quinta-feira, 18 de setembro de 2014



















   Fotos saudosistas

Não há quem , por mais que viva , se desligue do seu passado . Se somos humanos e chegamos até aqui , algo ficou para trás e o bom é peneirar e selecionar as coisas boas para festejar e curtir. Eu sou uma dessas pessoas. Apaguei da mente tudo aquilo que não desejo lembrar e deixei aquelas que curto com satisfação e que repasso para os amigos que também desejam voltar, em pequenas viagens,  ao passado. São pequenos trechos da nossa vida, que recuperamos em retalhos e provocamos os outros , que já haviam se esquecido de tantos fatos da sua infância, da sua juventude , que vivenciaram e que estavam lá no fundo do baú. É só provocar,  que você sempre encontra alguém que lhe diz. Ah... eu também me lembro disso e daquilo ! Que época boa, hein Sarnelli ? É o nosso caso. Meu e de muitos amigos e amigas  que nem conheço , mas que fazem parte da minha relação de contatos na internet e do Face especificamente. Algumas pessoas eu as conheço pessoalmente, mas outras tantas ,só mesmo virtualmente,  mas isso não importa porque em pouco tempo criamos uma relação de velha amizade já que um se introduz na página do outro com a maior naturalidade e taca lá o seu palpite, a sua opinião ou mesmo um retalho da sua história que termina por provocar um papo agradável e salutar. Até agora escrevi, escrevi, escrevi e não disse nada, mas, vamos lá. Como andei pelo Rio Vermelho, a vida toda, o bairro cheio de títulos,  como o bairro dos artistas , o bairro da boemia e agora descubro que se tornou também o bairro dos fotógrafos, pois muitos de nós anda com uma digital no bolso , como eu , ou então, com o celular , que hoje faz de tudo , até mesmo telefonar, para não perder as cenas e fatos mais bonitos dos dias, desde o nascer ao por do sol, e o que acontece no pedaço. O bairro atrai muita movimentação e agora festivais mais variados. Volvendo os olhos para o passado e abrindo  a tampa do baú do tempo , não dá outra. Encontramos nele pedaços das nossas vidas que desejamos curtir ,  mas que o tempo modificou e que compartilhamos com os amigos e amigas. É aí que entram as fotos. Temos em mente as imagens do passados , boa parte ,  hoje , totalmente modificadas e então começamos a fotografar.Precisamos guardar as imagens de hoje , que mudam rapidamente. De tanto fotografar pelo bairro , já não nos sobram imagens ,  a não ser quando a natureza nos presenteia com um belo arco-íris , com a beleza de um mar calmo , de um céu azul ou o próprio sol resolve apresentar um espetáculo diferente ou ainda as gaivotas se fazem presentes em revoadas em torno da Pedra dos Pássaros “ . Sinal de peixes na área . Então, saímos atrás de novos ângulos para fotografar as paisagens de sempre. Foi assim que me lembrei dos tempos da pedreira do morro da Sereia, que hoje não existe mais, detonada à base de dinamite, pois na cidade tudo se construía com pedras. Na nossa área, havia uma pedreira no morro onde está a Prefeitura da Aeronáutica, em Ondina e  outra, me dizem, na praia do Buracão. Bem, mas a minha era aquela do morro da Sereia , a que mexia com o meu imaginário. Resolvi voltar lá depois de tanto tempo, décadas, para ver de perto o estrago e o espaço aberto com o seu sumiço . De lá, se divisa o Rio Vermelho de um outro ângulo. Achei e fiquei feliz. Fiz belas fotos e, de quebra , ainda subi o morro da Paciência, via av Oceânica, de onde também consegui belas imagens , Não fiz por menos. Com uma idéia fixa, voltei ao Taboleiro, com um certo sacrifício ao andar sobre areia fofa e me cansou , que fez parte da nossa infância e juventude. Claro que não pude obter boas imagens porque já não tenho agilidade para andar com segurança sobre pedras , mas satisfiz a minha vontade de ir ver e estar no Taboleiro. Aquela ida, também rendeu algumas fotos, não tão boas, mas rendeu ... A população cresceu, e , com ela , a cidade, embora o Rio Vermelho não tenha sofrido muito . A transformação tem sido relativamente lenta. Durante algum tempo, se preservou , em partes , mas   com as imposições desse crescimento imobiliário , nos últimos tempos e a fome dos empreendimentos por cada vez mais espaços,  está modificando a cara do antigo bairro de veraneio para o povo que vinha da cidade nas épocas das férias escolares tomar banho de mar e curar certas doenças que diziam que o mar resolvia. Assim, revivi a época que andava pelas pedras de Ondina, onde pescava e corria das explosões da pedreira ,  o tempo dos banhos de mar mais deliciosos que já tomei na vida com o Taboleiro cheio e vi , de longe ,  o Rio Vermelho de hoje, embora as retinas dos meus olhos  tenham guardado imagens antigas que me possibilitam contar às pessoas que o Rio Vermelho do bonde  de bandeira 15 e por onde passava o 16 em direção  Amaralina, foi assim e assado . Era apenas uma aldeia de pescadores , que o crescimento da cidade engoliu...Já não há mais espaço na cidade, para crescer.Para isto é preciso invadir áreas proibidas e ou alterar os gabaritos dos edifícios a serem construídos ,  por força da necessidade.
Tudo mudou. Algumas coisas mais rápidas que as outras. Muita gente que conheceu,o Rio Vermelho antigo,  como eu próprio costumo dizer, nasceu numa Salvador e hoje vive em outra totalmente diferente . Tem que se adaptar...  e apenas lembrar dos velhos tempos.   Parecia que  morávamos em uma cidade tranquila do interior onde o sossego era  absoluto. Mas, quem foi que disse que saio daqui ? Não,  fico  com o  meu mar , coberto por um céu azul maravilhoso e aquecido por um sol que quase todos os dias no passado veio me visitar e continua vindo, com algumas raras exceções  !
Bem , apesar de tudo, há algo que não nos será tirado . O oceano , os rochedos  e a beleza da nossa orla . Dias de maré calma , cheia ,  de temporais com ventos e ondas fortes , produzindo espumas, brigando com os rochedos, arco-íris que aparecem de vez em quando, os barcos que vão ao mar todos os dias, e até mesmo as revoadas das gaivotas que, pressentido a presença de cardumes, aparecem nos dias e horas certas. O Rio Vermelho é mesmo um  encanto e tudo o que for possível precisa ser registrado em vídeos ou em fotos.
Então, está explicado ! Enebriados com a beleza local , não resta que andar caçando imagens e por isso o negócio é fotografar, fotografar e fotografar, colocar as imagens na internet para compartilhá-las com quem  não conhece o bairro mais famoso de Salvador ! Quem sabe você, um dia, não aparece por aqui para conferir ? Se os nossos antepassados tivessem tido a mesma oportunidade que nós temos hoje, certamente teríamos muitas mais imagens para apreciar,  mas, fotografar , naquela época , era coisa complicada e por demais cara . Uma pena ...

Sarnelli 18,09.2014

Um comentário:

Anônimo disse...

Bartolo, sem palavras para falar da beleza do que escreveste. Tudo que colocaste neste texto (e também as fotos) são de uma sensibilidade incrível. Mas as palavras iniciais mexeram profundamente com meu coração. Escreveste "Não há quem , por mais que viva , se desligue do seu passado . Se somos humanos e chegamos até aqui , algo ficou para trás e o bom é peneirar e selecionar as coisas boas para festejar e curtir.".
Uma das grandes lições aprendidas, para mim, tem sido esta: lembrar do passado não com mero saudosismo, mas relembrar o que foi bom para festejar, para curtir. E esta lição aprendi com este meu prezado amigo!
Continua escrevendo - sempre! Teus escritos são preciosos presentes para quem os lê!
Abraços!
Bia