ano passado, alegou falta de verbas , justificando que o orçamento do ano estava fechado. Viramos o ano e, uma coisa simples como aquela , não foi resolvida ainda e não quando o será... !
Para conhecimento geral, o Cristo da Barra , apesar de pequenino, é uma obra de arte de propriedade da população , uma oferta do Desembargador José Botelho Benjamim à cidade e foi inaugurada em 24.12.1920 com toda a pompa que merecia.
Foi esculpida em um único bloco de mármore de Carrara ,pelo escultor italiano Pasquale De Chirico, na Itália, de onde foi trazida pelo navio também Itália “ Cervino”.
Pasquale De Chirico morava em Salvador e por aqui esteve durante 40 anos, até o seu falecimento. Foi o autor da maioria dos monumentos da cidade.
O Cristo da Barra, o nosso Cristo, é mais antigo que o Cristo Redentor, que foi inaugurado em 12.1.1931...
A sua primeira locação foi onde funciona hoje a Prefeitura da Aeronáutica, mas teve que ser transferida por motivo de segurança porque as explosões de dinamite na base do morro ,por conta da exploração de uma pedreira , a colocavam em risco.
Vamos dar um jeito nisso, gente ? O descaso, é notado também pelos turistas que estarão na cidade até, pelo menos, depois do carnaval.
A finalidade de esta foto estar sendo colocada no ar é para lhe dar a possibilidade de imaginar a sua posição dentro do porto de Salvador. A imagem menor e escura, é da caravela " Príncipe Regente ". Se você ampliar a foto, terá uma melhor visão. Para ampliá-la basta dar dois cliques sobre ela .
Nesta foto, tomada por mim em uma das minhas visitas ao Forte de São Marcelo , a caravela " Príncipe Regente " está se aproximando do pontilhão de desembarque/embarque do Forte de São Marcelo , que é um dos mais conhecidos cartões postais da Bahia, de Salvador, em particular. A caravela foi construída por artesãos baianos e , apesar de ser uma embarcação , que deveria estar sob o comando da Marinha, faz parte integrante do Forte de São Marcelo . É uma nave em escala reduzida, com cerca de 15 metros de comprimento e cumpre a função de realizar ligeiros trajetos turísticos dentro das águas tranquilas da Baía de Todos os Santos , mostrando a quem se interessar, Salvador, a cidade dos dois andares , a partir do mar . A pequena embarcação é tripulada por três pessoas. No dia em que lá estive, a equipagem era composta de dois homens e uma jovem que era a marinheira do barco. Todos eles vestidos à caráter . Naquele dia, ela navegou levando uma comitiva de algumas autoridades baianas e pessoas ilustres vindas da Lituânia que, ao final do passeio , se declararam encantadas com o que viram. Apesar de pequena, a caravela" Príncipe Regente ", navega tranquilamente, é segura e pode ser impulsionada, naturalmente à vela e por um motor adicional mantido como reserva ,mas nunca foi necessário. É um passeio imperdível, uma pedida inteligente. Depois de uma visita ao Forte de São Marcelo, que tem a característica de estar totalmente dentro do porto marítimo de Salvador, e de ser totalmente redondo , de um passeio maravilhoso pela Baía de todos os Santos, a pessoa retorna culturalmente enriquecida. Vindo a Salvador, não dê bobeira. Vá visitar o Forte de São Marcelo e faça um passeio pela baía. A lancha que faz a ligação entre a terra e o forte, saí da estação marítima e não leva mais que quatro minutos para completar o trajeto.
Por carência de tempo, naquele dia , fiquei a ver navios, quer dizer , não pude ir...