Nas duas fotos a famosa Pedra da Concha e um panorama do Rio Vermelho ,visto a partir do Morro do Conselho.
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O Rio
Vermelho o bairro dos artistas e dos boêmios
Contam que , quando nada existia nas terras descobertas por
Cabral em 1500 , em 1510/1511, não se sabe ao certo, aconteceu um naufrágio na altura das terras onde hoje existe o
bairro, e dele surgiu, uma figura que
posteriormente veio a ser conhecida e entrou para a história como “ o Caramuru
“ , sendo o seu nome verdadeiro , Diogo
Alvarez Correia . Do naufrágio em si ,
pouco consegui descobrir , porque não existem, claro , registros históricos, apesar
de muito desejar saber o nome da
embarcação e o local provável onde ela teria sido destroçada e afundada pelo
temporal que a vitimou...Desse naufrágio , apenas uma pessoa se salvou...Quanto
tempo ela vagou no mar,não se sabe . Tem gente que nasce com aquilo para lua ,
o que dá sorte, e muita sorte ele teve !
Todos nós já sabemos, estudamos na escola, que
este senhor teve uma importância muito grande nos acontecimentos da
época , mas este papo é apenas uma
introdução para chegarmos ao ponto que nos interessa: quando e como surgiu o
Rio Vermelho ? O naufrágio ocorreu por volta de 1510/1511 ( estima-se )
enquanto que a cidade de Salvador foi fundada em 29 de março de 1549 , portanto
cerca de 40 anos antes...de a cidade nascer.
No local onde o Caramuru aportou , se é que podemos usar este
termo , existia uma tribo de índios tupinambás. É de se pressupor que nada
existia naquela época, além do acampamento dos índios e de invejar a sorte do
náufrago que, na verdade , foi um predestinado ! Mas , náufrago é náufrago , não é descobridor de
coisa alguma . Ele apenas se salvou em
boa situação e foi só isso . Depois , o destino fez dele uma figura importante
e colocou-o até nas páginas dos livros escolares e dentro das histórias do
Brasil e da Bahia. A maré o teria jogado contra um rochedo que lhe deu abrigo e
que há muito é conhecido como a “ Pedra da Concha “ que fica a beira mar e na
foz de um riacho onde se divide ao encontrar a rocha, para lançar as suas águas no oceano. O rio se
chama Lucaia ou seja, rio Vermelho, que dá nome ao bairro . A parte verdadeira
da história começa aí , a meu ver , e
sigo adiante com as minhas conclusões , com a minha imaginação , conclusões , e contando outros fatos para
produzir esta crônica e fazer com que ela venha a ser palatável...Eu apenas
brinco com os fatos e evidências, à
minha maneira irresponsável , tendo esta
crônica boa parcela de ficção ! Escolhi o tema e , pronto , já que sobre o fato
em si, há diversas interpretações. A minha, é totalmente irresponsável !!!
Continuou o cidadão vivendo na aldeia , por pouco tempo, mas nela
tinha uma intensa atividade . Porém, fixou residência em outro bairro, mas, cercado
das mulheres da tribo , nas condições da
época, uma vida de nababo. Mulheres não lhe faltaram, tanto que foi um eficaz reprodutor
, auxiliando a formar a população da aldeia
e, consequentemente da cidade que iria surgir algumas décadas depois do seu
aparecimento... Que ele se casou “ oficialmente” com a filha do chefe , também
personagem histórica eu já disse em um outro escrito . Mas vamos de
volta ao Rio Vermelho .
Há muita divergência sobre o surgimento do bairro e boa parte do que se sabe , vem da imaginação
de cada um. É claro que eu trabalho com a minha .Há quem considere que nada existia na época, como eu ,e quem
insista que o bairro tenha sido descoberto em 1509 , quando segundo eles, teria
ocorrido o naufrágio e ,na visão , contestada por algumas pessoas, que tenha
sido o náufrago o descobridor do bairro
quando, na realidade , ele apenas teve a sorte de se salvar da fúria do
oceano...De chegar a um ponto do litoral . Tal tese não coincide com o meu raciocínio, haja vista
que no local existia apenas a aldeia indígena e nada mais . Afinal, o naufrágio
ocorreu entre 1510/1511 ou antes , em 1509? Enfim, quando ocorreu o naufrágio ?
Não se sabe ao certo . Se ele aconteceu antes da fundação da própria cidade , como
já poderia haver um bairro , quando nem se cogitava na fundação da própria
Salvador, que veio acontecer após a
chegada de Thomé de Souza em 29 de março de 1549 ? Meio confuso não é ? Esta
idéia não me entra na cabeça ! Não obstante , o bairro , oficialmente , tem até uma data em que comemora os seus 500
anos ( 05.10.2009), a partir daí ele pode festejar mais um aniversário todos os
anos .. 05.10.1557 foi a data da morte do personagem ) ,
oficializada pela prefeitura e o mais curioso é que teria nascido sozinho e antes da cidade , uma
vez que bem recentemente estamos comemorando o aniversário de 465 anos de
Salvador . Um pouco complicado , não é ?
Como um bairro que não existia já
pode ter comemorado os seus 500 anos , com data oficial e tudo e Salvador ter
apenas 465 anos de fundada ? Só tem uma explicação . Não era bairro ainda, no
máximo uma aldeia ... Bem, cada qual conta a sua história da maneira que a conhece
e eu não fujo à regra e além do mais
esta crônica não altera coisa alguma.
Me lembro que no primário ensinavam a história desse náufrago
o qual, quando descoberto pelas índias, para impressionar o povão , sacou de
uma pistola ( há quem mencione espingarda !) e atirou num infeliz de um
passarinho que passava na hora , e entrou para a história, com pontaria certeira, o que rende ao sobrevivente
a alcunha de “ de Caramuru “ o que
queria dizer filho do fogo sobrinho do trovão. No entanto, esta parte da
história é considerada uma invencionice de um frade brincalhão , invencionice ,
que ficou conhecida e atravessou os tempos. Fica uma curiosidade : onde e como
o cavalheiro, mesmo que tivesse uma pistola Ou espingarda , iria arranjar
pólvora seca para expulsar do cano da arma a pelota que iria vitimar o infeliz pássaro
e ainda a surpresa de ele ser um exímio e eficiente atirador... Claro, foi um
aporte do frei , na história ! Apesar disso, essa parte era, pelo menos no meu
tempo, ensinada nas escolas...
Dando uma pesquisada, descobri que no espaço que hoje é conhecido
como o Rio Vermelho, que antes abrigava os tupinambá, foi criada em 1557, por ordem do Terceiro
Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, a Vila do Rio Vermelho , nada a ver com a data de
1509...
Divergências a parte , vamos ao que interessa , que é o meu
desejo de discorrer um pouco sobre o Rio Vermelho, o bairro dos artistas, o
mais famoso da cidade e onde reina a boemia fervilhante à noite...
A partir de quando me lembro , já era mesmo um bairro e tinha
uma população fixa , sendo que, dos artistas, o pioneiro, foi o escultor
Pasquale De Chirico , por sinal o meu avô materno. Depois vieram outros ,
destacando-se o casal de escritores Zélia e Jorge Amado e mais outros... daí eu
ter vivido a minha vida inteirinha no pedaço, sem nada fazer que me destacasse, mas, na verdade , o anonimato dá mais tranqüilidade à vida.
Claro que falo do que me lembro e vamos começar por volta dos
meus sete ou oito anos de idade que, de lá para cá, até hoje, já é um bom pedaço de tempo, desde
quando eu já começava a perceber alguma coisa.
Nós morávamos longe da cidade . Era como se estivéssemos no
interior , mas perto dela . A nossa ligação era o bonde que era uma espécie de
transporte dos vizinhos e amigos em certos horários dos dias. Sem que ninguém
combinasse, nos mesmos horários , todos o dias , exceto sábados , domingos e
feriados, todos os passageiros , as
mesmas pessoas , estavam no mesmo veículo.
Iam para o trabalho na cidade . Voltavam para almoçar. Era costume. Essa
coisa de almoçar na rua não existia, apareceu depois por novas exigências da
vida e porque o tempo para tanta coisa a ser feita, encurtou . O retorno ao
trabalho no turno da tarde era a mesma
coisa. Lá pelas cinco da tarde, o mesmo bonde , trazia a turma de volta . O
mais interessante é que ninguém podia faltar naquelas viagens, Se, por acaso,
durante uns dias, alguém deixava de comparecer, a turma já começava a se agitar
e a ficar apreensiva sobre o porque de o amigo de todos os dias não estava
comparecendo para a conversa alegre que tomava conta das viagens. Tudo voltava
ao normal , quando o sumido aparecia e dava as devidas explicações... Um
detalhe : raras mulheres e a quase totalidade de homens. As mulheres ficavam em
casa e os maridos iam para a labuta no “ comércio... “...
Mas o bairro era uma tranqüilidade só. Banhando pelo Oceâno
Atlântico , tinha dias de belas calmarias e também de muito nervosismo quando
as ondas batiam com força nos escolhos e o vento soprava forte a ponto de
vergar altos coqueiros , coisa que não está mais acontecendo. Prova de que o
tempo mudou. Tem tempo que não vejo um temporal que, via de regra , durava cerca de três dias... Muita chuva e
ventos fortes. Agora , está tudo diferente. A população aumentou , ocupou mais
espaço e surgiram os espigões que não existiam naqueles tempos em que começamos
a ouvir pelas primeiras vezes, a palavra “ apartamento “. Todo mundo morava em casas
com quintais contendo um pequeno pomar e
até mesmo uma pequena horta para o consumo doméstico.
A movimentação de veículos hoje é intensa , sendo que um passeio a partir da
Praia do Porto da Barra , onde Thomé de Souza desembarcou , até Itapoã ,
passando pela av.Oceânica, brinda as pessoas com vistas maravilhosas. A
natureza é pródiga e caprichou em Salvador. O crescimento da população, a
expansão do espaço urbano, complicou um
pouco a situação porque criou uma grande movimentação e, de um bairro afastado
do centro da cidade, hoje está no centro, porque ela chegou até o Rio vermelho
atropelando tudo e até passou por cima , acompanhando a orla...e seguiu adiante
!
Nada mais é como antes. Mas é um bairro , nada pequeno, onde as pessoas se conhecem e até certo ponto
se preocupam umas com as outras , o que é uma característica e uma raridade
hoje e dia.
Deixando de lado o bom e o ruím que o desenvolvimentos nos
trouxe, há algo que não nos pode ser tirado nunca. O nosso mar, que teima em
não ter um azul definido e que varia de tonalidade, até o verde , indo até a
linha do horizonte , onde o céu se encontra com o mar , os pores de sois de boa parte do ano , os
barcos que saem diariamente , quando a maré permite, para o alto mar pela manhã
com retorno previsto por volta das cinco da tarde e mesmo o mar e os rochedos
que formam a paisagem que todos os turistas fazem questão de capturar para
levar como recordação, esperando um dia poder voltar . Ah... e o nosso céu
sempre azul de dia e estrelado todas as noites ? A lua também passa por aqui em
todas as suas fases. Programe uma vinda a Salvador . Nós os esperamos de braços
abertos e não se esqueçam as digitais. Se esquecerem , comprem outra aqui mesmo. Voltar sem as
imagens , é coisa que nenhum bom turista pode fazer !
Finalizando, não posso deixar de dizer que o Rio Vermelho que
conhecemos quando criança era um paraíso . Aqui tínhamos o mundo à nossa
disposição. Tomávamos banhos de mar, pescávamos, jogávamos bola, empinávamos as
nossas arraias ( pipas ) que aqui são diferentes , nos molhávamos na chuva ,
subíamos em árvores para apanhar mangas nas chácaras dos outros, enfim vivíamos como crianças , tivemos a
nossa infância e foi essa época que fez com que todos nós daquela época
mantivéssemos uma fidelidade irrestrita ao pedaço que ainda, de certa forma,
preserva, o que pode, do passado...Tudo isto sobrou ainda para os nossos filhos
e netinhos e netinhas... e vai continuar sobrando. É algo que não pode nos ser tirado. Toda essa
recordação , mais a história da cidade,
Isto ainda é possível
para a geração de crianças de hoje porque o mar e a praia , a expansão imobiliária não nos podem tirar, mas, por outro lado , a explosão demográfica
provocou um problema que antes não existia. A poluição ! Nem sempre uma praia
está indicada para o banho de mar. Me lembro , sempre ele, do meu avô , que quando entrava no mar tomava sempre uns
goles de água salgada dizendo que continha iodo e que fazia bem à saúde.
Falando nisso, não posso deixar de lembrar que o Rio Vermelho, da minha
infância, já tinha uma população fixa , mas que era considerado um local de
veraneio ou temporada. Muitas casas ficavam fechadas e os seus proprietários só
apareciam nas épocas de ferias escolares para curtir o ar do mar e mesmo
tomarem banho pois diziam que a água
salgada curava certas doenças . Não a água de hoje , que já não é mais a mesma
, que está poluída, mas ainda temos a ventilação com que o mar nos brinda
constantemente ..!... Para quem gosta de praia, um verão de 365 dias por ano!
Ah, sim ... e os bondes ? que saudades ! Pintadinhos de
amarelo , na minha época , bancos reversíveis com espaço para cinco
pessoas, abertos, contando apenas com uma cortina de correr de cima para baixo
como proteção para os dias de chuva que, por sinal diminuíram !
Bem, não podia concluir sem mencionar a vida noturna, a da
boemia que é fervilhante e a tradicional Festa da entrega do presente a Yemanjá todo dia 2 de fevereiro promovida
pelos pescadores e televisionada para o mundo inteiro , que, como cantava
Caymmi, “ é dia de festa no mar ...E ele dizia: dia dois de fevereiro, dia de
festa no mar/quero ser o primeiro/a saudar Yemanjá...
Ainda por cima, é no Rio Vermelho que você poderá comer os
melhores acarajés de Salvador e encontrar os melhores restaurantes para
experimentar algo da culinária afro-baiana ! Ah... estava me esquecendo. Temos
o tradicional banho de mar a fantasia e também o carnaval à antiga onde só
rolam marchinhas tocadas por bandinhas e blocos que desfilam extravasando as
suas alegrias, tudo com hora para iniciar e terminar. Nada de trios elétricos.
No Rio Vermelho, eles são proibidos !
Na verdade este texto foi escrito no dia 1º de abril , mas se eu deixar esta data, vocês vão pensar
que eu estou brincando. Não. Tudo é verdade ! Posso lhes garantir que vão
encontrar tudo no lugar e, melhor ainda ,que a cidade está sendo repensada para
melhor... Dê uma passadinha na sua agência de turismo, acerte tudo e venha
conferir !
A nossa orla vai ficar mais bonita ainda . Salvador conta a sua
presença !
Sarnelli , 02 de abril
de 2014
Um comentário:
Honestamente, cada vez que leio teus textos sobre Salvador sinto mais vontade de conhecer de perto o que conheço de leituras! Adorei! E, claro, não pude deixar de rir do que afirmaste: "Eu apenas brinco com os fatos e evidências, à minha maneira irresponsável , tendo esta crônica boa parcela de ficção ! Escolhi o tema e , pronto , já que sobre o fato em si, há diversas interpretações. A minha, é totalmente irresponsável !!!"
Continue brindando a todos com teus textos, por favor!
Bia
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