Esta foto me levou de volta à
minha infância , quando eu morava no que chamávamos Rua da Sereia, onde o meu
avô Pasquale construíu a sua casa no meio do nada e que, naquele tempo, dava
frente para a avenida Getúlio Vargas, hoje conhecida oficialmente como avenida
Ocêanica. Da varanda da casa , se dominava
toda a paisagem . Local aprazível, inclusive
tínhamos uma prainha particular com o piso cheio de pedras , mas isso não era
problema. Meu avô usava tênis, aqueles vagabundos que existiam naquela época.
Eu não ligava para isso e sim , para as
mutucas que nadavam sob as solas dos nossos pés. Foi por ali que vivi parte da minha infância
pescando, tomando banhos de mar, arrancando pina-unas das pedras , correndo quando soava a sirene anunciando uma nova explosão .. , empinando
arraias , jogando bola na praia que hoje chamamos de Praia de Ondina.
A foto não está fazendo outra
coisa que me mostrar , vista da Rua da Paciência, como a paisagem mudou !
Observe um espaço vazio entre as casas e uma ponta de pedra que ainda aparece –
Aquele vazio, se deve à exploração da pedreira que ali existia e, certamente,
deve existir ainda. Houve ali, uma intensa atividade na exploração da pedreira,
até a sua proibição – aquele vão não existia ! o Morro da Sereia descia suavemente em
direção ao mar , terminando ali naquela ponta que vai até a maré , que a proibição fez com que ficasse.
Provavelmente, intervenção da Marinha .
Claro que o Morro da Sereia não
era o que é hoje. Falo dos anos 40 quando tudo ali era mato puro , quando ali
se praticava um ritual e dos tempos em que a polícia ia atrás , porque também
não era permitido ... havia ocasiões em que passávamos a noite inteira ouvindo
o rufar cadenciado dos tambores.
Com a população crescendo e com mais necessidade de moradias, sempre na cidade e, melhor ainda, mais
perto do trabalho, começaram a surgir os primeiro barracos, as primeiras construções
, e foram sempre aumentando , mas ocupando apenas uma parte do morro , aquela que dá para Ondina
, até que saturou e hoje, visto de Ondina, oferece o o aspcto de um
presépio...Uma parte do morro, ficou preservada e foi onde começaram a surgir
as construções mais sofisticadas, até mesmo de luxo, ficando dividido e apresentando diversas paisagens .
Visto de Ondina, o Morro da Sereia tem muita semelhança com um presépio e os espaços
estão todo ocupados...
Visto da Rua da Paciência , a
paisagem já é diferente , mas dá para notar o espaço vazio que a exploração da pedreira deixou, e até onde
estão indo as construções que estão descendo a encosta do morro , que já
chegaram até, onde poderiam chegar antes de mergulhar no mar...
Voltando à pedreira , um detalhe
: no meio de todo aquele imenso bloco de pedra detonado , que se destinou, como
era costume, à construção de muros, paredões, alicerces, etc., havia uma
caverna : “ o buraco da sereia ! “ .Até diziam que ela própria, vez por outra ia descansar ali...
Naquele ponto , se concentravam pescadores profissionais com os seus varapaus ( bambu tratado ) e faziam boas pescarias. Bodiões, garoupas, beatrizes, barbeiros , saramonetes , dentões , etc. Em eterminadas épocas do ano , encostavam cardumes de xixarros, de garicemas , de taínhas , xaréus...
Depois, evidentemente, com a pesca à bomba, os peixes se afastaram . Havia um local agradável , uma caverna nas pedras , de pedras lisas , onde você podia se deitar , dentro do “ buraco , que era amplo “ e até mesmo tirar uma soneca, vislumbrando uma paisagem maravilhosa do verde mar de Salvador, ou azul ? Ou, ainda, das duas cores em sub tons ? Pois bem . Eu divido aquele morro em duas partes. E de fato está dividido porque há um grande muro que faz essa função. Hoje há uma ala popular e outra Vip. O Morro da Sereia , sem o “ Buraco da Sereia”, e, agora ,a parte do Morro da Paciência cujo acesso está sob controle dos proprietários de mansões milionárias , com direito a segurança e tudo !
Era costume do velho Pasquale ficar na varanda para ver qual pescador passava e lhe dizia, por exemplo: Renato( um profissional da pesca que morava no Morro da Sereia) , pode trazer tudo o que pegar .
Não demorava muito e o Renato voltava com uma variedade ... peixes frescos, pescados na hora , com cheiro de mar e gosto de mar ! E voltava para as pedras para novas tentativas... sempre com resultados positivos !
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