Fotos saudosistas
Não
há quem , por mais que viva , se desligue do seu passado . Se somos humanos e
chegamos até aqui , algo ficou para trás e o bom é peneirar e selecionar as
coisas boas para festejar e curtir. Eu sou uma dessas pessoas. Apaguei da mente
tudo aquilo que não desejo lembrar e deixei aquelas que curto com satisfação e
que repasso para os amigos que também desejam voltar, em pequenas viagens, ao passado. São pequenos trechos da nossa
vida, que recuperamos em retalhos e provocamos os outros , que já haviam se
esquecido de tantos fatos da sua infância, da sua juventude , que vivenciaram e
que estavam lá no fundo do baú. É só provocar, que você sempre encontra alguém que lhe diz. Ah...
eu também me lembro disso e daquilo ! Que época boa, hein Sarnelli ? É o nosso
caso. Meu e de muitos amigos e amigas
que nem conheço , mas que fazem parte da minha relação de contatos na
internet e do Face especificamente. Algumas pessoas eu as conheço pessoalmente,
mas outras tantas ,só mesmo virtualmente, mas isso não importa porque em pouco tempo
criamos uma relação de velha amizade já que um se introduz na página do outro
com a maior naturalidade e taca lá o seu palpite, a sua opinião ou mesmo um
retalho da sua história que termina por provocar um papo agradável e salutar.
Até agora escrevi, escrevi, escrevi e não disse nada, mas, vamos lá. Como andei
pelo Rio Vermelho, a vida toda, o bairro cheio de títulos, como o bairro dos artistas , o bairro da
boemia e agora descubro que se tornou também o bairro dos fotógrafos, pois
muitos de nós anda com uma digital no bolso , como eu , ou então, com o celular
, que hoje faz de tudo , até mesmo telefonar, para não perder as cenas e fatos mais
bonitos dos dias, desde o nascer ao por do sol, e o que acontece no pedaço. O
bairro atrai muita movimentação e agora festivais mais variados. Volvendo os
olhos para o passado e abrindo a tampa
do baú do tempo , não dá outra. Encontramos nele pedaços das nossas vidas que
desejamos curtir , mas que o tempo
modificou e que compartilhamos com os amigos e amigas. É aí que entram as
fotos. Temos em mente as imagens do passados , boa parte , hoje , totalmente modificadas e então
começamos a fotografar.Precisamos guardar as imagens de hoje , que mudam
rapidamente. De tanto fotografar pelo bairro , já não nos sobram imagens , a não ser quando a natureza nos presenteia
com um belo arco-íris , com a beleza de um mar calmo , de um céu azul ou o
próprio sol resolve apresentar um espetáculo diferente ou ainda as gaivotas se
fazem presentes em revoadas em torno da Pedra dos Pássaros “ . Sinal de peixes
na área . Então, saímos atrás de novos ângulos para fotografar as paisagens de
sempre. Foi assim que me lembrei dos tempos da pedreira do morro da Sereia, que
hoje não existe mais, detonada à base de dinamite, pois na cidade tudo se
construía com pedras. Na nossa área, havia uma pedreira no morro onde está a
Prefeitura da Aeronáutica, em Ondina e
outra, me dizem, na praia do Buracão. Bem, mas a minha era aquela do
morro da Sereia , a que mexia com o meu imaginário. Resolvi voltar lá depois de
tanto tempo, décadas, para ver de perto o estrago e o espaço aberto com o seu
sumiço . De lá, se divisa o Rio Vermelho de um outro ângulo. Achei e fiquei
feliz. Fiz belas fotos e, de quebra , ainda subi o morro da Paciência, via av
Oceânica, de onde também consegui belas imagens , Não fiz por menos. Com uma
idéia fixa, voltei ao Taboleiro, com um certo sacrifício ao andar sobre areia
fofa e me cansou , que fez parte da nossa infância e juventude. Claro que não
pude obter boas imagens porque já não tenho agilidade para andar com segurança
sobre pedras , mas satisfiz a minha vontade de ir ver e estar no Taboleiro.
Aquela ida, também rendeu algumas fotos, não tão boas, mas rendeu ... A
população cresceu, e , com ela , a cidade, embora o Rio Vermelho não tenha
sofrido muito . A transformação tem sido relativamente lenta. Durante algum
tempo, se preservou , em partes , mas com as imposições desse crescimento
imobiliário , nos últimos tempos e a fome dos empreendimentos por cada vez mais
espaços, está modificando a cara do
antigo bairro de veraneio para o povo que vinha da cidade nas épocas das férias
escolares tomar banho de mar e curar certas doenças que diziam que o mar
resolvia. Assim, revivi a época que andava pelas pedras de Ondina, onde pescava
e corria das explosões da pedreira , o
tempo dos banhos de mar mais deliciosos que já tomei na vida com o Taboleiro
cheio e vi , de longe , o Rio Vermelho
de hoje, embora as retinas dos meus olhos
tenham guardado imagens antigas que me possibilitam contar às pessoas
que o Rio Vermelho do bonde de bandeira
15 e por onde passava o 16 em direção
Amaralina, foi assim e assado . Era apenas uma aldeia de pescadores , que
o crescimento da cidade engoliu...Já não há mais espaço na cidade, para
crescer.Para isto é preciso invadir áreas proibidas e ou alterar os gabaritos dos
edifícios a serem construídos , por
força da necessidade.
Tudo
mudou. Algumas coisas mais rápidas que as outras. Muita gente que conheceu,o
Rio Vermelho antigo, como eu próprio
costumo dizer, nasceu numa Salvador e hoje vive em outra totalmente diferente .
Tem que se adaptar... e apenas lembrar
dos velhos tempos. Parecia que
morávamos em uma cidade tranquila do interior onde o sossego era absoluto. Mas, quem foi que disse que saio
daqui ? Não, fico com o meu mar , coberto por um céu azul maravilhoso
e aquecido por um sol que quase todos os dias no passado veio me visitar e
continua vindo, com algumas raras exceções
!
Bem
, apesar de tudo, há algo que não nos será tirado . O oceano , os rochedos e a beleza da nossa orla . Dias de maré calma
, cheia , de temporais com ventos e ondas
fortes , produzindo espumas, brigando com os rochedos, arco-íris que aparecem
de vez em quando, os barcos que vão ao mar todos os dias, e até mesmo as
revoadas das gaivotas que, pressentido a presença de cardumes, aparecem nos
dias e horas certas. O Rio Vermelho é mesmo um
encanto e tudo o que for possível precisa ser registrado em vídeos ou em
fotos.
Então,
está explicado ! Enebriados com a beleza local , não resta que andar caçando
imagens e por isso o negócio é fotografar, fotografar e fotografar, colocar as
imagens na internet para compartilhá-las com quem não conhece o bairro mais famoso de Salvador
! Quem sabe você, um dia, não aparece por aqui para conferir ? Se os nossos
antepassados tivessem tido a mesma oportunidade que nós temos hoje, certamente
teríamos muitas mais imagens para apreciar, mas, fotografar , naquela época , era coisa
complicada e por demais cara . Uma pena ...
Sarnelli
18,09.2014
Um comentário:
Bartolo, sem palavras para falar da beleza do que escreveste. Tudo que colocaste neste texto (e também as fotos) são de uma sensibilidade incrível. Mas as palavras iniciais mexeram profundamente com meu coração. Escreveste "Não há quem , por mais que viva , se desligue do seu passado . Se somos humanos e chegamos até aqui , algo ficou para trás e o bom é peneirar e selecionar as coisas boas para festejar e curtir.".
Uma das grandes lições aprendidas, para mim, tem sido esta: lembrar do passado não com mero saudosismo, mas relembrar o que foi bom para festejar, para curtir. E esta lição aprendi com este meu prezado amigo!
Continua escrevendo - sempre! Teus escritos são preciosos presentes para quem os lê!
Abraços!
Bia
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