sábado, 31 de janeiro de 2009

Os automóveis e outros veículos nas nossas vidas.



Não me lembro exatamente quando eles começaram a aparecer por aqui, mas não esqueço de que eram raros e motivo de curiosidade de todas as pessoas, principalmente das crianças, como eu era na época. Maravilha ! Os poucos carros que paravam na escola pegavam coleguinhas filhos de gente rica . Imaginem a importância daqueles meninos que chegavam à escola de carro e eram levados para casa na saída, justamente de carro. Veículos reluzentes que arrancavam rapidamente e logo, logo, sumiam na curva da esquina...
Como os carros ainda eram uma novidade e, portanto, donos das ruas , quando passava um , atraía a atenção de todo mundo, principalmente da molecada e dos cachorros que lhes corriam atrás querendo morder as rodas traseiras, certamente pensando que aquilo era um monstro do qual lhes competia nos defender, do mesmo modo como o faziam com os cavalos e com os mulos e mulas das carroças. Latiam e se esforçavam, mas era lógico de que nunca conseguiriam morder rodas de carros em movimento. Hoje, eles já não ligam mais, e nem mesmo os passarinhos como as rolinhas e os pardais, estão se incomodando com as pessoas e com os veículos. Muitas vezes você tem que afugentá-los para poder passar. A passagem de um carro junto a veículos a tração animal, os assustavam , obrigando os condutores a controlarem os animais, que nunca tinham visto algo como aquilo. Poderiam até pensar que estavam diante de monstros resfolegantes !Até as pessoas , muitas delas, com receio, se encostavam às paredes, procurando abrir passagem para aqueles carros lustrosos, pintados de preto e que, com as buzinas acionada a ar , com o som de fom, fom, pediam passagem, apesar de sobrar espaço para eles, mas era preciso fazer-se notar ! Mas, valia , ou não valia se exibir, sendo donos de um dos poucos carros existentes na cidade ? Aos poucos , nós fomos crescendo e, junto conosco, a quantidade de veículos de todos os tipos, aumentando a ponto de os próprios animais , aves e passarinhos, como os pardais já mencionados, os bem-te-vis e outros, não mais se assustarem com a passagem de tantos carros uns atrás dos outros sem dar espaço nem tempo para você atravessar as ruas. Os veículos a motor se multiplicaram na mesma proporção que os pardais trazidos de Portugal por um cidadão luzitano. Já dizia o meu avô: “ quem quiser que se cuide. Seguro morreu de velho – precisamos respeitar os espaços dos donos das ruas...” A coisa ficou tão séria que foi preciso inventar as sinaleiras, que hoje têm o nome elegante de semáforo, claro que importado , como muitos outros na nossa língua , e também as faixas de segurança que ninguém respeita, se não houver um semáforo junto a ela... Se, no meu tempo de criança, podíamos andar tranqüilos pelas ruas, hoje disputamos espaços com as máquinas que tomam também os passeios que, em teoria, deveriam ser apenas dos pedestres, os pobres coitados transeuntes , vulgarmente conhecidos como pedestres . O que se viu foi que, qualquer pessoa que se coloque por trás de um volante e dirija um automóvel, se julga a pessoa mais importantes do mundo e que tem prioridade para passar, porque, via de regra , tem sempre algo de urgente para resolver, piorando ainda mais a situação depois que apareceram os celulares. Aí , então , como boa parte da população tem carro e a maioria, até mesmo quem arrasta uma sandália japonesa, e anda de bicicleta, tem um celular, a coisa foi de mal a pior...
Voltando atrás: os primeiros automóveis eram uma geringonça engraçada. Eu disse geringonça e eram mesmo. Eram bonitos, pelo menos para o padrão da época, elegantes. Todos pintados na cor preta com pintura esmaltada a fogo, nada de tintas sintéticas ! E a chaparia ? Nossa ! Como era forte ! Essa mania de carros coloridos é coisa moderna. Quando eu tinha os meus 10 anos, o meu avô comprou um carro de capota de lona mas ficou pouco tempo com ele. Preferiu o bonde ,porque achou o carro complicado ! Os estofamentos não eram grande coisa e o sistema de amortecimento, uma lástima ! Na possibilidade de cair em um buraco, o motorista avisava: segurem-se !... – Bebia muita gasolina e a água fervia constantemente. Os pneus, depois de algum tempo, costumavam estourar , coisa que hoje já não acontece mais. Era comum ouvir-se um estouro e então já sabíamos que um pneu havia estourado. Se possível, íamos até o local para ver... O motor , dava partida a manivela , que se encaixava no motor através de um buraco na frente , e que tinha que ser girada com força e rapidez, muitas vezes dava “ uma reversão”, vitimando o motorista paramentado de boné, óculos de piloto , guarda-pó e até , polainas lustrosas e esmaltadas ! Muitas vezes era o próprio piloto que, estando sozinho, tentava fazer as duas coisas... girar a manivela fazendo o motor pegar e correr para acelerar, afim de não perder a explosão da máquina ...era uma cena engraçada...!!!! Cena de filme, ainda dos filmes mudos e de pantomina ! Muitas vezes acontecia que a tentativa tinha que ser realizada diversas vezes...
Era absolutamente indispensável ter um kit de Michelin para consertar uma câmara na rua , caso um pneu furasse.O michelin era uma espécie de cola-tudo que se comprava num estojo redondo do tipo canela em pó , com uma tampa parecendo um ralador de queijo que servia para lixar a borracha no local onde seria feito o remendo e um pedaço de borracha para cobrir o furo... Era uma operação difícil que deixava qualquer chaufer – era chaufer mesmo, em francês , maluco, a ponto de arrancar os cabelos ! Já pensou em viver uma situação como essa numa estrada deserta onde somente e esporadicamente passava alguém... ?
O maior problema, que era sério, era tirar o pneu da jante ... era uma luta inglória e não eram todos os pilotos que conseguiam...Já pensou em desmontar um pneu sem ferramentas adequadas ? Hoje é fácil, porque um pneu já não mais explode e, ainda por cima não perde ar com facilidade , dando tempo suficiente para ir até o borracheiro, com , ainda , uma boa reserva de ar. É claro que nem os pneus nem as câmaras tinham as qualidades dos de hoje, que nem mesmo câmaras têm mais. Câmaras são coisas do passado. Hoje usamos pneus sem câmara , que são fabricados com uma trama de aço dentro da borracha, oferecendo uma senhora garantia . Quanta diferença , hein ?
E as peripécias dentro de um calhambeque daqueles num dia de chuva , temporal ou vento forte ? Entrava água por todos os lados e por todos os cantos. O melhor mesmo era não colocar a engenhoca em baixo d’água...era melhor mesmo não pensar em sair em dias de chuva . E, o que dizer do limpador de parabrisas ? Tinha que ser acionado a mão, criando mais uma dificuldade , pois era preciso pilotar o carro, defender-se da chuva , do vento e do frio. Dose demais para um motorista só . Perdão, chaufer...
Bem, mas os carros melhoram, chegaram a um ponto inimaginável e hoje são verdadeiras maravilhas computadorizadas e orientadas até por satélites. É verdade que custam fortunas. Mas há os populares que estão a quilômetros de distâncias dos modernos, mas que também andam... A verdade, no entanto, é que os carros sofisticados de hoje não existiriam sem que antes tivessem aparecidos os saudosos calhambeques , que evoluíram também para os veículos pesados de diversas natureza e para qualquer tipo de trabalhos pesados....

Pilotar um dos primeiros carros foi mesmo uma façanha . Usava-se guarda-pó para viajar nas estradas, que eram de barro, e óculos por causa da poeira. Os pioneiros sofreram. Os carros de hoje são outra coisa, mas tenho saudades dos Fordecos e calhambeques. Fomos amigos no passado. Seja como for, entre antes e agora, as minhas homenagens àqueles que bravamente contribuíram para fazer chegar até nós os veículos macios e potentes que já se tornaram comuns , mas que devem a muita gente a sua trajetória de sucesso e desenvolvimento técnico que trilharam até hoje. Sem os carros, ou seja, sem os veículos a motor, certamente, o mundo de hoje seria inconcebível, graças as rodas e aos motores. O problema maior é que hoje já nos arrependemos de haver tornado o mundo o que é, por conta do que se chamava e se chama progresso. O progresso veio, e, com ele , os congestionamentos, cidades saturadas de trânsito e o nosso estress por força de esforços e preocupações maiores para enfrentar a vida ..
O sucesso e a utilidade dos carros, veículos a motor , foi tão grande e importante , junto com outras máquinas, que nos asfixiaram e encheram todos os espaços das cidades mais importantes de maneira a nos tornar reféns deles.

De minha parte, cheguei a um ponto em que desisti do automóvel e só o utilizo mesmo em caso de necessidade . Ando mesmo é de busu e rodo a cidade inteira sem me preocupar com os congestionamentos , sem me estressar , com a vantagem de, se o pneu furar e motor encrencar , poder descer e pegar o que vem mais atrás... não importa para onde vá...Vou indo ! Essa parte, fica para o motorista , que é profissional que ganha a vida fazendo tudo isto por nós e nos levando para onde desejamos ir.

Aliás, o que mais me perturba não são mesmo os engarrafamentos nem o meu estresse. É que, saindo com o meu veículo , no momento que vou estacionar, aparece um cara que eu nunca vi, como aconteceu hoje na hora do almoço, que se declara dono do pedaço...e olha que já pagamos impostos para circular e, inclusive , estacionar, mas, aí, vem a Prefeitura também e institui uma tal de “ Zona azul “ lhe obrigando a pagar uma taxa para estacionar pelo espaço de duas horas ,não renovável, porque o estacionamento é rotativo. E olha que dizem que a praça é do povo ...

Sarnelli 30.01.2008

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

INFORMAÇÃO ÚTIL SOBRE O VICK VAPORUB
Durante uma conferencia sobre Óleos Essenciais, comentavam como a planta dos pés pode absorver os óleos.
O exemplo consistia em colocar alho na planta dos pés e aos 20 minutos, já podia sentir o sabor na boca!
Alguns de nós temos usado o Vick Vaporub durante muitos anos como remédio para muitas coisas, desde lábios machucados até dedos dos pés inflamados e muitas outras partes da pele.
Mas nunca tínhamos escutado sobre isto.
E acredite, porque funciona em 100% das vezes que se faz, apesar dos cientistas que descobriram realmente não estarem seguros de como isso acontece.
Para deter a tosse noturna de um menino (ou de um adulto), espalhe Vick Vaporub generosamente sobre a planta dos pés e logo cubra com meias.
Mesmo a tosse mais persistente, forte e profunda se deterá no máximo em uns 5 minutos e darão muitas horas de alivio.
Funcionam 100% das vezes que se faz e é mais eficaz nas crianças.
Além disso, é extremamente calmante e reconfortante, enquanto dormem profundamente.
É surpreendente ver que é mais eficiente que os medicamentos prescritos para as crianças tomarem a noite.
Se você tem filhos, netos ou Amigos idosos, repasse esta mensagem.
E se você estiver com tosses fortes, comprove em você mesmo e ficara maravilhado quando ver e sentir como funciona.
NOTA - Agora se você prefere tomar remédios.....esqueça

Baixado de PPS s que circulam pela Internet - Comprovado

Os carnavais de ontem e de hoje


Preparando o ambiente para as festas que estão chegando .

Operários da Prefeitura sinalizando os meio-fios no largo da Mariquita.

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Como era antigamente e como é hoje...

É... nada a ver uns com os outros...

Falta pouco para o carnaval do ano de 2009.

Antes dele, no entanto, teremos ainda a grande festa de Yemanjá, a Rainha do Mar, que acontecerá no dia dois de fevereiro, na praia de Santana, no Rio Vermelho, Salvador/Ba. Depois, teremos um período de calmaria... até começarem as micaretas e recomeçarem os ensaios...

Uma nova fonte de renda para os carnavalescos profissionais .


Os principais circuitos por onde passarão os trios elétricos, blocos e o povão , estão sendo preparados para a grande festa, que é a maior do mundo que acontece nas ruas e que dura, em Salvador, na verdade, uma semana, sem contar, naturalmente, os carnavais isolados que antecedem a festa principal , nem os ensaios que já viraram rotinas e que terminam mesmo em carnavais, que acontecem em bairros , e aqueles antecipados , por conta dos preparativos para os grandes dias...

Na verdade, já não há mais espaço para o carnaval em Salvador, que a cada ano cresce mais um pouquinho e, por isto mesmo, acabou sendo descentralizado e tomou diversas áreas da cidade. No Pelô, continua acontecendo aquele carnaval à moda antiga com diversas bandinhas tocando velhas marchinhas e circulando pelas ruas estreitas do conjunto, num trajeto previsto para não se encontrarem...É um carnaval da saudade. Muito concorrido, principalmente por quém leva crianças, porque nas outras áreas a coisa é muito violenta. Carnaval atrás do trio elétrico não é coisa para crianças e nem para pessoas idosas. O centro da cidade, onde acontecia o tradicional desfile dos clubes carnavalescos e o corso, com direito a lança-perfume, serpentinas e confetis, tem o seu circuito mantido , mas , como tudo muda o tempo todo, agora circulam apenas alguns trios com milhares de foliões que lhes vão atrás. Nada mais de mocinhas bonitas e de fantasias personalizadas , mascarados e mascaradas, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens , pessoas circulando na figura de piratas, colombinas, pierrots , ou ainda caricaturando alguma figura importante da época. As famílias que colocavam as suas cadeiras e bancos velhos ao longo da avenida principal da cidade, amarradas com arames, pedaços de fios elétricos, cordinhas, umas nas outras e até mesmo nas árvores , já não vão mais lá...Quém é maluco de colocar cadeiras e bancos e se expor na avenida na frente daqueles milhares de malucos que passam saltando e bebendo com a caldeira a toda pressão , atrás dos trios elétricos ? Nada mais de corso com aquela imensa fila de carros com as capotas arriadas e cheios de garotas bonitas atirando serpentinas, confetis e até atingindo as pessoas com aquele jato gelado da lança-perfume ( comum na época e válida até que o Presidente Jânio da Silva Quadros a proibiu. De quebra, proibiu também a briga de galos ,cujos galináceos nada tinham a ver com o carnaval ) , à medida que o corso se deslocava lentamente. Bem tenho que falar, então, do mais novo circuito criado há alguns anos , que vai do Farol da Barra à Praia de Ondina, paralelamente a orla marítima . É nesse trecho que se concentra a folia maior e são montados os já famosos camarotes que viraram um comércio à parte, e do pesado. Muita grana, rola naqueles camarotes ! Centenas e centenas de metros da avenida Oceânica, até mesmo mais de quilômetro, são ocupados por camarotes que dispõem de todas as mordomias para quém pode pagar e assistir de perto as dezenas de trios elétricos passarem, puxados por artistas de renome como Daniela Mercury , Sangalo e outras celebridades carnavalescas. Mos camarotes ? Mordomias de hotéis 5 estrelas , com segurança, assistência médica, locais para descanso, ar condicionado ,etc . Para aguentar um carnaval como o de Salvador , é preciso muita disposição, preparo físico dinheiro para tudo e até para o abadá , que pode ser comprado a prestação a partir logo do primeiro dia pós o término do carnaval, ou seja: a partir já da quarta feira de cinzas , pode sair correndo para comprar o abadá para o seu carnaval do ano seguinte. Se morrer antes, o seu herdeiro fica com ele e continua pagando as prestações porque não dá para perder tal preciosidade , já que a disputa é grande e, no final, acontece até o cambio negro...

Sim, é preciso, também, disposição para suportar o barulho que chamam de música ,no volume acima dos 120 decibéis. Todos os anos a Prefeitura anuncia que vai fiscalizar, que vai multar etc., mas é sempre a mesma coisa e tudo dá em nada ! Aquelas parafernálias montadas sobre os caminhões que vêm a ser os trios elétricos, deixam todo mundo maluco , até e principalmente quém lhe vai atrás consumindo latas e mais latas de cerveja geladinha que o próprio bloco fornece. A compra de um abadá ( que substituíu todos os outros tipos de vestimentas e fantasias ) , além da garantia do lugar para sair junto com o trio ou com o bloco, destina uma quota de latinhas para cada folião, para cada dia que vai às ruas. O som do trio elétrico é contagiante , embora barulhento. É como diz o Caetano Veloso em uma das suas músicas: " atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu " - e eu acrescento: e quem não está por perto. .. Mas o carnaval é uma festa democrática. Ninguem precisa de gravata borboleta nem de tênis de marca . Pode ir de sandália japonesa mesmo e apenas de calção de banho . Só não pode ir pelado. Também, seria demais ... Qualquer um pode ir atrás dos trios, só que corre por fora das cordas. Por dentro delas, com direito a segurança e tudo o mais, só quem for titular de um abadá... que é, na realidade, o " passaporte " para participar da folia naquele trio ou naquele bloco.

Em 50 anos , aquela brincadeira do Dodô e Osmar com a Fubeca e o " pau elétrico " , tomou proporções gigantescas e hoje é uma atividade que movimenta milhões e milhões e fornece trabalho o ano inteiro, chegando mesmo a ser um dos principais produtos vendidos para outros estados e até para o exterior. Aliás , eu, pessoalmente, estou convencido de que os dois amigos não sabiam o que estavam aprontando ... No final, acho, ainda, que foram eles os que menos tiraram proveito da invenção que já completou bodas de ouro. O resultado ,foi que a evolução da idéia, da brincadeira de Dodô e Osmar , em pouco tempo , acabou com os clubes carnavalescos uma vez que os foliões foram sugados pelos trios elétricos. Não restou nenhum clube para contar a história...O carnaval saíu dos salões para as ruas...

Estamos a menos de um mês da grande bagunça e a montagem das estruturas dos camarotes vai em frente a todo vapor. É preciso preparar as avenidas e os pontos por onde a loucura passará. É preciso instalar, também, postos policiais e médicos para atender as emergências que sempre acontecem. Ou por motivo de brigas, ou ainda por efeito de bebidas, porque, para brincar uma semana inteira praticamente sem parar, o folião tem mesmo que estar álcoolizado, pelo menos até um certo ponto , mas há os que passam dos limites e passam a fazer parte das estatísticas. Se, por um lado, o carnaval se transformou numa festa grandiosa e violenta, por outro é um grande gerador de trabalho já que envolve uma gama enorme de atividades, gerando empregos temporários e portanto renda para uma boa parte da população e para o próprio município . São prestadores de serviços, hotéis, pensões, restaurantes , vendedores ambulantes, taxistas ,etc. e bote etc. nisto...Na legião de vendedodres ambulantes que se beneficiam do carnaval , chega a haver a invasão de gente de cidades do interior , que se deslocam para explorar a festa , frente a possibilidade de faturar uma graninha a mais . Mas não há consenso. Sempre acontecem choques entre os de Salvador e de fora...A Prefeitura fatura em cima dos ambulantes, cobrando uma taxa de licença. Os de fora ,chegam caladinhos, procuram uma brecha e se instalam...

Nada mais nada menos, se calcula que nos dias de carnaval dois milhões de pessoas estarão nas ruas dando vazão aos seus sonhos contidos durante um ano de trabalho, quando aproveitam para fazer tudo aquilo que, em condiçlões normais, não têm coragem para fazer... como diz o ditado popular: " para soltar a franga ". É uma festa democrática. Ninguém quer saber quem é quem e todo mundo brinca com todo mundo . É claro que é montado um enorme esquema de segurança, mas, como conter uma multidão enlouquecida, com uma lata de cerveja nas mãos, quantas mais não se sabe dentro da cabeça e até uma droguinha que sempre aparece não se sabe como ? Só no pau ! E aí, quando a coisa estoura, nós vemos aquelas cenas que as TVs mostrando da polícia mandando o pau, Certo. Há exageros , mas... Ah, sim... Cuidado com os foliões que vão para o meio da multidão para roubar, assaltar e fazer maldades sem o menor motivo. No balanço, sempre tem algumas centenas de presos que só são liberados após o término da festa e alguns que ,diretamente do IML , vão para algum cemitério da cidade . Sempre acontece, infelizmente. Na quarta feira de cinzas a festa continua. Se prolonga até o pôr do sol e durante a manhã o encerramento na Barra é feito pelo Bloco dos Garis que trabalharam durante todos os dias da festa , mas que cobram um tempinho para, tambem, se divertirem. É o arrastão final . Pelo chão , sobre o asfalto negro , corpos espalhados de pessoas que desmoronaram de exaustão ou devido a bebidas e que dormem a sono solto sob um sol forte, por horas segidas, até poderem levantar e pegar o rumo de casa . A partir daí não será preciso esperar muito porque , depois de quarenta dias, começam a pipocar as micaretas pelas cidades do interior gerando uma nova e grande movimentação...

Puxa, eu estava esquecendo de que em alguns bairros também há carnaval. Há sim! Ainda bem... Se todo mundo viesse para os circuitos principais...

Oito ou nove meses depois, a cegonha trás o efeito colateral de quém despresou as camisinhas distribuídas gratuita e fartamente pelo governo , por nossa conta, diga-se de passagem . São os filhos do carnaval , os quais, muitas vezes ,não chegam a saber quem é o pai, pois a mamãe estava doidona e não se lembra... Não consegue se lembrar nem com quem esteve nem com quantos...

Sarnelli , 27.01.2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um fim de semana na Quinta Portuguesa

Há muito tempo que eu e Paola estávamos necessitando de uma escapada da nossa rotina de casa. Foi assim que bolamos um fim de semana longe do nosso dia a dia, que aconteceu no fim de um mês de junho de um ano qualquer. Poderia ter sido em 2.000, 2003, não importa quando foi , porque, na essência, o que nos aconteceu pooderia e pode ocorrer em qualquer tempo... Escolhemos a Quinta Portuguesa por influência e informações de amigos e ainda porque era tudo o que nós queríamos: afastarmo-nos de casa sem sair da cidade, sem sermos obrigados a longas viagens e aqueles processos de embarque e desembarques em aeroportos, manipulação de bagagens , etc. O avião , não nos faria falta, pois estaríamos ouvindo constantemente o barulho das suas turbinas voando baixo, sobre as nossas cabeças, já que o local que escolhemos para nos esconder estava bem camufladinho, porém bem pertinho do aeroporto de Salvador. Estaríamos, também, evitando longas faixas de asfalto , se pegássemos o acesso norte e saíssemos por aí... O local impressiona. Tanto pela sua grandeza como pelas suas instalações cuidadosamente projetadas para pessoas da terceira idade e para quém, de alguma maneira, como nós, desejasse se afastar, pelo menos alguns dias , da movimentação e dos barulhos da cidade. Claro que fomos de carro , levando tudo o que imaginávamos que iríamos necessitar durante a semana que por lá estaríamos, até uma TV de 17" . A Quinta é dependente do Hospital Português que realiza, através dela, uma política de beneficência para os cidadões portugueses e seus dependentes, residentes em Salvador . O ambiente funciona com uma rígidida disciplina e tem hora para tudo. Para o café da manhã, para o almoço e jantar. Você fica esperando o toque do sino que é uma das maiores preocupações dos presentes... Quando fomos, a Quinta estava vazia. No máximo umas dez pessoas , todas idosas. Os mais jovens éramos nós mesmos. O interessante foi que só víamos as pessoas nos horários das refeições, pois, logo a seguir, desapareciam para reaparecerem nas próximas badaladas do sino. Tudo lá era do bom e do melhor e, como não poderia deixar de ser, o ambiente português mesmo. O café da manhã só saía a partir das 8 horas, o almoço às 13 e o jantar só depois das 19 horas. Durante os dias que lá passamos , tivemos oportunidades em que sentimos fome, mas fazer o que , se não esperar o som das badaladas dos sinos ? Com um espaço tão grande entre as refeições, era muito natural que a expectativa fosse grande, quase insuportável , mesmo porque as refeições, ainda que sadias e bem feitas, eram, de certa maneira, leves. Mas o ambiente era legal. Muito espaço, muitos salões, até demais, bem mobiliados, não apenas com móveis maciços , como também com cerâmicas e grandes tapetes. Grandes espelhos em lindas molduras. Eram muitos salões e eu não me interessei em explorar todas as dependências da Quinta. Só de cozinhas, eram duas, muito bem montadas e, sobretudo, totalmente limpas e brilhantes . Salas de convenções ? Haviam duas ! Ah, sim, a piscina ! Uma maravilha. Estávamos num espaço tão grande, cheio de árvores de grande porte, como jaqueiras, castanhas do Pará, mangueiras, abacateiros e até uma grande quantidade de eucaliptos. É claro que apanhei alguns galhos com folhas para fazer uns chás , dos quais sempre gostei.Bem, em baixo de todas aquelas árvores, uma bela pista calçada a paralelepípedos na qual, todas as manhãs e todas as tardes , fazíamos o nosso cooper. Nem sempre eu e Paola íamos no mesmo horário. Só nos faltou mesmo dentro da Quinta foi companhia para um bom bate papo mas, tranquilidade, foi algo que nos sobrou. Estive algumas vezes na piscina, sempre solitário. Beleza de água ! Durante o período fui o único hóspede que se utilizou da piscina. O nosso apartamento tinha uma bela vista para a piscina e para a mata ao redor. Havia um passarinho que resolveu incomodar e fazer vezes de despertador... Diariamente, às cinco della mattina, se instalava no alto de um galho seco e começava a cantoria a pleno pulmões. Não havia o que fazer. Nao havia como mandá-lo cantar em outra freguesia ... A solução mesmo era levantar e partir para o cooper, com apenas um cafezinho roubado na cozinha... quando ainda os poucos hóspedes da quinta dormiam. Eu caminhava uma hora pela manhã e outra pela tarde. Nem é preciso dizer que a Paola foi logo se encaixando no ambiente, fazendo amizades e conversando com as pessoas idosas, certamente se ocupando delas. Para mim , não havia companhia não. Eu seguia em frente solitário e a minha companhia era mesmo a Paola que, na prática, só a via nas horas das refeições e quando nos recolhíamos. Comia-se bem, variado e em quantidade. Cada qual se servia sobre o balcão de mármore. Paola fez amizade com toda a velharia da casa mas cada uma delas tinha uma mania diferente e horários desencontrados. No refeitório, tínhamos um casal interessante. Ele chegava primeiro, se acomodava, se servia e começava a almoçar sem esperar a esposa, uma senhora de 80 ou mais anos, bem acabadinha. Ele demonstrava um vigor físico maior. Ela andava arrastando os chinelos pelo chão e tinha um problema de pálpebra caída , agravado por cataratas.Quando ela conseguia chegar à sua mesa do café, almoço ou janta, já era hora de o marido estar levantando e indo embora sem dizer coisa alguma... usavam mesas distintas , levando, invariavelmente, em baixo do braço, uma caixinha contendo coisas que, provavelmente, eram remédios e a mulher continuava lá , propsseguindo na sua refeição vagarosamente, algumas vezes ajudada por alguém que a servia , para que não fosse até o balcão . Apesar de tudo , era um pessoa lúcida e de boa conversa , com quem a Paola também fez amizade. Paola fez amizades suficientes para provocar um pouco de ciúmes entre as amigas...O que facilitava um pouco era que cada um tinha um horário diferente da outra e dava para ir levando. As pessoas costumavam ir dormir depois do almoço, para reaparecer no toque do sino do sinal do jantar. Terminado o jantar, sumia todo mundo recolhido ao próprio apartamento . A maioria das pessoas presentes eram solitárias. Algumas já moravam lá mesmo há anos e recebiam nos fins de semanas visitas de parentes e amigos, ocasião em " que a população na Quinta aumentava ". Deu para pensar bastante na situação, naquilo que eu estava vendo . Na situação daqueles seres e na nossa própria, no nosso futuro... Cemecei a fazer algumas reflexões. Comecei a me ver daqui a alguns anos arrastando chinelos e aproveitando os corrimões que existem em todos os corredores da Quinta, especialmente nas escadas de poucos degraus. Passados muitos dias da nossa estada na Quinta , ainda ressoava na minha cabeça a pergunta cuja resposta, com certeza, não é nada agradável... Estávamos e continuamos indo de encontro ao tempo... Enquanto a gente aguenta o tranco, enquanto nos equilibramos sobre as nossas próprias pernas apesar de estarem sempre doendo . Tudo bem, faz parte . Qual será a sorte de cada um de nós ? Uma incognita ! Cada uma daquelas pessoas que estava morando na Quinta tinha uma história para contar. Uma vida que ficou para trás, mas nenhum futuro mais para manter a esperança... só a sua fé religiosa . Muitas senhoras estavam sempre com um Terço nas mãos...É o fim da linha neste planeta. Nós também temos a nossa, construída através dos tempos, aqueles que já se foram. Seguiremos a estrada que temos pela frente. A gente dá uma paradinha, olha para trás, estaciona no presente e tenta vislumbrar o futuro sem sabermos qual será a sorte de cada um. É aí que a coisa pega. O passado, sabemos como foi . O presente, estamos vivendo no dia a dia mas, o futuro, nem sabemos se haverá... não há como avaliá-lo , agora que estamos descendo o outro lado da montanha. Vai depender da sorte e do destino de cada qual, se é que ele já vem traçado. Vai depender, também, das pessoas que nos circundam , já que todos têm influência sobre todos e sobre tudo, acredito eu. Foi assim que, o que vi naquela Quinta, me pôs a pensar e a refletir sobre a história e o drama de cada um de nós que vive e a ter receio de como é que será o final... Esse, é o futuro !...

Ah, sim. Quando voltamos à Quinta uma segunda vez, aquela senhora da pálpebra caída, se lembra dela ? Já não estava mais lá...

Sarnell19.01.2009

Painel Comemorativo do aniversário de 500 anos de Salvador

Este painel foi recuperado por ocasião do aniversário dos 500 anos de Salvador. Está instalado no Porto da Barra , juntamente como marco da posse . Foi na praia do Porto da Barra que Tomé de Souza desembarcou para fundar a cidade de Salvador.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Me recuso a envelhecer





Muitas vezes me apanho pensando sobre o tempo e como ele passa rápido !
Vejo as pessoas que eu vi quando criança , crianças ainda , mesmo diferentes, envelhecidas e muito e vezes comento: como fulano envelheceu !
Ficou careca , face enrugada , ombros um pouco caídos e também levemente curvados , caminha lentamente arrastando os pés, dizem uns que por culpa do peso do tempo...Uma dificuldade, para subir no ônibus ! E aquela menina bonita e viçosa consumida pelo tempo que passou ? Claro que já não é mais a mesma. Em nada lembra aquela linda moça de 30 ou 40 anos atrás . E eu sigo com o meu raciocínio , observando as pessoas que conheci de um jeito e que agora as vejo de forma diferente . Todas as pessoas , ou melhor, crianças que cresceram junto comigo , se tornaram adultas, criaram famílias e agora vejo os seus filhos e netos, crianças ainda, iniciando o ciclo da vida pelo tempo afora a fazer o mesmo caminho que trilhamos até hoje. É verdade que muitos amigos já se foram , mas deixaram descendentes ; Outros continuam aí sofrendo os efeitos do que chamam de envelhecimento mas é preciso saber envelhecer e valorizar os conhecimentos adquiridos durante a vida para sabermos usar a vitalidade da nossa mente, do nosso humor, compensando a diminuição do vigor físico. É aí que você muda do status de velho, para idoso, porque, este último, continua olhando para o futuro... Afinal de contas, não precisamos andar com pressa, nem correr contra o tempo. Temos mesmo que ir devagar...;Claro que o nosso aspecto vai se modificando aos poucos, sem que realmente sintamos, mas há , em muitas pessoas , o envelhecimento pior do que o do corpo físico que nos emprestaram . Acompanham o envelhecimento e as limitações do corpo físico deixando que o seu próprio espírito ceda, lentamente , às limitações do corpo, ou seja tudo envelhece junto e o que chamam hoje de qualidade de vida se deteriora de vez.
Eu me recuso a envelhecer . Na verdade, não senti o tempo passar, mas absorvi as limitações que o tempo impôs ao meu corpo físico. É claro que não posso fazer mais certas coisas como eu dizia, e sempre disse. Quando eu queria um coco, subia na planta e ia apanhá-lo lá em cima. Hoje , esgotadas as forças da juventude , compro o coco na barraca, mando abri-lo e tomo a água através do canudinho. Mas, como estava dizendo , não senti o tempo passar e continuo sempre a mesma criança de sempre. Claro que passei a vida trabalhando, pois precisava, como todo mundo, sobreviver e, sobretudo, manter a família que formei . Claro que tive os meus anos de adulto e que tive que enfrentar a vida como adulto e responsável, me defender de muitas coisas, mas a criança que existe dentro de mim não sentiu o tempo passar e sempre foi junto comigo para o trabalho, sem atrapalhar ... . São duas coisas diferentes. A mente e o corpo físico. A mente, pelo menos até hoje, vai bem obrigado . Não parece ter atravessado o tempo sentindo, o peso de pouco mais de sete décadas e meia de vida, pois vejo as coisas com clareza, e até me parece que muitas delas eu as percebo com mais facilidade , extraordinária rapidez , e até consigo raciocinar sobre coisas de uma certa complexidade. Até parece que, enquanto o meu corpo ia perdendo vitalidade, a minha mente reagia em contrário, procurando ser sempre mais saudável. Um e a outra, andaram em conflito ! Por isso , não posso deixar que a criança que ainda mora dentro de mim , se torne adulta para, em seguida, envelhecer .Não, criança cresce, não envelhece. Envelhece o adulto que, realmente, quer envelhecer. Preciso continuar com a mente ativa , escrevendo , mantendo contato com amigos, procurando discutir assuntos e, principalmente , me atualizando com o mundo de hoje que ficou muito diferente, pequeno , turbulento e complicado, mas que não é tão difícil de entender. Não posso deixar que o tsunami dos acontecimentos e da novidades da vida moderna,das últimas décadas , incluindo a eletrônica, me deixe no passado e portanto é necessário que de uma maneira ou de outra ou, pelo menos em parte, eu me mantenha atualizado...Eu tenho que fazer força para manter o meu humor vivo , o que, de certa forma, requer uma espécie de treinamento.Aproveitar pequenas ocorrências, para, delas, fazer uma piada , mas que seja inteligente. Continuar a praticar brincadeiras como ter sempre uma resposta pronta para as pessoas ou mesmo esconder o celular da secretária... Uma boa opção , comprovada por mim , é você, tenha a idade que tiver, se interessar pela Internet e se plugar no mundo , se encher de amigos. No início, é um pouco difícil, depois que você passou a vida montado numa máquinas de escrever ( dactilográfica ), mas, com o tempo , você vai chegando lá, da mesma forma que eu cheguei e vai ter muito o que fazer...
Me recuso a envelhecer ! Exijo continuar idoso ! Claro que é preciso cuidar do corpo , ter diversos tipos de lazer, mas, se você tiver vontade de escrever as suas memórias , por que não meter mãos à obra ? Garanto que você vai reviver todos os momentos que recuperar dos tempos passados e até se emocionar. Mantenha o bom humor e não perca uma oportunidade de fazer uma piada com coisinhas do dia a dia...ou seja, mantenha a lingua e a mente afiadas... E não perca, também, a oportunidade de fazer algumas peraltices como fazia quando o seu corpo ainda era criança e, sobretudo, nunca deixe de brincar com crianças . Curta todos os sorrisos delas, que você conseguir. Você vai se sentir outro . Tudo isto é passível de acontecer proporcionando uma viagem no túnel do tempo. Você pode voltar mentalmente aos seus 17 ou mesmo 20 anos , à idade que quiser, mesmo que hoje esteja na casa do 70 ou mais . O corpo físico não acompanha a mente porque esta não envelhece e nós não podemos, em hipótese alguma, permitir que ela, A mente , se torne passiva e preguiçosa , junto com o corpo, à medida que o tempo o desgasta. Não, com a mente e o nosso humor, o tempo não tem vez.... Até nos rimos dele... É até engraçado quando coloco a cara em frente ao espelho para fazer a barba . Me vejo , mas custo a acreditar que aquela imagem seja a minha. Eu, simplesmente, não me sinto daquele jeito. Não aquele não sou eu !...Dentro de mim, eu não sou aquele. Eu continuo sendo eu , o jovem de sempre , o idoso de hoje ...!

Sarnelli, em 14.01.2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

como nasceu uma linda amizade






Há cerca de uns cinco ou seis anos decidi ingressar no universo da Internet já com uma idade razoável , considerando que as crianças de hoje , já a partir dos três anos de idade, estão familiarizadas com micros e até já mexem com eles. Acontece com a minha netinha que, quando vem aqui em casa, vem logo se sentar no meu colo e mete as mãozinhas no teclado ...
Já eu, passei a vida “ dactilografando “ coisas em máquinas dactilográficas ou de escrever das marcas Underwood, Lexicon , Smith Corona , Olivetti ,Remington , Royal, objetos que muitos jovens de hoje sequer viram em museu ! Me relataram um caso em que o jovem perguntou à mãe: mãe, o que é uma “Olivetti ?”...Esse jovem, certamente, nasceu pertencendo à era virtual...
É claro que fiz o curso de “ dactilografia “ , com direito a diploma e tudo , algo muito importante na época... É raro, mas raro mesmo, encontrar uma máquina de escrever que ainda esteja sendo utilizada...Pois bem, depois de passar a vida dactilografando naquelas coisas que ficaram antigas , resolvi partir para modernidade e mesmo para ter com que ocupar parte do meu tempo de aposentado.. Para não me deixar ficar atrás no tempo . . Comprei o meu primeiro micro , sozinho, confiado apenas no prestígio do fornecedor e não me dei mal. Poderia ter comprado algo melhor, mas o que comprei serviu para mim, por muito tempo, pelo menos enquanto fui aprendendo e descobrindo algumas coisas. Já tinha o micro em casa, mas não podia mexer nele. Precisava ser instalado e eu necessitava aprender a trabalhar com ele. O caminho mais curto foi um curso. Me matriculei. No dia e na hora certa lá estava eu na sala de espera . Havia, entre outras pessoas, uma jovem senhora que também aguardava . Coincidiu que eu e ela chegamos juntos à porta na hora da entrada e um fato interessante. Quando ela viu que, dentro da sala, só havia garotos , gurís , deu um passo para trás e disse; “ eu não vou entrar nessa sala não !...Peguei-a pelo braço e disse, vai sim...e foi assim que nós dois , de braços dados , entramos na sala para a nossa primeira aula... Eu fiquei sendo o avô da turma e ela, evidentemente , que a tia... A parte interessante da coisa foi que eu ingressei no ramo porque me atraía, mas a Ana , por um motivo especial. Ela me dizia : cada vez que me apresentam alguém, a pessoa me pergunta : “ qual é o seu mail? “ – e eu não tenho mail !...Quer dizer: não tinha identificação civil na era da eletrônica ! É possível ? Naquele curso, na verdade, aprendemos bem pouca coisa. Acho que apenas a ligar e a desligar os aparelhos. Era tanta coisa, que não entrava de vez na cabeça , ainda mais porque as aulas eram corridas . Se perdesse algo, estava perdido mesmo. Ainda hoje, ando descobrindo coisas ! Eu e a moça que estou chamando de Ana , fizemos o curso, ficamos amigos e mantemos contato até hoje , inclusive vez por outra ela nos telefona, nos visita, a mim e à minha mulher, em casa. Mas, depois desse, para continuar sabendo quase nada e tendo que descobrir as coisas na marra, ainda tentei mais dois que não acrescentaram muita coisa . Na verdade, não há manual que ensine todos os segredos dos micros e cada um de nós o utiliza apenas de acordo com as suas necessidades dentro dos limites do seu desejo e do que é possível fazer. Não há tempo para explorar totalmente um micro. É impossível... O Único jeito mesmo é quebrar a cabeça e perguntar uma coisa a um, outra a outro amigo, uma parte descobrir por teimosia...e seguir lutando...porque todos os dias têm novidades. De repente, sem querer , você descobre algo e custa a saber como conseguiu fazer aquilo...
Um amigo meu, instalou o meu primeiro micro, inclusive o scaner e a impressora, e toquei o barco. Tinha dias que só faltava enlouquecer, pois aconteciam cada nós, que, para desatar , tinha que recorrer a algumas telefonemas. Aos trancos e barrancos fui indo e comecei a entrar na Internet . O sofrimento era maior porque, naquele tempo, a Internet na minha zona era discada... Mas, me comunicar com quem ? Não tinha endereços e era desconhecido . Ouvi falar de umas tais salas de Chat e numa tarde que penso que foi de domingo , entrei numa delas e fiquei peruando até que encontrei alguém com quem falei um pouco mais...Na verdade, não gostei do tipo de conversa da turma braba que estava no ar . Não fiquei muito tempo no ar,. mas o suficiente para pedir o endereço da moça que, surpreendentemente , me deu e eu anotei, deixando o quadradinho de papel sobre a minha mesa, praticamente esquecido. Eu havia encontrado alguém diferente no meio daqueles jovens que só diziam bobeiras e que não estavam identificados pelos seus nomes verdadeiros. Pior: nem sabia onde estavam ! Por conta disso, diziam o que queriam e bem entendessem ... Um belo dia , me entra uma mensagem assinada pela pessoa . Estranho, dizia para mim, eu já vi este nome em algum lugar. Remexi nos meus papéis e constatei que era da pessoa com quem eu havia conversado no Chat. Respondi e, a partir daí , começamos a nos identificar, mas não foi esclarecido até hoje como e porque a pessoa, no caso uma moça, havia mandado aquele mail para mim. Ela nunca soube se explicar... O fato foi que o tempo foi passando e cada vez mais nos identificávamos um com o outro e a nossa troca de correspondência passou a ser normal, quase diária . Há coisa de dois ou três anos, tendo ido à S.Paulo, onde mora uma irmã da minha esposa, demos uma esticadinha até o RS e nos conhecemos pessoalmente. Eu estava acompanhado da minha mulher e ela , que chamarei Rosa, pelo seu marido. Daí para cá a amizade só cresceu . Quando viajei para o sul, eu tinha sabido que ela tinha estado em Porto Seguro onde comprara um “ preto velho “ o qual, infelizmente , chegou em casa transformado em cacos de barros, fato que muito a entristeceu. Levei de lembrança um preto velho comprado no Mercado Modelo , que fez a sua alegria. Os nossos contatos podem ser considerados quase que diários. Conseguimos , de um fortuito encontro no ar, construir uma bela amizade. Tem havido muitas coincidências, mas muitas mesmo, nas nossas vidas. A primeira delas, foi ela ter entrado naquele Chat sem saber porque e eu também. Até parece que nós tínhamos um encontro nos ar...e a Rosa nem sabe explicar porque me meu o endereço, muito menos porque mandou aquele tal de mail...
Claro que , com o passar do tempo, fiz outras boas amizades e hoje a Internet , as amigas e amigos, fazem parte do meu dia a dia . Não dá para explicar, mas cria-se uma ligação muito forte entre as pessoas, estejam onde estiverem , que passam a fazer parte de uma família virtual a tal ponto interligada , que, uma pequena demora nos contatos começa a preocupar... Agora, por exemplo, neste período de férias de fim e começo de ano , estou me sentindo meio abandonado mas sei , ou melhor, percebo, que a maioria dos meus amigos e amigas de todos os dias que estão ausentes, estão usufruindo de merecidas férias. Com certeza, após o carnaval , nos reuniremos de novo e teremos um 2009 Feliz.

Sarnelli, em 09.01.2009.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009







O casamento do Lamparina...

Não tenho boa memória para números e datas, mas acho que foi lá pelos anos de 1954 ou 55. Só tenho a certeza mesmo, que foi para o casamento do Lamparina . Este é o apelido que insistíamos em fazer pegar , e pegou , sobre o nosso grande e bom amigo...Naquela época, eu morava em Santos , peguei um Sky Master do Loide Aéreo , um quadrimotor, e voei para Salvador, pois fora convidado para o casamento do bom amigo , em uma cidade no interior da Bahia, ou seja, em Valença , no sul do estado. Tive uma escala no Rio já que vôos diretos de Sampa para Salvador ainda não existiam. Eram aviões a pistão , demoravam mais tempo e estavam sempre sujeitos vácuos pelo caminho, sofrendo seguidas quedas no espaço vazio, até encontrar sustentação de novo. Voavam relativamente baixo, esta é a diferença com os jatos de hoje que voam a mais de 10 mil metros de altura, com uma velocidade média de 800 quilômetros horários, ...com cabine pressurizada , ar condicionado e coisa e tal...O Sky Master tremia o tempo todo , sacudia , abanava as asas . Pior de tudo, quando começava a reduzir a velocidade e perder altura é que sentíamos os efeitos dos freios e da reversão... Parecia que o avião ia estourar... No fim, toda viagem de avião é boa, quando se chega...não é mesmo ?
Como sempre fazia , quando vinha para a Bahia , ficava hospedado na casa do meu amigo de infância e compadre duas vezes . Cheguei alguns dias antes , rolamos pela cidade e fizemos algumas pescarias. Eu vou deixar o personagem com o nome de Lamparina, ou melhor , com o seu apelido... Chegou o dia de seguir para Valença. Tomamos o navio “ CACHOEIRA “ para atravessar a Baía de Todos os Santos eu , o meu compadre, em companhia de uma tia e primos da Marina , a futura mulher do Lamparina , que, cabe aqui dizer, já era médico formado. O naviozinho saiu do cais da Baiana , atravessou a baía , entrou no rio Paraguassu e atracou no terminal de São Felix. Durante todo o trajeto apreciávamos o vai e vem das dezenas de saveiros de velas brancas que se moviam, empurrados pelos ventos , em todas as direções, dentro da imensa baía , a segunda maior do mundo.
Sinceramente, como marinheiros de primeira viagem, não estávamos preparados para o que aconteceu ! Ninguém nos havia avisado. Chegando ao porto, ainda de longe, vimos uma composição ferroviária com seis ou sete vagões , à espera dos passageiros . Até aí, tudo normal. O navio nem tinha atracado ainda quando o pessoal começou a saltar para terra firme correndo em direção aos vagões. Um mundo de gente pulando e correndo para ocupar lugares nos vagões. Não foi fácil não , conseguir um lugar para sentar . Havia passageiros que já haviam encomendado os seus lugares às pessoas do local , mediante, evidentemente, uma gorgetinha . Aquelas pessoas ocupavam tranqüilamente os lugares e , a seguir os entregavam aos interessados logo que chegavam sem ter necessidade de pular do navio e sair correndo. Havia gente que tomava o lugar por conta própria e depois o negociava por uns trocados. Já adivinharam que nós não conseguimos lugar algum, não é verdade ? Viajamos em pé até a cidade de Santo Antônio de Jesus , afinal,não iria ser uma longa viagem. Durante o percurso , houve uma briga dentro do nosso vagão porque um caipirão daqueles havia dado uma bruta cusparada no chão do vagão. Desaforos, palavrões, xingamentos mas, entre mortos e feridos salvaram-se todos. De Santo Antonio de Jesus, viajamos num ônibus, ou melhor num cacareco , rolando sobre uma pista de barro batido e toda esburacada . O tipo da estrada em que você desvia de um buraco para cair em outro, procurando sempre acertar no menor... dentro de uma hora, chegamos a Valença onde fomos recebidos pelo Lamparina que festejou a nossa presença . Estávamos meio mortos e cansados, mas isso o Lamparina resolveu muito rapidamente. Nos colocou no nosso apartamento, sabem onde ? No hospital da cidade! É preciso lembrar, que eu já disse que ele
era ( e ainda é) médico...Havia muitos convidados , pois o casamento do Lamparina era mesmo um acontecimento social na cidade. Afinal, quem não conhecia aquela figura , quase foclórica ?Tinhamos um apartamento,e as refeições as fazíamos na casa da família da Marina, a noiva. Chegou o dia do acontecimento. A igreja, no cocoruto de um morro de onde se tinha uma ampla visão da cidade mas um inconveniente: a subida, que pôde ser feita, também, por meio de uma longa e extenuante escada. Por que, me perguntava, colocaram uma igreja num local que exigia
tanto esforço para chegar até ela ? Subi as escadas, chegando ao alto com as pernas bambas e precisando de um tempinho para me recuperar, e olhe que eu era jovem... o casamento aconteceu na presença de uma multidão, boa parte dela fora da igreja, a festa aconteceu e deu a impressão de que toda a cidade participava dela mas, o tempo foi passando e as coisas se acomodando até que voltou a reinar a tranqüilidade no pedaço e ficamos somente nós , a família e o casal. Fomos descansar. Ficamos mais uns dias em Valença . Corremos a cidade toda eu e o meu compadre . Quando queríamos alguma coisa e entrávamos em algum local , pedíamos o que queríamos e, já na hora de pagar, a eficiência do Lamparina se manifestava . Afinal, por ali, uma palavra sua era e ainda é, com certeza, lei... Não havia na cidade um só local onde pudéssemos comprar algo. Tudo estava pago pelo Lamparina . Iria e foi tudo para a conta dele, embora, certamente, não tivéssemos abusado...Chegou o dia da volta. O nosso velho ônibus , uma longa espera pelo trem na estação e uma viagem desastrada . Num trajeto curto, a Maria Fumaça resolveu quebrar umas quatro vezes. Estávamos no meio do mato , na beira da estrada, sem recurso algum. Matávamos o tempo brincando, conversando , contando piadas. Tínhamos a companhia dos recém-casados indo para Salvador em viagem de lua de mel. Quando, finalmente, chegamos ao porto e conseguimos tomar o navio de volta , tivemos que enfrentar a mesma correria no sentido inverso. O povo pulava do trem e corria para o navio que, desta vez, estava mesmo atracado. Não dava para acompanhar. Fomos Andando calmamente mesmo e cada um de nós arranjou um cantinho para se acomodar. Enfrentamos o trajeto pelo Rio Paraguassu e depois a travessia da Baía de Todos os Santos . Que viagem ! Mas o Lamparina, merecia a nossa presença. Era e é ainda um grande amigo. Depois disso , só me restou preocupar com a viagem de volta para casa ...mais um avião, daquela vez , deixando a bela Salvador para trás !...
Sarnelli – reescrito em 10.01.2009 – Foto baixada da Internet

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Preserve a sua vida !




As festas continuam acontecendo, mas elas só devem gerar alegrias e divertimentos.

As avenidas da cidade já começaram a ser preparadas para a nossa semana de carnaval , em Fevereiro , mas, sempre haverá muitas festas antes da quarta feira de cinza... No dia 2 de fevereiro, como dizia Caymmi, será dia de festa no mar. O bairro do Rio Vermelho estará cheio de populares e turistas. Vamos brincar, minha gente, mas não vamos abusar das bebidas. Se beber, não dirija - Peça a um amigo que não bebeu, que faça isto por você.A imagem que ilustra esta postagem é uma advertência da SET que, no caso, está fazendo alguma coisa. Cliquei esta foto no Porto da Barra. Ao fundo, o Forte de Santa Maria. Vamos brincar , sem provocar tragédias . Bebida e volante é uma mistura explosiva ! !

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Ecos do passado







Ecos do passado


Em março de 1952 ( não está errado não. É 1952 mesmo ! )me muni de um passaporte italiano, Peguei um avião da Varig, um Convair, e me mandei de S.Paulo para Porto Alegre. Fiquei uma semana por lá , após a qual , procurei uma agência da Varig para fazer uma reserva num vôo para Montevideo. Foi aí que a coisa pegou !Naquela época, eu não havia completado ainda os 21 anos e o funcionário se recusou a fazer a reserva sob a alegação de que eu era menor. Concordei, tentando fazer-lhe ver que não era mais menor por força de uma emancipação legal , e comprovei com a escritura oficial, além de ter , na minha carteira de identidade Mod.19 , a anotação correspondente. Não adiantou coisa alguma . Acho que o cara nunca tinha visto um caso daquele...
De fato, ao completar os dezoito anos, me pai me emancipou e eu pude participar da empresa que tínhamos, com todos os direitos e obrigações dos maiores de 21 . Fazer o que ? Estava dado um nó no meu projeto de viagem. Só vi uma solução. Me mandei para o Juizado de Menores , onde passei o dia atrás de uma coisa e de outra, mas saí de lá com uma autorização para viajar livremente pelo país inteirinho e até ao exterior, se essa fosse a minha vontade...Documentos, não me faltavam ! Claro que viajei . Num fim de tarde, estava descendo no aeroporto internacional de Carrasco , em Montevideo!
Montevideo é uma cidade bonita e tem muito a ver com a minha Salvador , característica que lhe é dada pelas águas do Atlântico e pelas praias que são muito iguais. O porto fica dentro de uma enseada ou Baía , podendo servir com perfeição aos cenários de filmes de piratas e, aliás, esta foi a primeira idéia que me veio à cabeça.
Teve um dia que fui dar uma olhada no porto, como não poderia deixar de ser. Encostei num armazém onde um navio descarregava, sabem o que ? Latrinas !...Latrinas importadas da Inglaterra , da marca Hervy , com a indicação de Made in England ! As nossas latrinas também eram inglesas; Nós usávamos vasos importados, como outras coisa também. Telhas ? Eram francesas ! Até hoje temos casas cobertas em Salvador com telhas francesas... Aqui não se fabricava nada e tudo vinha de fora. Dependíamos do mundo inteiro ! O linho do terno branco que o baiano usava ? Era irlandês e, por aí afora...Com o tempo, é evidente que a coisa mudou, pois tudo muda o tempo todo...
Resolvi dar um passeio pela orla e peguei uma passagem num ônibus de turismo. Quer dizer, num cacareco com ampla visão , ideal para o passeio. Mas era um ônibus qualquer , um calhambeque mesmo, sem a cobertura, uma vez que fora, simplesmente, adaptado para aquele tipo de serviço . Ótimo para os dias de sol mas um pouco de chuva colocaria tudo a perder. O que não faltava era ventilação nem sol ... O passeio não me acrescentou nada de novo . Vi praias iguais às minhas mas, fosse como fosse, eu estava de férias e viajando . O passeio foi legal. Fazer nada e passear já é alguma coisa.
Bem, de Montevideo para Buenos Ayres, fui de avião. O avião de carreira era um hidro , do tipo Catalina . Para sair da água e subir não foi fácil não. A gente sentia que estava deslizando sobre a água, mas que não saía dela. Demorou um bocado para que ele, finalmente, saísse do oceano e começasse a ganhar altura. Quando o milagre aconteceu e senti que estava no ar , me perguntei como aquela zorra estava conseguindo voar . Fez tanta força para subir que pareceu que ia explodir. O interessante é que aquele monstrengo tinha dois andares e a comunicação se fazia por meio de uma escada caracol. A viagem foi boa e curta. O hidro desceu nas águas barrentas do Rio da Prata. Ainda era dia. Desembarcamos e fui para um hotel no centro de Buenos Ayres. Quando chegamos, o tempo estava bom e eu tratei de me acomodar no hotel e desfazer as minhas malas, pronto para as primeiras incursões. Eu estava em pleno centro de Buenos Ayres, do mesmo modo como tinha estado em Montevideo. Estava na caje Florida, uma das mais famosas de B.Ayres, pertinho da Esmeralda e outras importantes. Perto de tudo. Não precisava ir longe. Como não podia deixar de ser, já no hotel dei de cara com uma turma de brasileiros de S.Paulo e, assim, já fiquei enturmado . Tinha até a companhia do Inspetor da minha empresa.. Tinha a opção de sair sozinho e ou com a turma , enfim, tinha companhia. À noite íamos a restaurantes e boites para jantar, naturalmente , e assistir aos shows de dança. Algumas vezes até mesmo de tango , eu que adoro , mas o que mais escutava eram sambinhas...Tinha também a opção de sair com o inspetor da companhia para a qual eu trabalhava. Sr. Mancini, que me convidou para ( voltar ) ir com ele a Montevideo para buscar o “Andréa C” , navio da nossa companhia que estava chegando à Buenos Ayres procedente da Itália, com centenas de passageiros destinados à Argentina. Como se tratava do desembarque de muita gente, as autoridades argentinas se deslocaram para o Uruguay e, durante a viagem iriam conferindo os passaportes e dando os vistos de desembarque, para facilitar a chegada... Na ida, apanhamos o navio de carreira que saíu à noite e amanhecemos em Montevideo. Não deu para sentir a viagem, porque dormi logo que o bicho saiu. Tanto, não tinha nada mesmo para ver...Quando acordei, já estávamos atracados. Mancini, todo feliz da vida me disse que iria me levar para almoçar algo que chamou de “ Mickey Jones “ , pelo menos me pareceu isto. No restaurante, na hora em que o garçon trouxe o tal do Mickey Jones eu ri para mim mesmo , pois era, nada mais nada menos, que o nosso mexilhão , coisa que, na época, eu encontrava com facilidade nas pedras das praias de Santos e Guarujá... Não comentei nada e acompanhei a felicidade e a festa que ele estava fazendo ! Claro que também comi, pois era um dos frutos do mar da minha preferência mas, que foi engraçado, foi...Pegamos o “Andréa C”. Durante a viagem, umas doze horas, as autoridades argentinas atenderam os passageiros em fila com os documentos nas mãos. Chegamos a Buenos Ayres no fim da tarde com um drama para enfrentar. Eu dei azar ! O tempo havia mudado de uma hora para outra. A temperatura estava beirando o zero ! O pior de tudo: ventava um vento frio, gelado ! Para complicar ainda mais a situação , era um domingo e não havia táxis disponíveis. Como fazer ? A muito custo consegui uma charrete que estava chegando. Tomei-a e pedi que me levasse ao hotel Eu tremia, tremia de verdade. Estava com roupas inadequadas. Chuva e frio, demais para um baiano só. O vento era terrível ,e o que mais incomodava !No hotel mergulhei num banho quente, me enrolei todo, coloquei as roupas mais pesadas que tinha e fui para o bar. Tome-lhe chocolate quente com cognac ! Não sei quanto cognac tomei até me sentir razoavelmente bem,mas deve ter sido uma boa quantidade. Foi impressionante como o tempo mudou daquele jeito. No espaço de dois dias, a temperatura caiu de 25 para zero grau. Naquele tempo não havia satélite e a previsão do tempo era motivo de piadas. Do jeito que o vento e o frio chegaram, se foram . Passei mais alguns dias em Buenos Ayres e chegou o dia e a hora de voltar no mesmo “ Andrea C” – Voltaria por mar, curtindo uns dias de viagem. Não podia dar outra: dei de cara com mais brasileiros à bordo Quantas vezes, em Buenos Ayres, você se esforçava para se fazer entender e pedir uma informação e a pessoa ria na sua cara e lhe dizia: por que não fala em português mesmo ? A Viagem de volta começou normal. Primeiro, timidamente, a ambientação e, aos poucos, a aproximação com os outros passageiros até que o grupo se formava e começavam as brincadeiras. No meu grupo havia um alemão e um filho de italiano, o Dell’Aringa, com quem fiz uma amizade que continuou depois, pois ele era dono de uma padaria em Santos, onde eu morava, na época. A viagem foi distraída. Só foi ruim porque terminou. Brincávamos e pregávamos peças uns aos outros . As melhores gozações e brincadeiras ficaram por conta de uns brinquedinhos que comprei em Buenos Ayres, tudo falso. Bombinhas para colocar dentro de cigarros, almofadas que faziam barulhos estranhos, livros que explodiam, martelos de espuma , coisas assim. Todos andavam desconfiados de todos. Uma noite, à beira da piscina , um grupo conversava e explodiu em gargalhadas quando o cigarro do primeiro Oficial estourou no seu rosto !...No entanto,. O local preferido para as brincadeiras era o bar, principalmente com a almofada barulhenta. Quando alguém ia se sentar , um de nós enfiava a almofada redonda , cheia de ar e, quando a pessoa soltava o peso em cima, acontecia ! Pruum...! Igualzinho, só faltava mesmo o mau cheiro...As pessoas ficavam encabuladas enquanto os presente morriam de rir...Bem, a viagem foi uma delícia. Já disse que foi ruim porque acabou. Além das nossas próprias brincadeiras havia aquelas organizadas pelo Comissário. Fora das brincadeiras aconteceu um episódio que não deu mais para esquecer. Logo após a saída de Buenos Ayres, o Maitre chegou para mim e disse: Sr. Sarnelli, eu quero mandar fazer alguma coisa especial para o Senhor. É só dizer o que deseja que eu mandarei fazer. Agradeci a boa intenção e lhe disse que gostaria de comer um spaghetti alho e óleo . Ele se escandalizou ! Mas, Sr.Sarnelli, spaghetti alho e óleo não é coisa fina, é comida de pobre ! Não é elegante ! Bem, se não é elegante, paciência , mas eu gostaria de um belo prato de spaghetti. No almoço seguinte, trouxeram um belo prato de spaghetti com uma molheira discretamente coberta. Dentro, azeite quente com, sobre ele uma bela camada de alho triturado , no ponto , uma beleza , e doirado, exalando um cheiro que se espalhou por toda a sala de refeições. Bem, servi-me e comecei a comer mas a recomendação de discrição do Maitre foi para o beleleu . O alho se denunciou e os amigos queiram saber o que eu estava comendo. Não deu outra: no dia seguinte, spaghetti alho e óleo para todo mundo e algumas vezes mais durante os poucos dias do retorno.Foi a bordo do “ Andréa C” que aprendi a fazer o alho e óleo. Em casa se fazia com alguns dentes de alho e a bordo aprendi que é com a dentadura inteira .... Fica uma delícia ! O “Andréa C” era um navio pequeno e a primeira classe era reduzida, o que facilitou a união das pessoas. Era tudo elegante, porém simples, nada daquela sofisticação exibida a bordo dos grandes navios de luxo .. A viagem não podia ter sido melhor mas, como não há bem que sempre dure e mal que perdure, terminou ao atracamos no porto de Santos. Eu nem desci do navio, já havia começado a trabalhar. Ficou, para cada um, a lembrança e o relaxamento de uma viagem maravilhosa, embora de poucos dias. Fiz a parte que me competia e, quando o navio foi embora, eu disse a mesma frase de sempre : bem,.. mais um que se vai ! Era a minha maneira de “ contar” os navios que despachava...
De outra feita, embarquei em Santos no “ Giovanna C” , com destino a Salvador. O “ Giovanna C” era uma navio de carga mas tinha acomodações para 21 passageiros e eu era o único . Me sentia e era tratado com membro da tripulação, com direito a todas as mordomias, inclusive a fazer as refeições na mesa do comandante. Paramos três dias em Vitória do Espírito Santo. Viagem um pouco chata. Eu, muito jovem no meio daqueles oficiais e marujos calejados, verdadeiros lobos do mar habituados àquela vida tranqüila e rotineira de navegantes. De Vitória para Salvador, viagem monótona , apropriada mesmo para descanso. Durante o dia, a visão era do vasto oceano, do horizonte que nunca alcançávamos , do céu e, à nossa esquerda, a costa brasileira. À noite, escuridão total que favorecia olhar os milhões de estrelas que pontilhavam o céu. Se você chega, pelo mar, a Salvador, durante o dia, tem uma visão maravilhosa da cidade , que parece um presépio. À noite, também, porque totalmente iluminada. Desembarquei e fui para a casa de um amigo, na verdade, meu compadre duas vezes, até hoje. Não me lembro quanto tempo fiquei em Salvador, mas não foi pouco não. Deve ter sido um mês. Não dá para esquecer a viagem de volta para casa. Veja só que coisa: as coisas mudam o tempo todo, se mudam.. Voltem ao passado ! ....No dia do meu retorno, ainda de madrugada, às cinco della mattina, fui para o aeroporto. Tinha que pegar um avião para São Paulo. Era um DC-3 Douglas, o famoso Douglas, aquele com dois motores que ficou famoso pela segurança e que , quando pousava encostava a traseira com aquela rodinha na pista. Naquele tempo, tudo era diferente . Começava, que pesavam a bagagem e os passageiros , para calcularem a gasolina que iriam colocar nos tanques ! ... No embarque, você recebia ,ainda na escadinha , uma caixinha de papelão com o seu lanche. Era aquilo e estava acabado. A bordo, você encontrava os saquinhos para o caso de necessidade...
O avião levantou vôo logo cedo , o que me deixou alegre. Ia chegar cedo em casa ! Vã ilusão ! Tinha uma longa jornada pela frente . Eu cheguei a pensar que aquilo era um avião mas logo descobri que era um bonde aéreo. A primeira descida foi em Ilhéus. Um aeroporto no meio do nada. Comprei um coco com cachaça, lindamente decorado. Levantamos vôo outra vez. Um dos motores pegou fogo. Voltamos. Consertamos a joça , como tudo parecia bem, o piloto resolveu que podia ir. Eu, sempre desconfiado , de olho no motor do meu lado, justamente o que fora reparado. Sempre com uma ponta de desconfiança. Quem tem, tem medo, não é mesmo? Houve outra parada. Vocês sabem onde fica Pedra Azul ? Só sei que é em Minas, porém não é no meio do nada não, é mesmo no meio do mato! A pista , parecia um campo de futebol abandonado. Até hoje não sei porque descemos ali. Provavelmente para abastecer. Percebi que havia alguns tonéis e uma cabana . De fato, abasteceram o pássaro voador . Rolamos pela pista ou pelo campo, levantando muita poeira e subimos para mais uma descida em Belo Horizonte. Daí, ainda fizemos Rio de Janeiro e, finalmente, São Paulo , chegando no finzinho do dia, começo da noite.Antigamente era assim. Uma viagem cansativa quase uma aventura. O pior foi que eu estava com dor de barriga. Aquela dor de barriga ! Tentei diversas vezes ir no avião mas um ventinho não deixava. Só fui me livrar do meu problema na pensão do tio Armando, em Sampa, ainda assim com muito esforço e dificuldade. Não era mole não !

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Foto baixada da Internet
De um cartão postal da companhia proprietária do navio

domingo, 4 de janeiro de 2009

O último imperador do Brasil

D.Pedro II

O monumento em homenagem a D.Pedro II foi localizado inicialmente no Campo da Pólvora, de onde foi tranferido para a locação atual, no Jardim de Nazaré, no mesmo bairro, por causa das obras da construção do Fórum Rui Barbosa.
A obra é do escultor italiano Pasquale De Chirico e foi inauguirada e, 07.09.1937.

Foto de Sarnelli