terça-feira, 29 de maio de 2012

Os flanelinhas e limpadores de parabrisas

 
 
Posted by Picasa
Sou do tempo dos bondes , das marinetes, dos calhambeques  e quase nenhum deles  pelas ruas. Sou do tempo até mesmo das carroças , que prestaram um grande serviço à população, tempo em que um carro era coisa tão rara que todos os animais, pássaros, se espantavam e os cães até lhe corriam atrás, querendo morder-lhe os pneus, pensando, certamente, que aquilo seria um monstro nunca visto . Sou do tempo em que o verdureiro trazia e levava a sua mercadoria  no lombo de um jumento , contida em dois caçoás laterais , muitas vezes feitos com dois caixões de madeira que anteriormente haviam acolhido cada um , duas latas de 20 litros de querosene, combustível muito importante na época , para uso doméstico .  A quantidade dos calhambeques  foi aumentando junto com a população , até chegar aos dias de hoje, bastante transformados e aperfeiçoados. Me lembro como davam partida ao motor. Uma manivela com uma haste comprida, era enfiada na frente do carro por um buraco , para fazer girar o eixo do motor. Alguém dava uma volta , duas, três se necessárias , para o motor entrar em funcionamento. Muitas vezes era o próprio motorista ou “chaufer” como era chamado na época ,  que fazia isso e corria para o carro, para pisar rapidamente  no acelerador e manter o carro em funcionamento, é mole? De Lá para cá,  a mudança foi tão grande que um veículo moderno pode até andar sozinho... Sou do tempo em que você ouvia, de vez em quando , um pneu explodir, coisa que hoje não ocorre mais, e me divertia vendo o motorista , fardado , usando botas e quepi, com pinta de  general, ter que “ fazer a força na rua” , o que era uma novela muito complicada. Trocar o pneu pelo reserva até que era relativamente fácil ! O duro mesmo, era quando se fazia necessário ,  desmontar um pneu, tirar a câmara, localizar o furo e remenda-lo com  a cola Michelin , sempre mantida dentro do veículo , colocar o remendo na câmara , esperar secar , colocar o pneu no lugar e tentar enchê-lo com aquela bomba fixada no chão pelos pés e o êmbulo acionado pelos dois braços do pobre cristão, que fazia força , xingava e suava como um cuscuz em baixo do sol quente ou mesmo chuva , amaldiçoando o mundo inteiro...Em dias de chuva, viajar num calhambeque daqueles era uma tragédia e , pior ainda , se ventasse , porque a proteção eram apenas umas cortininhas de lona e entrava água por todos os lados. A bomba, era algo parecido com um borifador de Flit , acionada à mão ,  como uma aquela de encher bola ou pneu de bicicleta...Ah, sim..flit era o inseticida da época. O limpador do parabrisas era manual e manejado pelo próprio “ chaufer ...de dentro do veículo através de uma manivelinha ...
Sim, mas eu estava indo , indo e indo ,  e quase me esquecia do porquê eu comecei este escrito. Com o tempo, os automóveis antigos , os calhambeques , meia carroceria , com coberturas basculantes, de lona , pintadas de preto, foram sendo modificados, melhorados, houve muito progresso tecnicológico, eles aumentaram demasiadamente. e agora estão espalhados pelo mundo , aos milhões , desde os populares aos especiais, que são verdadeiras maravilhas sobre rodas ... O automóvel , é hoje o sonho de consumo de todas as pessoas ,  pois todas elas querem ter um e circular orgulhosamente ( dá status  ) pelas mesmas ruas antigas de sempre . Vem aumentando o volume de carros e diminuindo os espaços para a circulação, das pessoas. Daí, volto novamente ao passado quando eles ainda eram poucos e nós podíamos ir à cidade, parar na porta de qualquer loja , fazer compras, voltar, colocar tudo no transporte e ir embora tranquilamente. Não haviam problemas nem regulamentos para o estacionamento, áreas específicas , nada disso. As ruas e as praças eram do povo e um automóvel era uma curiosidade ... Falo de uma época romântica em que até paravam os carros para os pedestres atravessá-las . Você podia até mesmo fazer isto lendo um jornal sem o risco de ser atropelado, acredita ? Os motoristas eram educados e gentís e, além do mais, se exibiam com atitudes desse tipo. O curioso é que não haviam sinais de trânsito e você tinha que obedecer aos apitos dos guardas. Tinha que conhecer os apitos...Hoje, é o maior dos problemas e a quantidade de carros gerou o temido e angustiante  congestionamento , que passa a ser um suplício diário. Você passa horas em diversos deles , enfrenta baterias de sinaleiras, cruzamentos, num dia de sol com a temperatura de 32ºC  ou de chuvas com ventos fortes; tem que enfrentar alagamentos e outros inconvenientes  ,  ou procurar sair de ônibus que é o meu caso. Em qualquer das hipóteses ,  você está condenado a terminar o dia estressado e, provavelmente , contabilizando algum prejuízo por conta de buracos escondidos no asfalto nos dias de chuvas . O meu carro está parado na porta de casa, simplesmente enferrujando ,  embora com a licença rigorosamente em dia. Desisti de dirigir e só o faço eventualmente...Não fosse a idade, compraria uma bike !...Uma moto? nem pensar. A mulher não deixa !
Mas, o que mais me incomoda é o aparecimento da figura dos guardadores de carros , os chamados flanelinhas , que estão por todos os lados e todos os cantos. Com a dificuldade de se encontrar uma vaga para estacionar, você não escapa, onde quer que seja, de um deles, que você não vê quando chega, mas que aparece de repente surgindo quem sabe de onde, no momento exato em que você já pescou uma vaga e quase terminou a manobra estendendo-lhe o braço com o punho cerrado e o polegar levantado para fazer notar que ele está ali e lembrar que, vai tomar conta do seu carro e que na sua saída, certamente, merecerá um prêmio obrigatório pelo serviço prestado na marra...Há os exigentes, que estabelecem tarifas , até altas  e  aqueles que cobram adiantado e que você não vê mais quando vai embora... Essa turma me irrita... Já ando pouco de carro , mas , vez por outra, necessito fazê-lo. No entanto , se vejo que,  no pedaço , tem um , ou não dou importância ou vou para mais adiante à procura de outra vaga , mas fico nervoso... Algumas vezes reclamo, alegando que quando cheguei ele não estava no local e até brigo ! Tem também o pessoal do sindicato...que só aparece  nos dias e locais de movimento... Enfim, onde você procura encostar o seu carro,  sempre aparece um flanelinha , um guardador de carro ,  um membro do sindicato , os donos dos pedaços ,  ou , então ,  é a própria prefeitura que tomou o espaço do povo e instituiu uma tal de  “Zona azul”, um caça-níqueis ,  que é um estacionamento rotativo , onde, por um determinado tempo ,  você paga pelo espaço que ocupar. Não há mais praças para os proprietários de veículos que pagam anualmente os seus impostos para circular e até para e estacionar . Mas onde ?. Nas ruas , não dá mais !  Em estacionamentos de uma rede de concessionários  , tanto em via pública quanto em edifícios ? Em todos os  casos , pagando uma alta tarifa? Mesmo que fique só alguns minutos , você paga,  pela “ primeira hora” integral que não é barata; Se ficar fazendo sala em um consultório médico ou clínica ,    à espera do profissional , ou da sua vez,  os ponteiros do relógio vão aumentando o valor do seu ticket de saída ...


Estava me esquecendo , mas há uma figura chata e insistente nas ruas , zumbindo juntos aos ouvidos dos motoristas: os limpadores  de parabrisas , que já atacam esguinchando água no vidro dianteiro do seu carro e aí, não tem mais jeito ...

Seja como for, não me conformo com este estado de coisas , muito menos com os flanelinhas e guardadores de carros que não guardam nem tomam conta de coisa alguma , apenas tomam o seu dinheiro...


Foi hoje! Um episódio pitoresco.Saindo de uma clínica com a minha mulher, já após o meio dia, fui almoçar em um restaurante na rua do meio, aqui no Rio Vermelho, que costumo freqüentar. Encontrei uma vaga quase que bem na porta do restaurante. Nisso, minha mulher me disse: olha o cara que vem vindo aí , parece bêbado... De fato, vinha ao nosso encontro com passos indecisos, passou  sem dizer nada e sumiu ! Almoçamos e saímos . Demos de cara com o dito cujo que, percebendo outro motorista um pouco mais longe que estava saindo, correu para apanhar a graninha e voltou para nós . Azar ! Minha mulher lhe perguntou : o Senhor está bêbado ? Com voz pastosa e com dificuldade , respondeu que não. Como não, disse minha a minha mulher , e perguntou : e esses olhos avermelhados ?

É que eu tomo “ controlados , minha senhora “...

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