Este texto é a cópia fiel de um mail enviado a um leitor ou leitora que colocou um comentário numa postagem minha. Veja no que deu !
----------------------------------------------
Engraçado - o meu micro me informa que já
tenho o seu endereço no catálogo ,mas não consegui localizá-lo.
Talvez não saiba em que nome está. Sim , eu
também sou avô . Em criança, um dos meus divertimentos prediletos era exatamene
empinar arraias nas partes das tardes. Fazia as minhas próprias arraias , de
diversos tipos e cores, as rabadas com linha e bolinhas de algodão e preparava
o " tempero" que era de vidro moído , mas não podia ser qualquer um, tinha que
ser de vidraça mesmo, peneirado numa meia de mulher para que o vidro ficasse bem
fininho e depois misturava cola, que não devia ficar muito densa. Podia usar
cola de marcineiro , que tinha que diluir em água fria.Comprava-a no armazém do
espanhol, quebrava em pedacinhos e os enfiava numa garrafa com uma certa
quantidade de água. Podia demorar dois ou três dias para diluir tudo e era
preciso, de vez em quando, sacudir a garrafa. Se ficasse muito grossa , era preciso adicionar um pouco de água até o ponto certo. Podia usar o recurso de esquentar
rapidamente a garrafa , digamos, amornar , para ajudar a diluir a cola , mas sempre ficava um
cheiro horrível dentro de casa ! Podia ser goma arábica a granel ,comprada em
loja de ferragem e o processo era o mesmo. Goma arábica já pronta, era muito
cara e com o pouco dinheirinho que tínhamos, não dava... Por causa de tudo isso,
tínhamos sempre uma reserva de cola pronta em casa...
Depois , era só misturar o vidro com a cola,
como dito, não muito densa . Algumas vezes , esticava a linha, dando diversas
voltas entre dois postes e temperava colocando aquela mistura numa mão em concha
, passando-a em toda ela inclusive em volta dos postes. Dava um " piparote "
para tirar o excesso, esperava secar e recolhia. O mais comum, porém, era
empinar a arraia temperando. Nós dispunhamos de áreas abertas na beira da praia
, com bom vento e , então, era só oferecer a arraia ao vento e ir temperando
o fio ( linha ) com a outra mão enquanto ela subia e tomava sempre mais linha.
Neste processo, não ficava excesso e ficava um " serviço bem feito. Em poucos
minutos a linha estava seca e já se podia fazer as pegadas que era o que
realmente emocionava. Havia verdadeiros azes e campeões no esporte. Quando
conseguia cortar uma arraia rival festejava. Quando a minha era cortada podia
até chorar porque poderia ser a última do dia. Não havia, para nós , o perigo
de fios eletricos na beira da praia mas os fios esticados entre os postes da
cidade estão cheios, hoje, delas, porque muitos jovens ainda hoje empinam em
locais inadequados . Um dos pontos preferidos, para nós~, que morávamos no Rio
Vermelho , era o campinho das freiras ou então, mesmo o Farol da Barra. Hoje,
passado tantos anos, não podendo mais olhar para o sol , para a claridade , não
penso mais no assunto.
Nós usávamos o carretel de linha de costura marca
coração n. 30 ou o corrente 20 .
Quando não tínhamos dinheiro para comprar um
carretel, comprávamos um novelo que custava muito menos , mas também tinha muito
menos linha !