domingo, 3 de novembro de 2013

Na fazendinha da nonna Ziza...



Na fazendinha da vovó Ziza – O sumiço da galinha carijó

Um conto infantil dedicado à minhas netinhas Sathya e Gracie.



Bem longe da cidade, existia uma fazendinha onde a vida transcorria  numa rotina tranqüila e onde todos eram felizes. Tudo era natureza .  Ambiente alegre, a mata muito verdinha , e até o capim rasteiro era verdinho bem claro , macio e tão tenro que os animais, os bois,   vacas,  cavalos,  jumentos,  mulas pastavam o dia inteiro sem se preocuparem com as coisas que aconteciam no mundo ,que , de tão grande que era , eles só conheciam aquele pedacinho que lhes bastava  , era o suficiente.. 

O mundo , como era, estava distante para eles.. 


A fazendinha estava tão longe da chamada civilização que nela não chegavam nem problemas nem preocupações. Nem havia rádio por lá. 

Todos os dias,  quando ele estava nascendo e à tarde, depois que o sol começava a esfriar, os passarinhos voavam de um lado para outro posando em galhos das árvores , dos mais baixos aos mais altos, de onde piavam e cantavam a peito aberto e alegremente. Não haviam estilingues, nem caçadores nem visgueiras para apanhá-los e prendê-los para o resto da vida numa gaiola. Tinha até um pica-pau teimoso  que todos os dias, pelas manhãs e às tardes se agarrava em uma árvore , sempre a mesma , e ficava bicando sempre no mesmo lugar aumentando sempre mais o buraquinho. Nunca se soube por que ele fazia aquilo,  porque  não se podia conversar com ele, mas se pensava que estava caçando algum bichinho para comer , mas se chegava bem pertinho dele e ele nem se incomodava com  a  presença de alguém. É possível  que ele gostasse de criança. 

Podia-se ficar olhando até  cansar e mudar o foco do interesse em outra direção . Tinha passarinhos de todos os tipos: canários amarelinhos que cantavam bonito com os peitos estufados, rolinhas e pombinhas que não sabiam cantar,  mas que faziam um barulhinho como se dissessem que “ o fogo apagou “ , bem-te-vis orgulhosos que cantavam a plenos pulmões sempre a mesma coisa, como se tivessem visto algo para contar para alguém. Pousavam sobre os lombos dos bois e das vacas , dos outros animais  e ficavam ,  às vezes , lançando aquele mesmo canto conhecido de “ bem-te.viiiiii... e comendo carrapatos. 

Tinha, também  periquitinhos , jandaias e papagaios barulhentos, tudo em bandos .

 Mas havia ,  também ,  um perigo danado . Lá das alturas, os galinheiros da fazendinha eram observados por gaviões mal intencionados que voavam em círculos à procura de um pintinho desprevenido ou desgarrado da criação ,  para darem o bote. Aquele vôo rasante em direção à presa.  Havia diversos voando na fazendinha  . A criação era bonita e havia alguns galos fortes e valentes tomando conta das galinhas e da grande quantidade de pintinhos nascidos ali mesmo.... 

Ali tinha de tudo. Só era preciso recorrer à vendinha escondida no meio do mato uma vez ou outra, para alguma eventual necessidades, fósforos e querosene, por exemplo...


Assim era a fazendinha de poucos  alqueires , mas bastava para a vó Ziza e para vô Zizão  e sua criação. A ela só se chegava através de uma trilha no meio da mataria com a ajuda de uma boa montaria, de preferência uma mula , que fazia a viagem ser menos  penosa por ter um passo macio. Um passo de viagem, como diziam as poucas pessoas que viviam por lá, esquecidas do mundo e sem querer saber nada como ele...

A vida  seguia em frente,  tranquilamente , mas um dia aconteceu  algo preocupante. 

A galinha e o galo carijó haviam desaparecido ! Procura daqui , procura dali ,  e ninguém achava o casal carijó ! A preocupação aumentava porque o local onde os galináceos , embora fosse perto da casa , era cheio de mato alto, arbustos, grandes árvores, enfim, havia muitos locais onde o galo , a galinha e bichos perigosos também, poderiam se esconder. O perigo dos bichos preocupava, e muito, e o casal era de estimação , cria da casa ! O medo de que algum bicho grande o  houvesse pego era grande . Preocupava a todos e aumentava a cada dia que passava e ele continuava desaparecido... 

Não se achava nada, nem uma pena, nem ela aparecia ! Nada ! Todos gostavam do galo e da galinha carijó . E se algum gato do mato os houvesse pego ? E o que dizer da raposa que não tirava os olhos do galinheiros ? Não, nem pensar nos gaviões, porque uma galinha gorda é muito pesada para eles que preferiam os pintinhos... bem mais leves e macios . 

O ambiente estava pesado, a alegria do terreiro havia desaparecido  e o tempo continuava passando...Todas as noites os bichos se recolhiam, todos os dias saíam para o terreiro e os eles os passavam sem notícia alguma, Dez, quinze, vinte dias, um mês , e nada do galo e da galinha carijó. 

Nenhuma pista , apesar de todos procurarem.

Um belo dia...um belo dia... mas depois de mais de um mês , eis que reaparecem o galo e a galinha carijó  arrastando uma ninhada de quatorze lindos pintinhos , todos pintadinhos como costuma ser a raça carijó. Gordinhos e espertinhos ,  seguiam a velha e orgulhosa mamãe para a nova residência no terreiro da fazendinha da vovó Zizi e do vovô Zizão.  

Ela, a galinha carijó , entrou no terreiro com a sua ninhada fazendo cororicó, cocoricó bem alto , para chamar atenção dos velhos e velhas amigas que começaram a festejar e olhar os pintinhos com muita alegria. Todos os galináceos queriam saber o que aconteceu e então a danada da carijó começou a explicar : ela havia dado uma escapadinha e, andando pelo mato, encontrou uma bela moita onde parou e começou a colocar os seus ovos e depois resolveu chocá-los ali mesmo. O galo , procurando-a, a encontrou e ficou com ela . Tinham água e comida por perto,  porque tinha um riacho e, para a comida, era só ciscar para encontrar até minhocas das quais ambos gostavam muito e que comiam como se fossem espaguetis !

Bem, vocês se lembram do pica-pau ? Ele ainda foi ficando na fazenda e nunca conseguiram acertar um tiro nele, Foi por uma estripolia, que o macaco , um bicho muito parecido com gente e inteligente ,   encontrou a  espingarda e munição do Zizão . Ele mexia em tudo, na casa ! Sabem o que ele fez ? Tirou os chumbinhos dos cartuchos, colocou areia e os fechou. Assim, cada vez que o Zizão ativara no pica-pau por causa da constância daquelas picadas que lhe incomodavam, não acontecia nada e ele pensava que havia errado o tiro . Apenas o barulho e o pica-pau fugia do susto...Sabido aquele macaco  !

E assim, na fazendinha da vó Ziza e do seu marido Zizão, a vida continuava na sua rotina tranqüila ,  com a ninhada crescendo bela e forte , sob a proteção de toda a bicharada feliz . Vó Ziza e vô Zizão, com a criação aumentado , estavam mais felizes ainda,  porque aquela outra ninhada de mais treze fêmeas  e um galo , prometia muitos mais ovos , fartura ,   e a continuação da criação no futuro.   

Sempre haveria novos pintainhos e mais galinhas naquela  fazendinha  alegre e  tranquila, escondida do mundo , onde ninguém iria incomodar.

Sarnelli –
Salvador em 20.10.2005



4 comentários:

Edsonjose disse...

Gostei...lembrei-me do interior do sul de Minas Gerais(Itajubá),onde viviam meus avós paternos.
Parabéns.

Anônimo disse...

Que belas estorinha! Desconhecia este seu talento de contador de estórias para crianças. Conte mais!
Cristiano

Anônimo disse...

Suas estórias são muito doces,
minha neta Aninha teve o previlégio de Lêr com 2 anos e meio, e foi uma enorme surpresa e ficamos envaidecidos poisninguem a alfabetizou. Hoje já com 5 anos ainda não foi pra escola. Vou gostar que ela leia seus contos.
É uma graça! Abraços

Anônimo disse...

Bartolo... O que dizer? Escreves com sabedoria e de uma forma que envolve o leitor.
Simplesmente adorei!
Com carinho,
Bia