quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Empinando arraias e temperando a linha

Este texto é a cópia fiel de um mail enviado a um leitor ou leitora que colocou um comentário numa postagem minha. Veja no que deu ! 
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Engraçado - o meu micro me informa que já tenho o seu endereço no catálogo ,mas não consegui localizá-lo.
Talvez não saiba em que nome está. Sim , eu também sou avô . Em criança, um dos meus divertimentos prediletos era exatamene empinar arraias nas partes das tardes. Fazia as minhas próprias arraias , de diversos tipos e cores,  as rabadas com linha e bolinhas de algodão e preparava o " tempero" que era de vidro moído  , mas não podia ser qualquer um, tinha que ser de vidraça mesmo, peneirado numa meia de mulher para que o vidro ficasse bem fininho e depois misturava cola, que não devia ficar muito densa. Podia usar cola de marcineiro ,  que tinha que diluir em água fria.Comprava-a no armazém do espanhol, quebrava em pedacinhos e os enfiava numa garrafa com uma certa quantidade de água. Podia demorar dois ou três dias para diluir tudo e era preciso, de vez em quando, sacudir a garrafa. Se ficasse muito grossa , era preciso adicionar um pouco de água até o ponto certo. Podia usar o recurso de esquentar rapidamente a garrafa , digamos, amornar ,  para ajudar a diluir a cola ,  mas sempre ficava um cheiro horrível dentro de casa ! Podia ser goma arábica a granel ,comprada em loja de ferragem e o processo era o mesmo. Goma arábica já pronta,  era muito cara e com o pouco dinheirinho que tínhamos, não dava... Por causa de tudo isso, tínhamos sempre uma reserva de cola pronta em casa...
Depois , era só misturar o vidro com a cola, como dito, não muito densa . Algumas vezes , esticava a linha, dando diversas voltas entre dois postes e temperava colocando aquela mistura numa mão em concha , passando-a  em toda ela inclusive em volta dos postes. Dava um " piparote " para tirar o excesso, esperava secar e recolhia. O mais comum, porém, era empinar a arraia temperando. Nós dispunhamos de áreas abertas na beira da praia , com bom vento e ,  então,  era só oferecer a arraia ao vento e ir temperando o fio ( linha ) com a outra mão  enquanto ela subia e tomava sempre mais linha. Neste processo, não ficava excesso e ficava um " serviço bem feito. Em poucos minutos a linha estava seca e já se podia fazer as pegadas que era o que realmente emocionava. Havia verdadeiros azes e campeões no esporte. Quando conseguia cortar uma arraia rival festejava. Quando a minha era cortada podia até chorar porque poderia ser a última do dia. Não havia, para nós ,  o perigo de fios eletricos na beira da praia mas os fios esticados entre os postes da cidade estão cheios, hoje, delas,  porque muitos jovens ainda hoje empinam em locais inadequados .  Um dos pontos preferidos, para nós~, que morávamos no Rio Vermelho ,  era o campinho das freiras ou então, mesmo o Farol da Barra. Hoje, passado tantos anos, não podendo mais olhar para o sol , para a claridade , não penso mais no assunto.
Nós usávamos o carretel de linha de costura marca coração n. 30 ou o corrente 20 .
Quando não tínhamos dinheiro para comprar um carretel, comprávamos um novelo que custava muito menos , mas também tinha muito menos linha !

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