terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os carnavais de ontem e de hoje


Preparando o ambiente para as festas que estão chegando .

Operários da Prefeitura sinalizando os meio-fios no largo da Mariquita.

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Como era antigamente e como é hoje...

É... nada a ver uns com os outros...

Falta pouco para o carnaval do ano de 2009.

Antes dele, no entanto, teremos ainda a grande festa de Yemanjá, a Rainha do Mar, que acontecerá no dia dois de fevereiro, na praia de Santana, no Rio Vermelho, Salvador/Ba. Depois, teremos um período de calmaria... até começarem as micaretas e recomeçarem os ensaios...

Uma nova fonte de renda para os carnavalescos profissionais .


Os principais circuitos por onde passarão os trios elétricos, blocos e o povão , estão sendo preparados para a grande festa, que é a maior do mundo que acontece nas ruas e que dura, em Salvador, na verdade, uma semana, sem contar, naturalmente, os carnavais isolados que antecedem a festa principal , nem os ensaios que já viraram rotinas e que terminam mesmo em carnavais, que acontecem em bairros , e aqueles antecipados , por conta dos preparativos para os grandes dias...

Na verdade, já não há mais espaço para o carnaval em Salvador, que a cada ano cresce mais um pouquinho e, por isto mesmo, acabou sendo descentralizado e tomou diversas áreas da cidade. No Pelô, continua acontecendo aquele carnaval à moda antiga com diversas bandinhas tocando velhas marchinhas e circulando pelas ruas estreitas do conjunto, num trajeto previsto para não se encontrarem...É um carnaval da saudade. Muito concorrido, principalmente por quém leva crianças, porque nas outras áreas a coisa é muito violenta. Carnaval atrás do trio elétrico não é coisa para crianças e nem para pessoas idosas. O centro da cidade, onde acontecia o tradicional desfile dos clubes carnavalescos e o corso, com direito a lança-perfume, serpentinas e confetis, tem o seu circuito mantido , mas , como tudo muda o tempo todo, agora circulam apenas alguns trios com milhares de foliões que lhes vão atrás. Nada mais de mocinhas bonitas e de fantasias personalizadas , mascarados e mascaradas, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens , pessoas circulando na figura de piratas, colombinas, pierrots , ou ainda caricaturando alguma figura importante da época. As famílias que colocavam as suas cadeiras e bancos velhos ao longo da avenida principal da cidade, amarradas com arames, pedaços de fios elétricos, cordinhas, umas nas outras e até mesmo nas árvores , já não vão mais lá...Quém é maluco de colocar cadeiras e bancos e se expor na avenida na frente daqueles milhares de malucos que passam saltando e bebendo com a caldeira a toda pressão , atrás dos trios elétricos ? Nada mais de corso com aquela imensa fila de carros com as capotas arriadas e cheios de garotas bonitas atirando serpentinas, confetis e até atingindo as pessoas com aquele jato gelado da lança-perfume ( comum na época e válida até que o Presidente Jânio da Silva Quadros a proibiu. De quebra, proibiu também a briga de galos ,cujos galináceos nada tinham a ver com o carnaval ) , à medida que o corso se deslocava lentamente. Bem tenho que falar, então, do mais novo circuito criado há alguns anos , que vai do Farol da Barra à Praia de Ondina, paralelamente a orla marítima . É nesse trecho que se concentra a folia maior e são montados os já famosos camarotes que viraram um comércio à parte, e do pesado. Muita grana, rola naqueles camarotes ! Centenas e centenas de metros da avenida Oceânica, até mesmo mais de quilômetro, são ocupados por camarotes que dispõem de todas as mordomias para quém pode pagar e assistir de perto as dezenas de trios elétricos passarem, puxados por artistas de renome como Daniela Mercury , Sangalo e outras celebridades carnavalescas. Mos camarotes ? Mordomias de hotéis 5 estrelas , com segurança, assistência médica, locais para descanso, ar condicionado ,etc . Para aguentar um carnaval como o de Salvador , é preciso muita disposição, preparo físico dinheiro para tudo e até para o abadá , que pode ser comprado a prestação a partir logo do primeiro dia pós o término do carnaval, ou seja: a partir já da quarta feira de cinzas , pode sair correndo para comprar o abadá para o seu carnaval do ano seguinte. Se morrer antes, o seu herdeiro fica com ele e continua pagando as prestações porque não dá para perder tal preciosidade , já que a disputa é grande e, no final, acontece até o cambio negro...

Sim, é preciso, também, disposição para suportar o barulho que chamam de música ,no volume acima dos 120 decibéis. Todos os anos a Prefeitura anuncia que vai fiscalizar, que vai multar etc., mas é sempre a mesma coisa e tudo dá em nada ! Aquelas parafernálias montadas sobre os caminhões que vêm a ser os trios elétricos, deixam todo mundo maluco , até e principalmente quém lhe vai atrás consumindo latas e mais latas de cerveja geladinha que o próprio bloco fornece. A compra de um abadá ( que substituíu todos os outros tipos de vestimentas e fantasias ) , além da garantia do lugar para sair junto com o trio ou com o bloco, destina uma quota de latinhas para cada folião, para cada dia que vai às ruas. O som do trio elétrico é contagiante , embora barulhento. É como diz o Caetano Veloso em uma das suas músicas: " atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu " - e eu acrescento: e quem não está por perto. .. Mas o carnaval é uma festa democrática. Ninguem precisa de gravata borboleta nem de tênis de marca . Pode ir de sandália japonesa mesmo e apenas de calção de banho . Só não pode ir pelado. Também, seria demais ... Qualquer um pode ir atrás dos trios, só que corre por fora das cordas. Por dentro delas, com direito a segurança e tudo o mais, só quem for titular de um abadá... que é, na realidade, o " passaporte " para participar da folia naquele trio ou naquele bloco.

Em 50 anos , aquela brincadeira do Dodô e Osmar com a Fubeca e o " pau elétrico " , tomou proporções gigantescas e hoje é uma atividade que movimenta milhões e milhões e fornece trabalho o ano inteiro, chegando mesmo a ser um dos principais produtos vendidos para outros estados e até para o exterior. Aliás , eu, pessoalmente, estou convencido de que os dois amigos não sabiam o que estavam aprontando ... No final, acho, ainda, que foram eles os que menos tiraram proveito da invenção que já completou bodas de ouro. O resultado ,foi que a evolução da idéia, da brincadeira de Dodô e Osmar , em pouco tempo , acabou com os clubes carnavalescos uma vez que os foliões foram sugados pelos trios elétricos. Não restou nenhum clube para contar a história...O carnaval saíu dos salões para as ruas...

Estamos a menos de um mês da grande bagunça e a montagem das estruturas dos camarotes vai em frente a todo vapor. É preciso preparar as avenidas e os pontos por onde a loucura passará. É preciso instalar, também, postos policiais e médicos para atender as emergências que sempre acontecem. Ou por motivo de brigas, ou ainda por efeito de bebidas, porque, para brincar uma semana inteira praticamente sem parar, o folião tem mesmo que estar álcoolizado, pelo menos até um certo ponto , mas há os que passam dos limites e passam a fazer parte das estatísticas. Se, por um lado, o carnaval se transformou numa festa grandiosa e violenta, por outro é um grande gerador de trabalho já que envolve uma gama enorme de atividades, gerando empregos temporários e portanto renda para uma boa parte da população e para o próprio município . São prestadores de serviços, hotéis, pensões, restaurantes , vendedores ambulantes, taxistas ,etc. e bote etc. nisto...Na legião de vendedodres ambulantes que se beneficiam do carnaval , chega a haver a invasão de gente de cidades do interior , que se deslocam para explorar a festa , frente a possibilidade de faturar uma graninha a mais . Mas não há consenso. Sempre acontecem choques entre os de Salvador e de fora...A Prefeitura fatura em cima dos ambulantes, cobrando uma taxa de licença. Os de fora ,chegam caladinhos, procuram uma brecha e se instalam...

Nada mais nada menos, se calcula que nos dias de carnaval dois milhões de pessoas estarão nas ruas dando vazão aos seus sonhos contidos durante um ano de trabalho, quando aproveitam para fazer tudo aquilo que, em condiçlões normais, não têm coragem para fazer... como diz o ditado popular: " para soltar a franga ". É uma festa democrática. Ninguém quer saber quem é quem e todo mundo brinca com todo mundo . É claro que é montado um enorme esquema de segurança, mas, como conter uma multidão enlouquecida, com uma lata de cerveja nas mãos, quantas mais não se sabe dentro da cabeça e até uma droguinha que sempre aparece não se sabe como ? Só no pau ! E aí, quando a coisa estoura, nós vemos aquelas cenas que as TVs mostrando da polícia mandando o pau, Certo. Há exageros , mas... Ah, sim... Cuidado com os foliões que vão para o meio da multidão para roubar, assaltar e fazer maldades sem o menor motivo. No balanço, sempre tem algumas centenas de presos que só são liberados após o término da festa e alguns que ,diretamente do IML , vão para algum cemitério da cidade . Sempre acontece, infelizmente. Na quarta feira de cinzas a festa continua. Se prolonga até o pôr do sol e durante a manhã o encerramento na Barra é feito pelo Bloco dos Garis que trabalharam durante todos os dias da festa , mas que cobram um tempinho para, tambem, se divertirem. É o arrastão final . Pelo chão , sobre o asfalto negro , corpos espalhados de pessoas que desmoronaram de exaustão ou devido a bebidas e que dormem a sono solto sob um sol forte, por horas segidas, até poderem levantar e pegar o rumo de casa . A partir daí não será preciso esperar muito porque , depois de quarenta dias, começam a pipocar as micaretas pelas cidades do interior gerando uma nova e grande movimentação...

Puxa, eu estava esquecendo de que em alguns bairros também há carnaval. Há sim! Ainda bem... Se todo mundo viesse para os circuitos principais...

Oito ou nove meses depois, a cegonha trás o efeito colateral de quém despresou as camisinhas distribuídas gratuita e fartamente pelo governo , por nossa conta, diga-se de passagem . São os filhos do carnaval , os quais, muitas vezes ,não chegam a saber quem é o pai, pois a mamãe estava doidona e não se lembra... Não consegue se lembrar nem com quem esteve nem com quantos...

Sarnelli , 27.01.2009

2 comentários:

Cristiano Teixeira disse...

O famoso carnaval de rua de Salvador perdeu a graça depois que as ruas foram loteadas para os camarotes, reivenção do carnaval de clube, e a avenida foi tomada pela infinidade de blocos. Quem brincava na pipoca perdeu o espaço para os blocos e camrotes. Quem não tem grana, não tem vez no carnaval.Sua descrição do carnaval foi fiel.

Anônimo disse...

Bartolo, é incrível como o Carnaval mudou, em todos os lugares! Aqui, quando eu era adolescente, o carnaval ainda era uma delícia - nos salões, com muita animação. Agora, os carnavais dos salões continuam. Mas existe o "carnaval de rua" - numa tentativa medíocre de imitar os carnavais do Rio de Janeiro!
Bjs