quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A epídema dos celulares...







Eu tive uma secretária que ficou nada menos que seis anos prestando serviços na minha residência. Foram serviços satisfatórios, que poderei até mesmo dizer que serviram para o gasto, mas sempre houve algo que me incomodava , que me desagradava, e que eu achava que não estava correto, Em primeiro lugar a pressa para ir embora. Não cumpria o tempo previsto em lei , saindo sempre “ um pouco mais cedo “ porque precisava tomar determinado ônibus. De fato, o transporte popular é um desastre e, via de regra, essa turma mora na periferia e gasta muito tempo  . Feitas as contas , além de acordar cedo , gastava umas três horas para ir e voltar, isto, se não houvesse engarrafamento, descontada a espera pelo transporte. O transporte individual tomou conta das pistas porque cada indivíduo é representado por um veículo e daí cria-se outro problema que é o do engarrafamento, depois o estacionamento. Ou você paga caro, ou, quando não acha vaga junto ao meio-fio, coloca o seu carrinho diretamente sobre o passeio , simples . Os pedestres que vão para o asfalto ! Somando isto tudo , fica explicado o porquê de ela estar sempre cansada   . Some a idade ! Uma senhora no entorno dos 60 anos , cujo sonho era poder viajar de graça..mas continuar recebendo o auxílio transporte ! Baiano burro nasce morto !
Outra coisa: a sua lentidão e a maneira como se poupava fazendo o tempo escoar.Mas, o que mais incomodava mesmo, pessoa de absoluta confiança, era vê-la administrar , da minha casa , a sua família , orientando, dando broncas, ordens e tudo o mais aos filhos e aos netos  com aquele celular , que não desgrudava do ouvido. Tinha vezes que ficava nervosa e ai falava alto , dava faniquitos , incomodando .Muitas vezes , necessitávamos esperar que ela terminasse os seus assuntos pessoais para pedir-lhe alguma coisa. No fim do ano passado , por decisão própria e por uma coincidência maravilhosa , deixou de trabalhar no dia 31 de dezembro  e foi preciso arrumar uma outra para a sua vaga , indispensável , algo caro nos dias de hoje,   para atender a um casal  octogenário .Arranjar, foi extremamente fácil  porque já no segundo dia de janeiro , a  substituta estava na ativa.Foi uma indicação de uma pessoa que faz os trabalhos de manutenção aqui em casa e que conhece meio mundo, no pedaço onde mora. O uso de celular em serviço, para mim ,  é algo que tem que ser bem  pensando. Principalmente quando a pessoa ultrapassa o limite do razoável.
Mas , junto com ela, com a nova ,  veio o mesmo problema que eu cheguei a pensar que havia eliminado e que a outra teria levado embora. Um celular! Mudou as pessoas , mas o problema continuou o mesmo , embora mais atenuado ! Também a atual , monitora os seus filhos e família ,  com o celular grudado no ouvido ! Não sei não, mas isso me irrita ! Antes dos celulares, quando necessitavam de um contato pediam para usar o telefone da casa e invariavelmente conseguiam a permissão , mas, como interpretar a situação atual? Elas são donas dos seus próprios aparelhos, tanto chamam como são chamadas? Pode-se dizer alguma coisa ? Pode-se evitar ou proibir o uso do aparelhinho durante as horas de serviço ? Nas indústrias, vi em S.Paulo, cada operário tem uma armariozinho para colocar o seu celular quando entra , que só deverá ser retirado ao fim do dia. Mas, muitos deles têm dois. Deixam um na caixa e o outro no bolso. Se escondem nos sanitários ou pelos cantinhos, para conversarem... E o problema está criado ! Mais do que isso, generalizado !
Faz poucos dias, eu passava perto de uma empresa no meu bairro , quando vi uma senhora regando as plantas com uma mangueira que segurava com a mão esquerda enquanto que,  com a direita,  comprimia um celular contra o seu ouvido ... Enfim é uma epidemia! Mas não é só isso. Vou contar o que aconteceu comigo há algum tempo.  Minha mulher estava em São Paulo e eu sozinho, em Salvador. Pensei em almoçar em um dos restaurantes aqui do Rio Vermelho e, na hora em que o estômago reclamou, me dirigi a um localizado no Largo de Santana . Havia mais de vinte mesas vazias, Ainda era cedo , mas a casa já estava em condições de atender os fregueses. Fiz o meu prato e escolhi uma mesa com o lado esquerdo encostado à uma parede, mas de frente para o largo . Salão vazio, vem um cara com uma pasta, um lap-top e escolhe, justamente ,  a mesa atrás de mim. Ai começou a se armar o problema. O cara organizou,  na mesa ,  um verdadeiro escritório. Abriu o seu lap-top, encostou a pasta de lado após haver tirado dela uma quantidade de papéis que colocou sobre a mesa e, ainda, de quebra, apareceram dois celurares. Eu, esperando para ver o que iria acontecer. Ele começou a fazer chamadas e discutir assuntos com os seus funcionários, dar ordens , combinar coisa, falando alto. Eu me virei para trás e lhe disse: amigo , a casa está com todas as suas mesas vazias e o senhor vem montar seu escritório justamente atrás da minha ? Por gentileza, eu quero almoçar tranquilamente e relaxar um pouco e não vou poder fazer isso com o senhor aí atrás discutindo os seus assuntos com os seus auxiliares: mas, disse ele, são assuntos urgentes! Respondi-lhe: até que podem ser, mas para o senhor. Para mim , não dizem nada, posso almoçar tranqüilo ? Ele reuniu os seus bagulhos eletrônicos  e saiu em direção ao largo de Santana... Sumiu ! Não é um mal da época ? Dá para suportar algo semelhante ? Não é falta de educação e de respeito aos direitos do próximo?
Aliás eu estava tão próximo , praticamente, ele respirava no meu cangote
Sim, e com relação aos celulares, o que me dizem ? Eles enchem: nos ônibus, elevadores, nas recepções dos consultórios , nos restaurantes , nos shoppings, enfim , onde você esteja!
Sarnelli , 23.09.14





6 comentários:

Carmela disse...

O pior Sarnelli é que nos obrigam a ouvir e participar de suas querelas pessoais.Nos ônibus isso é terrível, são várias pessoas falando ao telefone ao mesmo tempo, geralmente pessoas de mais idade porque os jovens conversam mesmo é pelo zap-zap.

Sarnelli disse...

Recebido by mail

Oi Bar! Como sempre, você escreve muito bem e me fez rir muito. É isso mesmo. Aqui o celular costuma incomodar as pessoas que estão no ônibus pois passam a escutar toda a vida dos cidadãos em fofocas abertas em voz alta!!! Continue escrevendo suas crônicas. Não é babaquice. Voce deveria escrever para o jornal. Aliás, será que alguém lê crônicas hoje em dia?? Um abraço. Duda

Anônimo disse...

Meu amigo! EU sou usuária assídua do celular - tanto por razões de trabalho quanto pessoais, até mesmo por que, hoje em dia, as ligações com ele estão bem mais em conta do que, até mesmo, pelo telefone convencional! No entanto, me causa profunda irritação o mau uso do celular, ou quem sabe, a falta de educação ao usar o celular. As pessoas perderam tanto a noção de respeito, que realmente discutem em alta voz questões pessoais ao celular, e o que é pior: não lembram de desligar seus celulares sequer em cerimônias religiosas, em teatros, em reuniões de escola... Infelizmente!
Adorei a crônica! Ah... respondendo a uma pergunta feita pela pela Duda, eu digo que sim! As pessoas leem crônicas, hoje em dia! Trabalho em escola, e os estudantes de ensino médio gostam e são sempre mais estimulados a lerem crônicas.
Forte abraço! Bia

Sarnelli disse...


Recebido by mil, de anônimo.

Nem vou comentar para não abaixar o astral...
A falta de civilidade está cada vez pior.

Sarnelli disse...


Recebido por mail, de Domicio Oliveira:

Infelizmente é o que acontece, o desrespeito impera.

From: sarnelli@terra.com.br
To: ;
Subject: Mais uma babaquice no Blog do Sarnelli - vai lá...

Sarnelli disse...



Recebido de uma amiga de São Paulo, via mail. Ela não conseguiu postar o seu comentário diretamente nesta página.
Aqui vai meu comentário (não consegui postar na sua página):
Brasileiro é um povo superficial - não sou eu quem diz.Brasileiro é um povo comunicativo. Gosta de falar o tempo todo, não tem noção do valor da palavra.
Você falou da mulher a regar as plantas, eu falo da empregada de uma clínica aqui perto varrendo a rua e às voltas com vassoura, pá e celular.
Para mim é falta de educação e ficar controlando família enquanto se trabalha, das duas uma: ou bem o controle será melhor ou bem o trabalho que se faz (e pelo qual se recebe) sai prejudicado.
A minha faxineira aqui é a mesma coisa. É uma merda.
A faxineira de onde trabalho, idem.
Não tenho essa porcaria, me nego a tê-la.

E continuo viva.