sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A ancianidade - uma divagação






A ancianidade – divagando sobre ela , num momento  descompromissado. Esta é uma crônica quase que sem nexo ou será que tem ? !

Sinônimo de ancião, velhice , antiguidade . –  Desde quando passei a me relacionar com o micro e com a NET, tenho recebido mensagens de diversos tipos com conselhos de diversos tipos sobre como conviver com os diversos tipos de idades que a vida nos proporciona.  Há filosofias diversas sobre a vida, sobre a nossa passagem sobre este planeta e conselhos de como devemos vivê-la. Há quem compare a vida como uma viagem de trem e que diz que chegando à nossa estação , não temos mais o que fazer senão descer, pois a viagem terminou.Vou me basear na ideia . 
Descendo do trem , vamos para outra dimensão que eu não faço a menor ideia de como seja , embora haja pessoas que dizem saber o que há do outro lado e ainda tentam lhe convencer...!
Eu sou do tipo pé no chão , que não acredito em nada , ou melhor , tipo São Tomé ,  que desejo ver para crer e não de carregar água em peneira até conseguir secar os oceanos...

Hoje, cheguei a um ponto em que, do alto dos meus quase 84 anos de idade, posso olhar para trás, o que não é meu costume fazer, e ver como foi a minha trajetória até aqui . O que me resta, não sei quanto será .
Portanto, não sei por quantas estações passarei ainda  nessa viagem de trem e em qual delas deverei desembarcar , deixando o trem seguir a sua viagem levando os passageiros que sobreviverem a mim ... É como a fábula do cesto de jabuticaba ! Até agora, vi amigos que estiveram nesse trem muito menos tempo que eu e vejo que outros estão me acompanhando numa espécie de corrida contra o tempo . Provavelmente uma corrida para ver quem chega mais longe e quem fica mais tempo sobre a crosta terrestre !...
Olhar para trás : me vejo criança subindo e tomando o meu espaço no trem da vida e iniciando a viagem . Claro que era criança e criança tem uns acertos endiabrados que lhe permitem todos os tipos de traquinagem. Eu não fui diferente. Vivia nas praias de Ondina pescando , catando pina-una , procurando polvos e lagostas. Naqueles tempos, ainda havia nas nossas praias , enchendo os pés de espinhos doloridos,  banhando-me e correndo “ jacaré “ com uma simples tábua ao sabor das ondas . já que na época não existiam as pranchas de fibra   e jogando futebol. Tudo isto, além de ir ao colégio todos os dias pela manhã. Estudei no Antônio Vieira . Antes, o primário, aconteceu no desaparecido Jesus Maria José no Forte de São Pedro e Também no primário da Casa D’Itália. O tempo passou, me transformei num jovem que depois de haver curtido o período de solteirisse muito bem aproveitada, começou a formar família , casando-me com uma linda italianinha que é  minha companheira até hoje , graças a Deus. Tinha cerca de 23 anos  quando entrei para o clube dos casados iniciando  um novo período na vida . E o tempo foi passando, passando, a família cresceu e fui chegando ao ponto de maturação em que hoje me encontro . 

Quais são as fases ? Existem,  realmente , fases ? Nunca as senti ! Infância, juventude , adulto e logo depois velho ?  Mas, por sorte acharam outras denominações e dividiram a velhice em outras fases de idade. Terceira idade , idade avançada , cada uma dentro de uma faixa  . Enfim , arranjaram apelidos ,  o que eu considero totalmente dispensável. Eu estou satisfeito a meu modo.
Bem, não sei em que ponto me encontro aos quase 84 anos de idade , mas não importa. Não me sinto diferente de quando tinha 22  ,  42 ou 62 anos ou ainda aos quase 84 de hoje. Vivi até aqui uma vida em que não percebi estar passando por etapas e me sinto, mais do que nunca , totalmente válido mentalmente , sobretudo, enriquecido , com todo o pouco , que é bastante,  conhecimento que adquiri percorrendo a quilometragem que a vida me permitiu até agora. É um processo progressivo e cumulativo  enquanto estiver bem com a cabeça; Acumulei um tesouro que não tem preço . Está todo ele guardado na minha cabeça; Não tem preço , não está à venda e não posso deixá-lo de herança para ninguém. O que sei, irá comigo;  Tem nome: experiência, que é como se você conhecesse uma estrada em todos os seus detalhes por ter passado por ela diversas vezes. Claro que não posso ter todo o conhecimento do mundo, mas acumulei uma boa parcela , o suficiente , sem que houvesse solução de continuidade na minha ida. Aconteceu de uma tirada só , e continua acontecendo, o que não me anima a considerar a idade por etapas porque a vida continua sem parar... Fiquei mais inteligente, entendo as coisas com facilidade  , mais paciente . Não senti ter passado por etapas de idades e continuo no meu assento, no trem da vida , até chegar à estação em que deverei descer para que ele continue a sua viagem com os que ficarem a bordo. Aí , vai terminar o meu prazo de validade !
Claro que não é desprezível o preço que o corpo físico tem que pagar. 


Enquanto o tempo me permitiu aprimorar e aumentar os meus conhecimentos, esse mesmo tempo cobrou um desgaste que me trouxe algumas limitações físicas e isso acontece com todo mundo, quem mais , quem menos, mas eu chego à esta altura apenas com pequenos estragos na lataria e na máquina , que parece poder ainda suportar a viagem por mais um período imprevisível. Me sinto, hoje, da mesma forma como me sentia aos 22 anos, com ressalva da chaparia e do chassis, que sofreram as desgastes naturais do tempo. Eu costumo dizer que, antigamente , quando queria um coco, ia buscá-lo no alto do coqueiro. E foi verdade ! Evidente que hoje tenho que comprá-lo na barraca da praia já aberto  com o canudinho.... Para falar a verdade  , cheguei a pensar que não esquentaria o meu assento no trem da vida  , contrariando algumas opiniões de quem insiste em  fracionar a vida em diversas etapas, estou tirando direto... Para mim , ela  é uma só ! Cada um de nós chega ao seu futuro em condições diversas, alguns ficam pelo caminho, descem logo nas primeiras estações, outros um pouco mais adiante , outros prosseguem, mas isso faz parte ... 

É como dizia um amigo meu: nós já nascemos com o passaporte para a última viagem, “visado” !
O meu humor ? Esse nunca mudou ! Envelheci o corpo físico, enriqueci a minha mente, continuo enriquecendo-a , ganhei experiências na universidade da vida ,  mas não deixei a criança que tenho dentro de mim crescer , pelo menos demais  ! Ainda gosto de brincar , e como ! O trem continua na busca do seu destino embarcando e desembarcando passageiros e eu vejo apenas a paisagem passando pela janela e ficando para trás mas outras , que estão à frente,  igualmente belas, aparecerão. Resumo: eu tenho uma idade só, indivisível , Passei e estou passando pela vida até aqui e o trem continua indo em frente ,  comigo instalado no meu assento , não sei até quando  ...
Algo muito importante , eu  ganhei : a soma dos anos de vida acumulados sobre os meus ombros me presenteou com uma liberdade que não tinha e me desobrigou de certos comportamentos sociais e padronizados . Hoje, eu posso falar, reclamar , exigir, criar as minhas pequenas confusões nas filas dos supermercados quando algo não funciona como deve e qualquer esquisitice que possa praticar é debitada à velhice . Posso ter, também, as minhas manias... Ainda tenho prioridade (em certos momentos, um direito discutível ) em filas e muitas vezes sou bem tratado por algumas pessoas e desconsiderado por outras . Algumas pessoas pensam que estou gagá... 

Mas, como estão enganadas! Estou, sim , é me divertindo ! rsrsrsrsrsrsr
Para mim próprio , não aceito parcelar em fatias a minha vida , pois a estou vivendo de uma vez só e continuamente. Claro que não sou mais um jovem . Sou um ancião , idoso , mas consegui fazer isso de uma esticada só ! Ah, e por quantas coisas boas eu passei ! A garotada de hoje não faz a menor ideia ! Foram coisas simples , numa época melhor .

Ao término da leitura desta crônica ( depoimento ? ), é possível que você diga que estou na contra-mão , mas é isso mesmo. Eu sou diferente. Não sou padronizado. Só não garanto que os meus pinos estejam batendo certinhos.

Sarnelli, 31.07.2014


8 comentários:

Aparecida disse...

esta crônica me convenceu. é linda e linda é tua história meu amigo. parabéns por ter chegado até aqui desse jeito. muito bom.

Sarnelli disse...

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que maravilha de texto. tentei fazer o comentário ali em baixo do texto, mas é confuso esse negócio de aprovação do google, sei lá.

mas é um texto lindo, sensivel, uma história de vida e tudo mostrando muita inteligência. adorei,

abç

cida

Sarnelli disse...


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Parabens, gostei e achei linda a Cronica




Christiana Fausto disse...

Parabéns, Sarnelli, por este valioso depoimento. Felizes os que seguirem seus conselhos. Grande abraço e vida longa!

Sarnelli disse...




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Parabéns, um exemplo de vida. Gostei, a minha admiração.

Ed. Raposo.

Bia Lemos disse...

Meu amigo - meu grande e melhor amigo, que dizer de tua crônica? Ela me fez sorrir e chorar, me fez identificar-me profundamente e, acima de tudo, fez com que te admirasse ainda mais do que já admiro! Tua lucidez e teu senso de realidade ao encarar a vida, tua sabedoria(que chega leve, sem "ranços", sem vitimismo) e tua forma de expressar teus pensamentos e convicções, tudo isto ensina-me mais e novas lições de vida (além de tanto que já aprendi contigo, meu amigo e conselheiro).
Obrigada por tudo - e que - e que possamos continuar contando com teus textos e reflexões!
Um grande abraço!
Bia

Sarnelli disse...


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,Pelo que lí, vejo-o um privilegiado. Vem encarando a vida com discernimento. Gostei de saber., tambem estudei no Jesus Maria José e no Colegio Antonio Vieira.

Domicio Oliveira Gonzaga

Varlice disse...

Sarnelli, para você bater pino ainda faltam mais uns 10 anos...
Um abraço,
Varlce