O almoço inesquecível do Arinel
,
em conversa certa manhã sobre certas
pessoas que decidem visitar uns amigos nas vésperas do Natal e que acampam até
virada de ano , porque vão estar
perto dos festejos e ainda resolvem
prosseguir a até a data do desmanche do presépio e guarda nas caixas , das
figuras que serão reutilizadas no próximo Natal, me lembrei do almoço do
Arinel. É uma história antiga.
Vamos lá
! Não vou relatar um caso de prolongamento da hospedagem , mas foi muito
interessante e, claro, ficou na história
da família...
Em maio de 1959 fui trabalhar numa
empresa de distribuição de GLP ( Gás liquefeito de petróleo ( para cozinha ) )
numa localidade bem longe da minha casa, ou melhor, da cidade, fora da cidade mesmo, uma vez que os
depósitos de inflamáveis estavam sendo retirados da antiga área vizinha ao
porto a as novas empresas tinham que se instalar longe de onde havia uma
população, inclusive na previsão de crescimento da cidade, como aconteceu , lá
onde o vento faz a curva ! Era uma viagem e tanto ! Muitos perigos, muitas subidas
e descidas, tudo numa estrada estreita e sinuosa, dificuldades habilmente enfrentadas pelo nosso cuidadoso
motorista Crispin que tinha a consciência das responsabilidades que pesavam nas
suas costas. O Crispin mantinha a Opel funcionando
como um relógio ... Ele transportava pessoas e sabia que gozava de toda a nossa confiança.
Claro que , longe tudo, totalmente no
meio do mato, onde nem água tínhamos , a qual precisava ser transportada da
cidade. Para almoçar , um barraco bem junto à empresa, feito de pedaços de
madeira , coberto por folhas de frande ( não tenho a certeza de esta palavra
esteja correta , mas se trata de metal , grandes lâminas onduladas para cobertura de
vãos ) , e totalmente fora do prumo, com piso de terra batido , onde uma
senhora de nome Luzia preparava alguma coisa ,
mas nem sempre agradava e nem chegava a ser mesmo o suficiente para uma
jornada de trabalho tão longa e árdua. Uma Coca-Cola, se aparecesse , era
quente , um purgante ! De vez em quando
, aparecia um figadosinho na panela, já meio esverdeado e era isso o que tínhamos.
No meu caso, eu era apanhado pela Opel que
transportava os funcionários, no meu endereço atual, às cinco da manhã e , consequentemente,
era o último a chegar em casa à noite . Como eu era
sempre o primeiro a ser apanhado, ainda era noite na hora da saída e via o dia
amanhecer durante a viagem. Depois
íamos em busca dos outros para chegar exatamente no horário do início do
expediente do dia. Transporte para voltar à cidade, não existia mesmo. Quem
perdesse a Opel que retornava à cidade no fim do expediente, ficava na
dependência do último a sair do estabelecimento, coisa que acontecia no
entorno das 21 horas ... Chegava em casa tarde da noite e assim, quase não via
os meus filhos acordados , pois às ,minhas saídas e chegadas, sempre estavam
dormindo. Nos fins de semanaz quem dormia era eu, exausto de uma semana quase
sobre-humana.
A não ser a alimentação preparada
pela Luzia, que deixava muito a desejar , nos restava levar o nosso próprio
almoço e isso eu fazia com muita e bastante freqüência. Minha mulher se
levantava de madrugada , cozinhava o meu almoço, que era sempre variado, e
estava resolvido o problema ! Nós trabalhávamos num salão dividido em seções ,
mas sem divisórias. Almoçávamos nas próprias mesas de trabalho e se via do que
um e os outros estavam se alimentando. Do lado do meu quadrado,trabalhava o
contador da empresa. Um jovem peso pesado que podia estar pesando ,na época ,
na faixa dos 30 , uns 130 quilos , sem
medo de errar , que andava de olho no que eu levava. Um dia , já perdido no
tempo e no espaço, levei uma bela porção de lasanha verde que aguçou o desejo
do Arinel , esse era o seu nome , e que me perguntou: o que você está comendo ?
Lasanha verde, disse-lhe eu automaticamente . Me dê um pedaço... Foi aí que começou tudo !
Foi quanto bastou para que ele viesse
com a família, mulher e dois filhos, todos pesos-pesados como o pai, almoçar um
domingo na minha casa. O prato do dia ? Claro que foi uma bela lasanha verde ! Eu
havia dito à minha mulher: prepare quantidade porque eles comem , são da pesada !...
No domingo combinado, pouco antes do
meio dia, chegou a tropa . Claro que as assadeiras de lasanhas já estavam prontas
, mas reservamos um tempinho para jogar conversa fora , curtindo um aperitivo, e chegou a hora de detonar
as lasanhas. Sentamo-nos à mesa e começamos. Também, praticamente, só tinha
mesmo lasanha e era o que queríamos e o que interessava. Depois do almoço ,
mais conversa , o tempo passando eu me perguntava já à uma certa altura: será
que esse pessoal não vai embora ? Que nada, o dia deu lugar à noite , quando as estrelas se fizeram presentes na companhia de uma lua cheia, o
Arinel perguntou: ainda tem lasanha? Claro, ainda tem, disse eu sem ter me
tocado ! Então vamos jantar aqui ! Voltamos à mesa e à comilança. Mais conversa
a noite começando a envelhecer, quando o
meu companheiro de trabalho me fez nova pergunta: ainda tem lasanha ?
Embrulha,
que eu levo !...
E foi assim que, no dia seguinte, lá
no trabalho , o nosso almoço foi o que ? Claro que ainda foi lasanha verde de
espinafre !...
Salvador, 15 de janeiro 2014
4 comentários:
Adorei o pessoal do Ariel detonando tua lasanha. Quem mandou fazer a propaganda da lasanha verde kkkkkkkkkkkkkkkkkkk.....abç Cida
Bão dava para esconder, amiga ! O seu comentário entrou no lugar certo !
Nossa Mãe! Puxa vida! Que legal, sem querer deu certo! abç Cida
Convenhamos: o cardápio da Luzia não devia agradar muitos paladares, e nem poderia ser comparado à Lasanha de Paola! Mas confesso: Apesar de achar que teu colega Arinel era um "confiado", como se diz aqui das pessoas que vão se chegando e ficando, acabei simpatizando com ele e com esta simplicidade dele - de simplesmente apreciar tanto a lasanha ao ponto de ficar para a janta e, de quebra, levar o que sobrou!Tem como não rir?
Maestria! Só posso expressar assim a maneira como narraste todo o episódio da Lasanha Verde!
Grande abraço!
Bia
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