Eu tive uma secretária que
ficou nada menos que seis anos prestando serviços na minha residência. Foram
serviços satisfatórios, que poderei até mesmo dizer que serviram para o gasto,
mas sempre houve algo que me incomodava , que me desagradava, e que eu achava
que não estava correto, Em primeiro lugar a pressa para ir embora. Não cumpria
o tempo previsto em lei , saindo sempre “ um pouco mais cedo “ porque precisava
tomar determinado ônibus. De fato, o transporte popular é um desastre e, via de
regra, essa turma mora na periferia e gasta muito tempo . Feitas as contas , além de acordar cedo ,
gastava umas três horas para ir e voltar, isto, se não houvesse engarrafamento,
descontada a espera pelo transporte. O transporte individual tomou conta das
pistas porque cada indivíduo é representado por um veículo e daí cria-se outro
problema que é o do engarrafamento, depois o estacionamento. Ou você paga caro,
ou, quando não acha vaga junto ao meio-fio, coloca o seu carrinho diretamente
sobre o passeio , simples . Os pedestres que vão para o asfalto ! Somando isto
tudo , fica explicado o porquê de ela estar sempre cansada . Some a idade ! Uma senhora no entorno dos
60 anos , cujo sonho era poder viajar de graça..mas continuar recebendo o
auxílio transporte ! Baiano burro nasce morto !
Outra coisa: a sua lentidão
e a maneira como se poupava fazendo o tempo escoar.Mas, o que mais incomodava
mesmo, pessoa de absoluta confiança, era vê-la administrar , da minha casa , a
sua família , orientando, dando broncas, ordens e tudo o mais aos filhos e aos
netos com aquele celular , que não
desgrudava do ouvido. Tinha vezes que ficava nervosa e ai falava alto , dava
faniquitos , incomodando .Muitas vezes , necessitávamos esperar que ela
terminasse os seus assuntos pessoais para pedir-lhe alguma coisa. No fim do ano
passado , por decisão própria e por uma coincidência maravilhosa , deixou de
trabalhar no dia 31 de dezembro e foi
preciso arrumar uma outra para a sua vaga , indispensável , algo caro nos dias
de hoje, para atender a um casal octogenário .Arranjar, foi extremamente fácil
porque já no segundo dia de janeiro ,
a substituta estava na ativa.Foi uma
indicação de uma pessoa que faz os trabalhos de manutenção aqui em casa e que
conhece meio mundo, no pedaço onde mora. O uso de celular em serviço, para mim
, é algo que tem que ser bem pensando. Principalmente quando a pessoa
ultrapassa o limite do razoável.
Mas , junto com ela, com a
nova , veio o mesmo problema que eu
cheguei a pensar que havia eliminado e que a outra teria levado embora. Um
celular! Mudou as pessoas , mas o problema continuou o mesmo , embora mais
atenuado ! Também a atual , monitora os seus filhos e família , com o celular grudado no ouvido ! Não sei não,
mas isso me irrita ! Antes dos celulares, quando necessitavam de um contato
pediam para usar o telefone da casa e invariavelmente conseguiam a permissão ,
mas, como interpretar a situação atual? Elas são donas dos seus próprios aparelhos,
tanto chamam como são chamadas? Pode-se dizer alguma coisa ? Pode-se evitar ou
proibir o uso do aparelhinho durante as horas de serviço ? Nas indústrias, vi
em S.Paulo, cada operário tem uma armariozinho para colocar o seu celular
quando entra , que só deverá ser retirado ao fim do dia. Mas, muitos deles têm
dois. Deixam um na caixa e o outro no bolso. Se escondem nos sanitários ou
pelos cantinhos, para conversarem... E o problema está criado ! Mais do que
isso, generalizado !
Faz poucos dias, eu passava
perto de uma empresa no meu bairro , quando vi uma senhora regando as plantas
com uma mangueira que segurava com a mão esquerda enquanto que, com a direita, comprimia um celular contra o seu ouvido ...
Enfim é uma epidemia! Mas não é só isso. Vou contar o que aconteceu comigo há
algum tempo. Minha mulher estava em São Paulo
e eu sozinho, em Salvador. Pensei em almoçar em um dos restaurantes aqui do Rio
Vermelho e, na hora em que o estômago reclamou, me dirigi a um localizado no Largo
de Santana . Havia mais de vinte mesas vazias, Ainda era cedo , mas a casa já estava
em condições de atender os fregueses. Fiz o meu prato e escolhi uma mesa com o
lado esquerdo encostado à uma parede, mas de frente para o largo . Salão vazio,
vem um cara com uma pasta, um lap-top e escolhe, justamente , a mesa atrás de mim. Ai começou a se armar o
problema. O cara organizou, na mesa
, um verdadeiro escritório. Abriu o seu
lap-top, encostou a pasta de lado após haver tirado dela uma quantidade de papéis
que colocou sobre a mesa e, ainda, de quebra, apareceram dois celurares. Eu,
esperando para ver o que iria acontecer. Ele começou a fazer chamadas e
discutir assuntos com os seus funcionários, dar ordens , combinar coisa,
falando alto. Eu me virei para trás e lhe disse: amigo , a casa está com todas
as suas mesas vazias e o senhor vem montar seu escritório justamente atrás da
minha ? Por gentileza, eu quero almoçar tranquilamente e relaxar um pouco e não
vou poder fazer isso com o senhor aí atrás discutindo os seus assuntos com os
seus auxiliares: mas, disse ele, são assuntos urgentes! Respondi-lhe: até que
podem ser, mas para o senhor. Para mim , não dizem nada, posso almoçar
tranqüilo ? Ele reuniu os seus bagulhos eletrônicos e saiu em direção ao largo de Santana... Sumiu
! Não é um mal da época ? Dá para suportar algo semelhante ? Não é falta de
educação e de respeito aos direitos do próximo?
Aliás eu estava tão próximo
, praticamente, ele respirava no meu cangote
Sim, e com relação aos
celulares, o que me dizem ? Eles enchem: nos ônibus, elevadores, nas recepções
dos consultórios , nos restaurantes , nos shoppings, enfim , onde você esteja!
Sarnelli , 23.09.14
6 comentários:
O pior Sarnelli é que nos obrigam a ouvir e participar de suas querelas pessoais.Nos ônibus isso é terrível, são várias pessoas falando ao telefone ao mesmo tempo, geralmente pessoas de mais idade porque os jovens conversam mesmo é pelo zap-zap.
Recebido by mail
Oi Bar! Como sempre, você escreve muito bem e me fez rir muito. É isso mesmo. Aqui o celular costuma incomodar as pessoas que estão no ônibus pois passam a escutar toda a vida dos cidadãos em fofocas abertas em voz alta!!! Continue escrevendo suas crônicas. Não é babaquice. Voce deveria escrever para o jornal. Aliás, será que alguém lê crônicas hoje em dia?? Um abraço. Duda
Meu amigo! EU sou usuária assídua do celular - tanto por razões de trabalho quanto pessoais, até mesmo por que, hoje em dia, as ligações com ele estão bem mais em conta do que, até mesmo, pelo telefone convencional! No entanto, me causa profunda irritação o mau uso do celular, ou quem sabe, a falta de educação ao usar o celular. As pessoas perderam tanto a noção de respeito, que realmente discutem em alta voz questões pessoais ao celular, e o que é pior: não lembram de desligar seus celulares sequer em cerimônias religiosas, em teatros, em reuniões de escola... Infelizmente!
Adorei a crônica! Ah... respondendo a uma pergunta feita pela pela Duda, eu digo que sim! As pessoas leem crônicas, hoje em dia! Trabalho em escola, e os estudantes de ensino médio gostam e são sempre mais estimulados a lerem crônicas.
Forte abraço! Bia
Recebido by mil, de anônimo.
Nem vou comentar para não abaixar o astral...
A falta de civilidade está cada vez pior.
Recebido por mail, de Domicio Oliveira:
Infelizmente é o que acontece, o desrespeito impera.
From: sarnelli@terra.com.br
To: ;
Subject: Mais uma babaquice no Blog do Sarnelli - vai lá...
Recebido de uma amiga de São Paulo, via mail. Ela não conseguiu postar o seu comentário diretamente nesta página.
Aqui vai meu comentário (não consegui postar na sua página):
Brasileiro é um povo superficial - não sou eu quem diz.Brasileiro é um povo comunicativo. Gosta de falar o tempo todo, não tem noção do valor da palavra.
Você falou da mulher a regar as plantas, eu falo da empregada de uma clínica aqui perto varrendo a rua e às voltas com vassoura, pá e celular.
Para mim é falta de educação e ficar controlando família enquanto se trabalha, das duas uma: ou bem o controle será melhor ou bem o trabalho que se faz (e pelo qual se recebe) sai prejudicado.
A minha faxineira aqui é a mesma coisa. É uma merda.
A faxineira de onde trabalho, idem.
Não tenho essa porcaria, me nego a tê-la.
E continuo viva.
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