Na fazendinha da vovó Ziza – O sumiço da galinha
carijó
Um conto infantil dedicado à minhas netinhas Sathya e
Gracie.
Bem longe da cidade,
existia uma fazendinha onde a vida transcorria
numa rotina tranqüila e onde todos eram felizes. Tudo era natureza
. Ambiente alegre, a mata muito verdinha
, e até o capim rasteiro era verdinho bem claro , macio e tão tenro que os
animais, os bois, vacas, cavalos,
jumentos, mulas pastavam o dia
inteiro sem se preocuparem com as coisas que aconteciam no mundo ,que , de tão
grande que era , eles só conheciam aquele pedacinho que lhes bastava , era o
suficiente..
O mundo , como era, estava distante para eles..
O mundo , como era, estava distante para eles..
A fazendinha estava
tão longe da chamada civilização que nela não chegavam nem problemas nem
preocupações. Nem havia rádio por lá.
Todos os dias, quando ele estava nascendo e à tarde, depois
que o sol começava a esfriar, os passarinhos voavam de um lado para outro
posando em galhos das árvores , dos mais baixos aos mais altos, de onde piavam
e cantavam a peito aberto e alegremente. Não haviam estilingues, nem caçadores
nem visgueiras para apanhá-los e prendê-los para o resto da vida numa gaiola.
Tinha até um pica-pau teimoso que todos
os dias, pelas manhãs e às tardes se agarrava em uma árvore , sempre a mesma ,
e ficava bicando sempre no mesmo lugar aumentando sempre mais o buraquinho.
Nunca se soube por que ele fazia aquilo, porque não se podia conversar com ele, mas se
pensava que estava caçando algum bichinho para comer , mas se chegava bem pertinho
dele e ele nem se incomodava com a presença de alguém. É possível que ele gostasse de criança.
Podia-se ficar
olhando até cansar e mudar o foco do
interesse em outra direção . Tinha passarinhos de todos os tipos: canários
amarelinhos que cantavam bonito com os peitos estufados, rolinhas e pombinhas que
não sabiam cantar, mas que faziam um
barulhinho como se dissessem que “ o fogo apagou “ , bem-te-vis orgulhosos que
cantavam a plenos pulmões sempre a mesma coisa, como se tivessem visto algo para contar para alguém. Pousavam sobre os lombos dos bois e das vacas ,
dos outros animais e ficavam , às vezes , lançando aquele mesmo canto
conhecido de “ bem-te.viiiiii... e comendo carrapatos.
Tinha, também periquitinhos , jandaias e papagaios
barulhentos, tudo em bandos .
Mas havia ,
também , um perigo danado . Lá das alturas, os galinheiros da fazendinha eram
observados por gaviões mal intencionados que voavam em círculos à procura de um
pintinho desprevenido ou desgarrado da criação , para darem o bote. Aquele vôo rasante em
direção à presa. Havia diversos voando
na fazendinha . A criação era bonita e
havia alguns galos fortes e valentes tomando conta das galinhas e da grande
quantidade de pintinhos nascidos ali mesmo....
Ali tinha de tudo. Só era
preciso recorrer à vendinha escondida no meio do mato uma vez ou outra, para
alguma eventual necessidades, fósforos e querosene, por exemplo...
Assim era a
fazendinha de poucos alqueires , mas
bastava para a vó Ziza e para vô Zizão e sua
criação. A ela só se chegava através de uma trilha no meio da mataria com a
ajuda de uma boa montaria, de preferência uma mula , que fazia a viagem ser
menos penosa por ter um passo macio. Um
passo de viagem, como diziam as poucas pessoas que viviam por lá, esquecidas do
mundo e sem querer saber nada como ele...
A vida seguia em frente, tranquilamente , mas um dia aconteceu algo preocupante.
A galinha e o galo carijó
haviam desaparecido ! Procura daqui , procura dali , e ninguém achava o casal carijó ! A
preocupação aumentava porque o local onde os galináceos , embora fosse perto da
casa , era cheio de mato alto, arbustos, grandes árvores, enfim, havia muitos
locais onde o galo , a galinha e bichos perigosos também, poderiam se esconder. O perigo
dos bichos preocupava, e muito, e o casal era de estimação , cria da casa ! O
medo de que algum bicho grande o
houvesse pego era grande . Preocupava a todos e aumentava a cada dia que
passava e ele continuava desaparecido...
Não se achava nada, nem uma pena, nem
ela aparecia ! Nada ! Todos gostavam do galo e da galinha carijó . E se algum
gato do mato os houvesse pego ? E o que dizer da raposa que não tirava os olhos
do galinheiros ? Não, nem pensar nos gaviões, porque uma galinha gorda é muito
pesada para eles que preferiam os pintinhos... bem mais leves e macios .
O
ambiente estava pesado, a alegria do terreiro havia desaparecido e o tempo continuava passando...Todas as
noites os bichos se recolhiam, todos os dias saíam para o terreiro e os eles os
passavam sem notícia alguma, Dez, quinze, vinte dias, um mês , e nada do galo e
da galinha carijó.
Nenhuma pista , apesar de todos procurarem.
Um belo dia...um belo
dia... mas depois de mais de um mês , eis que reaparecem o galo e a galinha
carijó arrastando uma ninhada de
quatorze lindos pintinhos , todos pintadinhos como costuma ser a raça carijó.
Gordinhos e espertinhos , seguiam a
velha e orgulhosa mamãe para a nova residência no terreiro da fazendinha da
vovó Zizi e do vovô Zizão.
Ela, a galinha carijó , entrou no terreiro com a sua ninhada
fazendo cororicó, cocoricó bem alto , para chamar atenção dos velhos e velhas amigas que
começaram a festejar e olhar os pintinhos com muita alegria. Todos os
galináceos queriam saber o que aconteceu e então a danada da carijó começou a
explicar : ela havia dado uma escapadinha e, andando pelo mato, encontrou uma
bela moita onde parou e começou a colocar os seus ovos e depois resolveu chocá-los
ali mesmo. O galo , procurando-a, a encontrou e ficou com ela . Tinham água e
comida por perto, porque tinha um riacho
e, para a comida, era só ciscar para encontrar até minhocas das quais ambos
gostavam muito e que comiam como se fossem espaguetis !
Bem, vocês se lembram
do pica-pau ? Ele ainda foi ficando na fazenda e nunca conseguiram acertar um
tiro nele, Foi por uma estripolia, que o macaco , um bicho muito parecido com
gente e inteligente , encontrou a espingarda e munição do Zizão . Ele mexia em
tudo, na casa ! Sabem o que ele fez ? Tirou os chumbinhos dos cartuchos,
colocou areia e os fechou. Assim, cada vez que o Zizão ativara no pica-pau por
causa da constância daquelas picadas que lhe incomodavam, não acontecia nada e ele pensava que
havia errado o tiro . Apenas o barulho e o pica-pau fugia do susto...Sabido aquele macaco !
E assim, na fazendinha
da vó Ziza e do seu marido Zizão, a vida continuava na sua rotina tranqüila , com a ninhada crescendo bela e forte , sob a
proteção de toda a bicharada feliz . Vó Ziza e vô Zizão, com a criação aumentado
, estavam mais felizes ainda, porque aquela
outra ninhada de mais treze fêmeas e um galo ,
prometia muitos mais ovos , fartura , e a continuação da criação no futuro.
Sempre haveria novos pintainhos e mais
galinhas naquela fazendinha alegre e
tranquila, escondida do mundo , onde ninguém iria incomodar.
Sarnelli –
Salvador em 20.10.2005
4 comentários:
Gostei...lembrei-me do interior do sul de Minas Gerais(Itajubá),onde viviam meus avós paternos.
Parabéns.
Que belas estorinha! Desconhecia este seu talento de contador de estórias para crianças. Conte mais!
Cristiano
Suas estórias são muito doces,
minha neta Aninha teve o previlégio de Lêr com 2 anos e meio, e foi uma enorme surpresa e ficamos envaidecidos poisninguem a alfabetizou. Hoje já com 5 anos ainda não foi pra escola. Vou gostar que ela leia seus contos.
É uma graça! Abraços
Bartolo... O que dizer? Escreves com sabedoria e de uma forma que envolve o leitor.
Simplesmente adorei!
Com carinho,
Bia
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