segunda-feira, 21 de abril de 2014

Casa de Pasquale De Chirico o escultor.

                                                 
                         Pasquale e Caymmi moraram nesta casa !



Pasquale e Caymmi moraram nesta casa ...

Um , era escultor e o outro cantor, compositor e poeta e cantava o mar e as coisas da Bahia. O escultor, povoava as praças da cidade ainda em formação, com estátuas, bustos e monumentos de figuras históricas ... O poeta, como o escultor, já se foram, mas estão presentes no nosso dia a dia , pois ao passar por uma praça,  você pode se deparar com uma obra sua , como o monumento à Castro Alves que o mundo inteiro conhece e o outro ,nos deixou as delícias e a sensibilidade das suas canções que saíram de Salvador e se espalharam pelo mundo. Nós as ouvimos todos os dias e continuamos nos emocionando..
Mas, o que tem a ver um escultor com um poeta, compositor e cantor? Pode parecer que nada, mas há sim !  Começa pelo amor de ambos ao mar . Caymmi cantava o mar. Pasquale foi morar , nos idos de 30 do século XX , quando o Rio Vermelho/Ondina , era longe da cidade , no meio do mato , ao lado do mar que ele também tanto amava e contemplava da varanda da casa que construiu bem juntinho dele. Da mesma varanda que ele contemplava o mar , apreciava  os pores de sois de todos os dias...
Dessa varanda , ele observava os pescadores conhecidos que iam para as pedras com os seus varapaus ( vara de pescar, de bambu ,curado )e  dizia a um deles : pode trazer tudo o que pegar !
É que a vida é caprichosa e está sempre aprontando,  de um jeito ou de outro. Ora coloca nas nossas mãos um enorme abacaxi ou contrasta nos proporcionando alegrias inesperadas. Ora junta fato que, de maneira alguma você poderia imaginar que um dia aconteceria porque o passado você conhece, o dia que está vivendo , vai conhecendo aos poucos  à medida que ele se esgota e o futuro... Bem, o futuro, nem mesmo com uma bola de cristal.
Veja, por exemplo , o que eu tenho a ver com o conhecido Caymmi a quem a vida me ligou através de um fato simples, da menor importância, que teria passado despercebido se uma amiga minha, na nossa correspondência, não me tivesse dito:   Que tal contar a história da casa de Caymmi em teu blog???
Aprovei a idéia e então lá vai !
Aliás , vou usar textos  dos nossos mails nos quais eu me refiro à casa da Rua Pedra da Sereia. Fica mais fácil e mais autêntico !
Parte de um mail : amiga !....

Eu coloquei um anexo neste mail e estava me esquecendo de falar sobre ele. A foto é a da casa de Pasquale. A casa original. A que o Governo comprou e deu a Caymmi.  Do lado direito ,  tinha dois quartos e uma varanda que dava para o mar.Do lado esquerdo ( vista de frente ) tinha um quarto que era o do velho e uma grande cozinha. Atrás tinha um área sem utilidade. Na frente, entre  os quartos que ficavam nas laterais tinha uma varanda e a entrada para a sala principal.

Todas as portas dos quartos e da cozinha abriam para o salão  que ficava no centro da casa , onde não faltavam janelas , pois o " nonno " dizia que o sol e a ventilação ,precisavam entrar.  Como a casa tinha sido construída num terreno em declive, pendendo para a esquerda , na parte de baixo haviam mais acomodações, inclusive um salão que era o seu ateliê , onde se dedicava a trabalhos pequenos, como desenhos e estatuetas quando não ia para o seu barracão e tinha vontade de fazer alguma coisa em casa.


Esse mail, minha cara amiga, é o seu presente de Pásqua !   Abraços do Bartolo
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Casa do Pasquale/ Caymmi - quando ela foi construída, o local era um fim de mundo !

O terreno ocupava uma esquina . A frente , ficava para a atual av.Oceânica, antiga Getúlio Vargas  e a lateral , paralela à praia .

Era um terreno grande. Tão grande ,  que foi dividido em duas partes .   De frente para a Av,Oceânica ,  construíram um grande restaurante ( em tamanho ) . A casa do velho foi reformada e ficou com a frente para o mar ou melhor, para a rua que hoje se chama Rua Pedra da Sereia.

Lá no fundo, havia e há ( hoje inativa )   uma pedreira que era e é a base de um grande morro que na época não tinha nada além de mato. Ali se batiam os atabaques do candomblé e nem a polícia ia até lá em cima - naquele tempo ,  a prática era proibida e perseguida  . É o Morro da Sereia ,  mas,  hoje,  é habitado e o pessoal paga IPTU, quem sabe, talvez , até de zona nobre , como eu , que moro numa casinha modesta  construída há uns 60 anos com material de 3a. ou 4a. qualidade mas bem distribuída e com uma planta como serve a um casal de idosos como nós. Nós   amamos ( preste atenção para o fato de que eu nunca uso esse termo ) a nossa casa , ainda mais com todos os quadros pintados por Paola pendurados pelas paredes e alguma obras que restaram do velhote Pasquale, sempre na minha memória... !!! Voltando ao morro da Sereia . Uma parte  do Morro, na realidade , foi tomada por gente de dinheiro e virou mesmo zona nobre, em posição privilegiada.  No resto do morro, já tomaram conta de tudo, tanto  que cobriram todo ele com construções até chegar ao mar descendo a outra encosta da parte traseira. Vou lhe mostrar isso posteriormente através de uma foto e não há mais espaço; Explosões de dinamites constantes ,  foram acabando com uma parte da pedreira. Tiraram pedras até chegar ao limite da segurança do morro e aí pararam. Não se podia explorar mais pedreiras na cidade. Na parte que foi destruída, havia uma gruta que chamávamos de " Gruta da Sereia " . Descansávamos à sua sombra, num ambiente úmido e saudável salpicado por gotículas de água salgada das ondas que iam de encontro aos escolhos e curtíamos uma ventilação especial. Deitávamos sobre uma cama de pedra lisa para descansar e curtir a ventilação fresca que vinha do mar. Isso deveria, forçosamente, encantar Caymmi ! Na época , de lá, da pedreira, não se via parte do Rio Vermelho e hoje se vê porque ficou um vão entre o que restou de pedra na base do morro e aquelas que realmente ficam junto ao mar . Abriu-se um vazio, Há tempos que eu desejava ir até lá para tirar uma foto ,  mas problema com a perna. Fazendo um trocadilho:  uma amiga me passou a perna... Chegou antes de mim e fez a  foto que eu queria fazer. Não me interessei mais...  Mas vou voltar lá e clicar a minha !
 
Essa seria a gruta a que Caymmi se referia .

Ocorreu, ainda,  o seguinte: quando meu avô morreu, um tio meu ficou com a casa ,dando à minha mãe a parte dela. Daí, fomos morar na Rua Bartolomeu de Gusmão , aqui mesmo no Rio Vermelho , em frente a sinaleira do bonde e do ateliê do artista plástico Mario Cravo Jr.O terreno da nossa nova casa era tão grande que comportava um bananal, um aviário com algumas centenas de penosas e ainda uma horta com o seu próprio riachinho que ajudava a manter o terreno úmido beneficiando a plantação. O efeito colateral , foi me fazer enjoar de bananas ...

Eram apenas duas irmãs,  a herança foi dividida . Depois a casa foi vendida à um alto comerciante que acabou por revendê-la ao governo , que a deu de presente a Caymmi para que  morasse na Bahia, em Salvador, mais precisamente. Do lado, no entanto,  derrubaram umas casinhas e construíram dois blocos de apartamentos , o que  devassou a  moradia  , tirando a privacidade do morador mais antigo. O próprio Caymmi disse que se aporrinhou ,  porque a imobiliária fazia uma propaganda no estilo " venha morar em Ondina, venha ser vizinho de Caymmi ! Não resta dúvida que ele teve razão. 

Ele vendeu a casa e foi para o Rio !...

Finalizando : onde foi que eu entrei na história? Ah, sim...No primeiro prego da cumeeira da casa !  Meu avô Pasquale entendeu de me fazer bater o primeiro  e por isto me fez alçarem por dois homens. Me deu um pregão ( prego grande, bem entendido ) , e um martelo. Colocou o prego na posição e disse: bata ! Eu bati quanto pude , mas, claro, não consegui enfiá-lo naquela madeira dura , mas,  oficialmente , o primeiro  da cumeeira daquela casa que iria acolher duas pessoas famosas ,  que hoje não existe mais. foi batido por mim ( alguém teve que terminar o serviço ... ) Foi aí que as histórias de Pasquale , Caymmi e o então pequeno Sarnelli , de alguma forma , se encontraram...! Então, tive o privilegio de bater no primeiro prego da cumeeira daquela casa da qual encontrei uma foto na internet e que ilustra esta postagem.

Não são coisas da vida? Pasquale ,  um escultor . Caymmi , um poeta , compositor e cantor,ambos famosos ,  terem morado na mesma casa ?
Pasquale faleceu em Salvador em 31.03.1943 – Caymmi , no Rio de Janeiro em 16.08.2008 .

Uma coincidência entre os dois : ambos morreram em casa.

É pouco provável que eles tenham se conhecido , pois ambos trilhavam vias diferentes...

Sarnelli, 21 de abril de 2014.











3 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante.
Em junho estarei em Salvador e podemos ir juntos visitar a casa.

Sarnelli disse...

comentário recebido por ,

Puxa Sarnelli, que história mais bonita sobre a casa que abrigou 2 pessoas tão ligadas pela arte! Que casa abençoada. Pena que puderam banalizar tanto aquele lugar tão sagrado. Mas como você disse: a vida tem umas coisas imprevisíveis. Que bom não é?

Anônimo disse...

Meu querido amigo, fiquei feliz que tenhas postado esta história!E , como não poderia deixar de ser, que tenhas postado a foto da casa! Olhar a foto e ler o que escreveste faz a gente viajar no tempo e espaço, e ver, com os olhos da mente e do coração,Pasquale e, depois, Caymmi, neste pedacinho da Bahia!
Sei que já disse isso muitas vezes, mas vou repetir: tens alma de historiador! E nós, que lemos o que escreves, lucramos com isso!
Fraterno abraço! Bia