Sou do tempo dos bondes ,
das marinetes, dos calhambeques e quase
nenhum deles pelas ruas. Sou do tempo
até mesmo das carroças , que prestaram um grande serviço à população, tempo em
que um carro era coisa tão rara que todos os animais, pássaros, se espantavam e
os cães até lhe corriam atrás, querendo morder-lhe os pneus, pensando,
certamente, que aquilo seria um monstro nunca visto . Sou do tempo em que o
verdureiro trazia e levava a sua mercadoria
no lombo de um jumento , contida em dois caçoás laterais , muitas vezes
feitos com dois caixões de madeira que anteriormente haviam acolhido cada um ,
duas latas de 20 litros de querosene, combustível muito importante na época ,
para uso doméstico . A quantidade dos
calhambeques foi aumentando junto com a
população , até chegar aos dias de hoje, bastante transformados e
aperfeiçoados. Me lembro como davam partida ao motor. Uma manivela com uma
haste comprida, era enfiada na frente do carro por um buraco , para fazer girar
o eixo do motor. Alguém dava uma volta , duas, três se necessárias , para o
motor entrar em funcionamento. Muitas vezes era o próprio motorista ou
“chaufer” como era chamado na época ,
que fazia isso e corria para o carro, para pisar rapidamente no acelerador e manter o carro em
funcionamento, é mole? De Lá para cá, a
mudança foi tão grande que um veículo moderno pode até andar sozinho... Sou do
tempo em que você ouvia, de vez em quando , um pneu explodir, coisa que hoje não ocorre mais, e me divertia
vendo o motorista , fardado , usando botas e quepi, com pinta de general, ter que “ fazer a força na rua” , o
que era uma novela muito complicada. Trocar o pneu pelo reserva até que era
relativamente fácil ! O duro mesmo, era quando se fazia necessário , desmontar um pneu,
tirar a câmara, localizar o furo e remenda-lo com a cola Michelin , sempre mantida dentro do
veículo , colocar o remendo na câmara , esperar secar , colocar o pneu no lugar
e tentar enchê-lo com aquela bomba fixada no chão pelos pés e o êmbulo acionado
pelos dois braços do pobre cristão, que fazia força , xingava e suava como um
cuscuz em baixo do sol quente ou mesmo chuva , amaldiçoando o mundo inteiro...Em
dias de chuva, viajar num calhambeque daqueles era uma tragédia e , pior ainda , se
ventasse , porque a proteção eram apenas umas cortininhas de lona e entrava água por
todos os lados. A bomba, era algo parecido com um borifador de Flit , acionada
à mão , como uma aquela de encher bola
ou pneu de bicicleta...Ah, sim..flit era o inseticida da época. O limpador do
parabrisas era manual e manejado pelo próprio “ chaufer ...de dentro do veículo
através de uma manivelinha ...
Sim, mas eu estava indo ,
indo e indo , e quase me esquecia do
porquê eu comecei este escrito. Com o tempo, os automóveis antigos , os
calhambeques , meia carroceria , com coberturas basculantes, de lona , pintadas
de preto, foram sendo modificados, melhorados, houve muito progresso tecnicológico, eles aumentaram demasiadamente.
e agora estão espalhados pelo mundo , aos milhões , desde os populares aos
especiais, que são verdadeiras maravilhas sobre rodas ... O automóvel , é hoje
o sonho de consumo de todas as pessoas , pois todas elas querem ter um e circular orgulhosamente
( dá status ) pelas mesmas ruas antigas
de sempre . Vem aumentando o volume de carros e diminuindo os espaços para a circulação,
das pessoas. Daí, volto novamente ao passado quando eles ainda eram poucos e
nós podíamos ir à cidade, parar na porta de qualquer loja , fazer compras,
voltar, colocar tudo no transporte e ir embora tranquilamente. Não haviam
problemas nem regulamentos para o estacionamento, áreas específicas , nada
disso. As ruas e as praças eram do povo e um automóvel era uma curiosidade ...
Falo de uma época romântica em que até paravam os carros para os pedestres
atravessá-las . Você podia até mesmo fazer isto lendo um jornal sem o risco de
ser atropelado, acredita ? Os motoristas eram educados e gentís e, além do
mais, se exibiam com atitudes desse tipo. O curioso é que não haviam sinais de trânsito e você tinha que obedecer aos apitos dos guardas. Tinha que conhecer os apitos...Hoje, é o maior dos problemas e a quantidade
de carros gerou o temido e angustiante congestionamento
, que passa a ser um suplício diário. Você passa horas em diversos deles ,
enfrenta baterias de sinaleiras, cruzamentos, num dia de sol com a temperatura
de 32ºC ou de chuvas com ventos fortes;
tem que enfrentar alagamentos e outros inconvenientes , ou procurar
sair de ônibus que é o meu caso. Em qualquer das hipóteses , você está condenado a terminar o dia
estressado e, provavelmente , contabilizando algum prejuízo por conta de buracos
escondidos no asfalto nos dias de chuvas . O meu carro está parado na porta
de casa, simplesmente enferrujando , embora com a licença rigorosamente em dia.
Desisti de dirigir e só o faço eventualmente...Não fosse a idade, compraria uma
bike !...Uma moto? nem pensar. A mulher não deixa !
Mas, o que mais me incomoda
é o aparecimento da figura dos guardadores de carros , os chamados flanelinhas ,
que estão por todos os lados e todos os cantos. Com a dificuldade de se
encontrar uma vaga para estacionar, você não escapa, onde quer que seja, de um
deles, que você não vê quando chega, mas que aparece de repente surgindo quem
sabe de onde, no momento exato em que você já pescou uma vaga e quase terminou
a manobra estendendo-lhe o braço com o punho cerrado e o polegar levantado para
fazer notar que ele está ali e lembrar que, vai tomar conta do seu carro e que
na sua saída, certamente, merecerá um prêmio obrigatório pelo serviço prestado
na marra...Há os exigentes, que estabelecem tarifas , até altas e aqueles que cobram adiantado e que você não vê
mais quando vai embora... Essa turma me irrita... Já ando pouco de carro , mas ,
vez por outra, necessito fazê-lo. No entanto , se vejo que, no pedaço , tem um , ou não dou importância
ou vou para mais adiante à procura de outra vaga , mas fico nervoso... Algumas
vezes reclamo, alegando que quando cheguei ele não estava no local e até brigo !
Tem também o pessoal do sindicato...que só aparece nos dias e locais de movimento... Enfim, onde
você procura encostar o seu carro, sempre
aparece um flanelinha , um guardador de carro , um membro do sindicato , os donos dos pedaços
, ou , então , é a própria prefeitura que tomou o espaço do
povo e instituiu uma tal de “Zona azul”,
um caça-níqueis , que é um estacionamento
rotativo , onde, por um determinado tempo , você paga pelo espaço que ocupar. Não há mais
praças para os proprietários de veículos que pagam anualmente os seus impostos
para circular e até para e estacionar . Mas onde ?. Nas ruas , não dá mais
! Em estacionamentos de uma rede de concessionários
, tanto em via pública quanto em
edifícios ? Em todos os casos , pagando
uma alta tarifa? Mesmo que fique só alguns minutos , você paga, pela “ primeira hora” integral que não é barata; Se ficar
fazendo sala em um consultório médico ou clínica , à espera
do profissional , ou da sua vez, os
ponteiros do relógio vão aumentando o valor do seu ticket de saída ...
Estava me esquecendo , mas há uma figura chata e insistente nas ruas , zumbindo juntos aos ouvidos dos motoristas: os limpadores de parabrisas , que já atacam esguinchando água no vidro dianteiro do seu carro e aí, não tem mais jeito ...
Estava me esquecendo , mas há uma figura chata e insistente nas ruas , zumbindo juntos aos ouvidos dos motoristas: os limpadores de parabrisas , que já atacam esguinchando água no vidro dianteiro do seu carro e aí, não tem mais jeito ...
Seja como for, não me
conformo com este estado de coisas , muito menos com os flanelinhas e
guardadores de carros que não guardam nem tomam conta de coisa alguma , apenas
tomam o seu dinheiro...
Foi hoje! Um episódio pitoresco.Saindo de uma clínica com a minha mulher, já após o meio dia, fui almoçar em um restaurante na rua do meio, aqui no Rio Vermelho, que costumo freqüentar. Encontrei uma vaga quase que bem na porta do restaurante. Nisso, minha mulher me disse: olha o cara que vem vindo aí , parece bêbado... De fato, vinha ao nosso encontro com passos indecisos, passou sem dizer nada e sumiu ! Almoçamos e saímos . Demos de cara com o dito cujo que, percebendo outro motorista um pouco mais longe que estava saindo, correu para apanhar a graninha e voltou para nós . Azar ! Minha mulher lhe perguntou : o Senhor está bêbado ? Com voz pastosa e com dificuldade , respondeu que não. Como não, disse minha a minha mulher , e perguntou : e esses olhos avermelhados ?
É que eu tomo “ controlados ,
minha senhora “...
Nenhum comentário:
Postar um comentário