sábado, 19 de abril de 2014

Um pouco do Rio Vermelho o bairro dos artistas e da boemia...


                                       Nas duas fotos a famosa Pedra da Concha e um panorama do Rio Vermelho ,visto a partir do Morro do Conselho.
================================================================




O Rio Vermelho o bairro dos artistas e dos boêmios


Contam que , quando nada existia nas terras descobertas por Cabral em 1500 , em 1510/1511, não se sabe ao certo,  aconteceu um naufrágio  na altura das terras onde hoje existe o bairro,  e dele surgiu, uma figura que posteriormente veio a ser conhecida e entrou para a história como “ o Caramuru “ , sendo o seu nome verdadeiro ,  Diogo Alvarez Correia . Do naufrágio em  si , pouco consegui descobrir , porque não existem, claro , registros históricos,   apesar de muito desejar saber  o nome da embarcação e o local provável onde ela teria sido destroçada e afundada pelo temporal que a vitimou...Desse naufrágio , apenas uma pessoa se salvou...Quanto tempo ela vagou no mar,não se sabe . Tem gente que nasce com aquilo para lua , o que dá sorte, e muita sorte  ele teve !
Todos nós já sabemos, estudamos na escola,  que  este senhor teve uma importância muito grande nos acontecimentos da época ,  mas este papo é apenas uma introdução para chegarmos ao ponto que nos interessa: quando e como surgiu o Rio Vermelho ? O naufrágio ocorreu por volta de 1510/1511 ( estima-se ) enquanto que a cidade de Salvador foi fundada em 29 de março de 1549 , portanto cerca de 40 anos antes...de a cidade nascer.
No local onde o Caramuru aportou , se é que podemos usar este termo , existia uma tribo de índios tupinambás. É de se pressupor que nada existia naquela época, além do acampamento dos índios e de invejar a sorte do náufrago que, na verdade , foi um predestinado ! Mas ,  náufrago é náufrago , não é descobridor de coisa alguma . Ele apenas  se salvou em boa situação e foi só isso . Depois , o destino fez dele uma figura importante e colocou-o até nas páginas dos livros escolares e dentro das histórias do Brasil e da Bahia. A maré o teria jogado contra um rochedo que lhe deu abrigo e que há muito é conhecido como a “ Pedra da Concha “ que fica a beira mar e na foz de um riacho onde se divide ao encontrar a rocha,  para lançar as suas águas no oceano. O rio se chama Lucaia ou seja, rio Vermelho, que dá nome ao bairro . A parte verdadeira da história começa aí ,  a meu ver , e sigo adiante com as minhas conclusões , com a minha imaginação ,   conclusões , e contando outros fatos para produzir esta crônica e fazer com que ela venha a ser palatável...Eu apenas brinco com os fatos e evidências,  à minha maneira irresponsável ,  tendo esta crônica boa parcela de ficção ! Escolhi o tema e , pronto , já que sobre o fato em si, há diversas interpretações. A minha, é totalmente irresponsável !!!
Continuou o cidadão  vivendo na aldeia , por pouco tempo, mas nela tinha uma intensa atividade . Porém,  fixou residência em outro bairro, mas, cercado das mulheres da tribo  , nas condições da época, uma vida de nababo. Mulheres não lhe faltaram, tanto que foi um eficaz reprodutor , auxiliando a formar  a população da aldeia e, consequentemente da cidade que iria surgir algumas décadas depois do seu aparecimento... Que ele se casou “ oficialmente” com a filha do chefe , também personagem histórica   eu já disse em um outro escrito . Mas vamos de volta ao Rio Vermelho .
Há muita divergência sobre o surgimento do bairro  e boa parte do que se sabe , vem da imaginação de cada um. É claro que eu trabalho com a minha .Há quem considere  que nada existia na época, como eu ,e quem insista que o bairro tenha sido descoberto em 1509 , quando segundo eles, teria ocorrido o naufrágio e ,na visão , contestada por algumas pessoas, que tenha sido o náufrago o descobridor do bairro  quando, na realidade , ele apenas teve a sorte de se salvar da fúria do oceano...De chegar a um ponto do litoral . Tal tese  não coincide com o meu raciocínio, haja vista que no local existia apenas a aldeia indígena e nada mais . Afinal, o naufrágio ocorreu entre 1510/1511 ou antes , em 1509? Enfim, quando ocorreu o naufrágio ? Não se sabe ao certo . Se ele aconteceu antes da fundação da própria cidade , como já poderia haver um bairro , quando nem se cogitava na fundação da própria Salvador, que veio  acontecer após a chegada de Thomé de Souza em 29 de março de 1549 ? Meio confuso não é ? Esta idéia não me entra na cabeça ! Não obstante , o bairro ,  oficialmente ,  tem até uma data em que comemora os seus 500 anos ( 05.10.2009), a partir daí ele pode festejar mais um aniversário todos os anos ..   05.10.1557  foi a data da morte do personagem ) , oficializada pela prefeitura e o mais curioso é que  teria nascido sozinho e antes da cidade , uma vez que bem recentemente estamos comemorando o aniversário de 465 anos de Salvador . Um pouco complicado , não é ?  Como um bairro que não existia  já pode ter comemorado os seus 500 anos , com data oficial e tudo e Salvador ter apenas 465 anos de fundada ? Só tem uma explicação . Não era bairro ainda, no máximo uma aldeia ... Bem, cada qual conta a sua história da maneira que a conhece e eu não  fujo à regra e além do mais esta crônica não altera coisa alguma.
Me lembro que no primário ensinavam a história desse náufrago o qual, quando descoberto pelas índias, para impressionar o povão , sacou de uma pistola ( há quem mencione espingarda !) e atirou num infeliz de um passarinho que passava na hora , e entrou para a história, com  pontaria certeira, o que rende ao sobrevivente a alcunha  de “ de Caramuru “ o que queria dizer filho do fogo sobrinho do trovão. No entanto, esta parte da história é considerada uma invencionice de um frade brincalhão , invencionice , que ficou conhecida e atravessou os tempos. Fica uma curiosidade : onde e como o cavalheiro, mesmo que tivesse uma pistola Ou espingarda , iria arranjar pólvora seca para expulsar do cano da arma a pelota que iria vitimar o infeliz pássaro e ainda a surpresa de ele ser um exímio e eficiente atirador... Claro, foi um aporte do frei , na história ! Apesar disso, essa parte era, pelo menos no meu tempo, ensinada nas escolas...
Dando uma pesquisada, descobri que no espaço que hoje é conhecido como o Rio Vermelho, que antes abrigava os tupinambá,  foi criada em 1557, por ordem do Terceiro Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, a Vila do Rio Vermelho , nada a ver com a data de 1509...
Divergências a parte , vamos ao que interessa , que é o meu desejo de discorrer um pouco sobre o Rio Vermelho, o bairro dos artistas, o mais famoso da cidade e onde reina a boemia fervilhante  à noite...
A partir de quando me lembro , já era mesmo um bairro e tinha uma população fixa , sendo que, dos artistas, o pioneiro, foi o escultor Pasquale De Chirico , por sinal o meu avô materno. Depois vieram outros , destacando-se o casal de escritores Zélia e Jorge Amado e mais outros... daí eu ter vivido a minha vida inteirinha no pedaço, sem nada fazer que me destacasse,  mas, na verdade , o anonimato dá  mais tranqüilidade à vida.
Claro que falo do que me lembro e vamos começar por volta dos meus sete ou oito anos de idade que, de lá para cá,  até hoje, já é um bom pedaço de tempo, desde quando eu já começava a perceber alguma coisa.
Nós morávamos longe da cidade . Era como se estivéssemos no interior , mas perto dela . A nossa ligação era o bonde que era uma espécie de transporte dos vizinhos e amigos em certos horários dos dias. Sem que ninguém combinasse, nos mesmos horários , todos o dias , exceto sábados , domingos e feriados,  todos os passageiros , as mesmas pessoas , estavam no mesmo veículo.  Iam para o trabalho na cidade . Voltavam para almoçar. Era costume. Essa coisa de almoçar na rua não existia, apareceu depois por novas exigências da vida e porque o tempo para tanta coisa a ser feita, encurtou . O retorno ao trabalho  no turno da tarde era a mesma coisa. Lá pelas cinco da tarde, o mesmo bonde , trazia a turma de volta . O mais interessante é que ninguém podia faltar naquelas viagens, Se, por acaso, durante uns dias, alguém deixava de comparecer, a turma já começava a se agitar e a ficar apreensiva sobre o porque de o amigo de todos os dias não estava comparecendo para a conversa alegre que tomava conta das viagens. Tudo voltava ao normal , quando o sumido aparecia e dava as devidas explicações... Um detalhe : raras mulheres e a quase totalidade de homens. As mulheres ficavam em casa e os maridos iam para a labuta no “ comércio... “...
Mas o bairro era uma tranqüilidade só. Banhando pelo Oceâno Atlântico , tinha dias de belas calmarias e também de muito nervosismo quando as ondas batiam com força nos escolhos e o vento soprava forte a ponto de vergar altos coqueiros , coisa que não está mais acontecendo. Prova de que o tempo mudou. Tem tempo que não vejo um temporal que, via de regra ,  durava cerca de três dias... Muita chuva e ventos fortes. Agora , está tudo diferente. A população aumentou , ocupou mais espaço e surgiram os espigões que não existiam naqueles tempos em que começamos a ouvir pelas primeiras vezes, a palavra “ apartamento “. Todo mundo morava em casas com quintais contendo um pequeno pomar  e até mesmo uma pequena horta para o consumo doméstico.
A movimentação de veículos hoje  é intensa , sendo que um passeio a partir da Praia do Porto da Barra , onde Thomé de Souza desembarcou , até Itapoã , passando pela av.Oceânica, brinda as pessoas com vistas maravilhosas. A natureza é pródiga e caprichou em Salvador. O crescimento da população, a expansão do espaço urbano,  complicou um pouco a situação porque criou uma grande movimentação e, de um bairro afastado do centro da cidade, hoje está no centro,  porque ela chegou até o Rio vermelho atropelando tudo e até passou por cima , acompanhando a orla...e seguiu adiante !
Nada mais é como antes. Mas é um bairro , nada pequeno,  onde as pessoas se conhecem e até certo ponto se preocupam umas com as outras , o que é uma característica e uma raridade hoje e dia.
Deixando de lado o bom e o ruím que o desenvolvimentos nos trouxe, há algo que não nos pode ser tirado nunca. O nosso mar, que teima em não ter um azul definido e que varia de tonalidade, até o verde , indo até a linha do horizonte , onde o céu se encontra com o mar ,  os pores de sois de boa parte do ano , os barcos que saem diariamente , quando a maré permite, para o alto mar pela manhã com retorno previsto por volta das cinco da tarde e mesmo o mar e os rochedos que formam a paisagem que todos os turistas fazem questão de capturar para levar como recordação, esperando um dia poder voltar . Ah... e o nosso céu sempre azul de dia e estrelado todas as noites ? A lua também passa por aqui em todas as suas fases. Programe uma vinda a Salvador . Nós os esperamos de braços abertos e não se esqueçam as digitais. Se esquecerem ,  comprem outra aqui mesmo. Voltar sem as imagens , é coisa que nenhum bom turista pode fazer !
Finalizando, não posso deixar de dizer que o Rio Vermelho que conhecemos quando criança era um paraíso . Aqui tínhamos o mundo à nossa disposição. Tomávamos banhos de mar, pescávamos, jogávamos bola, empinávamos as nossas arraias ( pipas ) que aqui são diferentes , nos molhávamos na chuva , subíamos em árvores para apanhar mangas nas chácaras dos outros,  enfim vivíamos como crianças , tivemos a nossa infância e foi essa época que fez com que todos nós daquela época mantivéssemos uma fidelidade irrestrita ao pedaço que ainda, de certa forma, preserva, o que pode, do passado...Tudo isto sobrou ainda para os nossos filhos e netinhos e netinhas... e vai continuar sobrando.  É algo que não pode nos ser tirado. Toda essa recordação , mais a história da cidade,
 Isto ainda é possível para a geração de crianças de hoje porque o mar e a praia ,  a expansão imobiliária não nos podem tirar,  mas, por outro lado , a explosão demográfica provocou um problema que antes não existia. A poluição ! Nem sempre uma praia está indicada para o banho de mar. Me lembro , sempre ele, do meu avô ,  que quando entrava no mar tomava sempre uns goles de água salgada dizendo que continha iodo e que fazia bem à saúde. Falando nisso, não posso deixar de lembrar que o Rio Vermelho, da minha infância, já tinha uma população fixa , mas que era considerado um local de veraneio ou temporada. Muitas casas ficavam fechadas e os seus proprietários só apareciam nas épocas de ferias escolares para curtir o ar do mar e mesmo tomarem banho  pois diziam que a água salgada curava certas doenças . Não a água de hoje , que já não é mais a mesma , que está poluída, mas ainda temos a ventilação com que o mar nos brinda constantemente ..!... Para quem gosta de praia, um verão de 365 dias por ano!
Ah, sim ... e os bondes ? que saudades ! Pintadinhos de amarelo ,  na minha época ,  bancos reversíveis com espaço para cinco pessoas, abertos, contando apenas com uma cortina de correr de cima para baixo como proteção para os dias de chuva que, por sinal diminuíram !
Bem, não podia concluir sem mencionar a vida noturna, a da boemia que é fervilhante e a tradicional Festa da entrega do presente  a Yemanjá todo dia 2 de fevereiro promovida pelos pescadores e televisionada para o mundo inteiro , que, como cantava Caymmi, “ é dia de festa no mar ...E ele dizia: dia dois de fevereiro, dia de festa no mar/quero ser o primeiro/a saudar Yemanjá...
Ainda por cima, é no Rio Vermelho que você poderá comer os melhores acarajés de Salvador e encontrar os melhores restaurantes para experimentar algo da culinária afro-baiana ! Ah... estava me esquecendo. Temos o tradicional banho de mar a fantasia e também o carnaval à antiga onde só rolam marchinhas tocadas por bandinhas e blocos que desfilam extravasando as suas alegrias, tudo com hora para iniciar e terminar. Nada de trios elétricos. No Rio Vermelho, eles são proibidos !
Na verdade este texto foi escrito no dia 1º de abril ,  mas se eu deixar esta data, vocês vão pensar que eu estou brincando. Não. Tudo é verdade ! Posso lhes garantir que vão encontrar tudo no lugar e, melhor ainda ,que a cidade está sendo repensada para melhor... Dê uma passadinha na sua agência de turismo, acerte tudo e venha conferir !

A nossa orla vai ficar mais bonita ainda . Salvador conta a sua presença !

Sarnelli ,  02 de abril de 2014

Um comentário:

Anônimo disse...

Honestamente, cada vez que leio teus textos sobre Salvador sinto mais vontade de conhecer de perto o que conheço de leituras! Adorei! E, claro, não pude deixar de rir do que afirmaste: "Eu apenas brinco com os fatos e evidências, à minha maneira irresponsável , tendo esta crônica boa parcela de ficção ! Escolhi o tema e , pronto , já que sobre o fato em si, há diversas interpretações. A minha, é totalmente irresponsável !!!"
Continue brindando a todos com teus textos, por favor!
Bia