quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A bagunça da bicharada













A BAGUNÇA DOS BICHOS


A maioria das historinhas começa assim: era ma vez...mas esta vai começar diferente. Por que a nossa historinha tem que ser igual à dos outros ? Ora , a historinha é nossa e nós a começaremos do jeito que entendermos, não é mesmo ?
Claro que é !... Então vamos começar pelo princípio!
O inverno estava chegando e logo a seguir viria a primavera e era quando  a alegria ia ter que voltar à floresta . Durante todo o inverno , muita chuva, muito vento, muita  escuridão, chão molhado e cheio de poças de água , muita lama e os lagos e os riachos que atravessavam a floresta estavam sujos, com água barrenta , transbordando e a bicharada já estava cansada de tudo , principalmente, de ficar entocada sem poder sair para aquecer-se ao sol, correr pelos campos e nem ao menos estavam podendo ouvir pouco antes do raiar dos dias os cantos dos pássaros como eles fazem todos os dias , nas madrugadas, durante o resto do ano.
Os pássaros e os passarinhos passaram o inverno inteirinhos entocados , morrendo de frio e sem poder voar porque tinham as suas asas molhadas e pesadas e por causa, também, do vento! O inverno tinha sido rigoroso demais e toda a bicharada agora esperava a primavera para poder curtir um pouco de alegria . Os passarinhos queriam cantar de manhã e nas horas frescas do dia, os coelhos pretendiam correr pelos campos ,  no meio  do mato à procura de ervas fresquinhas para comer, e, assim, cada um dos bichos da floresta  tinha um desejo e esperava a mudança da estação do ano para gastar um pouco da energia acumulada durante todo o tempo em que não puderam se exercitar nem fazer as coisas de que mais gostavam.
Mas, como festejar ? Era preciso fazer alguma coisa . Foi aí que um deles, não se sabe quem, falou que era preciso fazer uma festa. PÔ !... A idéia genial , que foi imediatamente aprovada com entusiasmo. Embora não tivesse acontecido nenhuma reunião, um foi falando com o outro, o outro com o outro e em pouco tempo toda a bicharada na floresta ficou sabendo da coisa, mas ninguém ficou sabendo de quem foi a idéia... mas isso era coisa que não importava . O que importava mesmo era que era preciso organizar a coisa. O mês de setembro estava chegando e, com ele, o dia 21, que era quando a primavera deveria chegar.Tudo deveria estar pronto para quando ela chegasse , mas alguém precisava providenciar para que a festa pudesse acontecer. Foi aí que um pequeno grupo de bichos de todos os tamanhos  se juntou e começaram discutir o assunto. Como todos se conheciam e achavam que eram grandes amigos, chegaram logo à uma conclusão. Precisavam formar uma comissão para se encarregar de tudo, mas de tudo mesmo , para que a festa pudesse ser organizada e acontecesse com todos os detalhes e na data certa. Ficou logo estabelecido que a festa deveria acontecer no dia da chegada da primavera , na parte da tarde, no horário bem fresquinho e pouco antes do anoitecer. Este era um assunto que já estava decidido . Não dava mais para discutir. Agora, o importante seria formar a comissão encarregada dos trabalhos . Foi então que os bichos começaram a falar uns com os outros, passando o recado de que iria haver uma reunião na quarta feira, dia 1º de setembro, para se eleger a comissão encarregada. A reunião teria que ser em um local bem amplo, pois a bicharada naquela floresta era muito grande. Pensa daqui, pensa dali. Alguem dá uma sugestão. Que tal nos reunirmos em baixo da jaqueira grande ? Tem muito espaço, tem os galhos para quem quiser ficar empoleirado, tem muita sombra, . E o chão é limpo , porque  onde há sombra não nasce mato. Até mesmo a festa, se pode fazer em baixo da jaqueira grande. Alguém tem idéia melhor ? Esperou-se um pouco mas não houve outra sugestão e então ficou decidido mesmo qual seria o local das reuniões e também da festa.
Mas surgiu um problema. Todos os bichos queriam fazer parte da comissão organizadora. Não dava ! Tinha que ser uma comissão que , conforme acordo tomado na hora, teria de ser de nove membros para ser um número ímpar e nunca ocorrer um empate quando uma coisa tivesse que ser decidido por votação e os bichos restantes seriam apenas voluntários que iriam realizar alguma tarefa a eles requisitadas.Para facilitar, resolveram então, ali mesmo, que seriam formados pequenos grupos com um chefe e cada grupo teria a sua missão. A alegria era geral. Os bichos já riam, já pulavam e já brincavam uns com os outros, mostrando que a festa iria mesmo ser um grande acontecimento naquela parte da floresta. Nunca tinha havido coisa igual...
Mas ainda era preciso esperar que as chuvas do inverno terminassem mesmo e que toda aquela lameira e poças de água começassem a secar. Mas, enquanto se esperava, já se podia ir começando a pensar..
Já se tinha muita coisa resolvida. Já tinham o lugar para as reuniões e para a própria festa e agora era hora de se escolher os membros da comissão organizadora. Um  trabalho muito difícil porque, com tanto entusiasmo, todos os bichos queriam fazer parte da comissão. E agora? Como é que iria ser para escolher? Ficou uma coisa difícil e então, novamente , alguém sugeriu, no meio de toda aquela conversa, que deviam fazer uma eleição. Seriam eleitos,  como já dissemos, apenas nove membros da comissão, um presidente, um vice-presidente e mais sete colaboradores. Ficou então combinado no meio daquela gritaria, que os candidatos deveriam se inscrever e que os registros começariam no dia seguinte que seria um sábado, na parte da tarde.O tempo já estava melhorando e o sol aparecendo. O chão estava secando e a temperatura estava agradável. Ambiente ideal! No dia seguinte, Lá pelas duas da tarde  os bichos começaram a aparecer. Chegavam aos pares ou mesmo sós e iam se concentrando sob a sombra da jaqueira grande, onde o chão já estava totalmente limpo e seco. Chegou o cavalo acompanhado da égua, o mulo e a mula, o jumento, a raposa , a onça o boi e a vaca , diversos macacos que chegaram pulando de galho em galho, algumas cabras, bodes e cobras e até o jacaré e alguns sapos saíram da lagoa para ir à reunião.
O casal,  o veado e a corça , também não se esqueceram de ir. Chegaram também o tamanduá, a onça , a raposa e a galinha quase que ao mesmo tempo. Vocês já imaginaram  o que a raposa estava pensando com relação à galinha ? Hummm... isso no forno !... Voando , chegaram diversos pássaros  e aves como o gavião, o urubu. A coruja também foi, mas estava com um problema muito grande  Estava morrendo de sono e não conseguia manter os olhos abertos. Na hora de pousar no galho da árvore quase cai,,, e o papagaio conversando com a arara. O local ficou cheio de bichos de todos os tipos, tamanhos e raças. Tinha coelho, a preguiça que levou um século para subir na jaqueira e ficar encarapitada lá em cima, o tatu e a preá,,, Passarinhos cantores apareceram voando e pousaram em galhos, Enfim tinha bichos demais. Só não tinha mesmo aqueles que a gente vê nas outras historinhas que vêm lá da África, como o elefante, a girafa, o leão e a leoa ,o rinoceronte, o hipopótamo e outros de lá de fora porque são bichos estrangeiros.
Nas nossas florestas só temos mesmo os bichos nacionais, os brasileiros. A única ave estrangeira que, porém , já está naturalizada brasileira é a avestruz que já temos por aqui. Trouxeram um casal da África que reproduziu bastantes filhotes até que um dia um  casal fugiu do criatório e foi viver na floresta , onde criou nova família que se misturou com os bichos brasileiros, tornando-se também selvagens. Aqui não temos certos bichos. Hoje já temos camelos, que foram trazidos de fora e levados para o Ceará , onde servem para passear com os turistas nas dunas cearenses. Para vermos leões aqui no Brasil temos que ir a um circo onde eles, juntamente com ursos, elefantes e também até  cachorrinhos e pombas são também “ artistas circenses “ que se apresentam quando o palhaço anuncia: “ respeitável público, distinta platéia , agora vocês vão assistir um dos melhores espetáculos do planeta.
Começa  o espetáculo, o domador entra numa jaula de ferro, estala um longo chicote e os leões correm e saltam, um a um através do círculo de fogo sob os aplausos da platéia onde há mais crianças do que adultos.Os leões adestrados são obedientes.
Então e gente fica sabendo que, pra ver leões e outros bichos que não existem nas nossas florestas temos que ir a um circo que só aparecem de vez em quando. Os zoológicos estão sempre por ai e  nunca saem do lugar. À ave mais parecida que nós temos aqui com a avestruz é a seriema e a ema . Lá pelas quatro da tarde  já tinha bichos demais  e o barulho que faziam era ensurdecedor porque  começaram a não se entender.
Estava na hora de começar a reunião. Começou aos trancos e barrancos .   Nela , ninguém concordava com ninguém . A maior bagunça e discordância ! Não havia como  conseguir a atenção da platéia e até o papagaio se zangou. Deu uma boa revoada sobre todos os animais e pousou num galho bem alto e falou : silêncio , silêncio , por favor ! Vamos nos organizar para poder realizar a votação. Por favor , bichos!  Mas ninguém deu atenção . Continuava toda aquela barulheira numa demonstração evidente de que tantos bichos muito diferentes  uns dos outros, não podiam conviver tranquilamente , pelo menos não concordavam em nada. Com a gente , é outra coisa, porque gente é toda igual e há pouca diferença entre uma pessoa e outra mas, entre os bichos ! ... O cavalo rinchava, o jumento urrava, o gavião piava , alguns pássaros cantava, diferentes um do outro , provocando uma confusão danada de sons e ninguém entendia as notas musicais...os macacos  riam e faziam caretas mostrandos as línguas para os outros, E o papagaio insistia falando porque somente ele era quem sabia falar,pedindo ordem e silêncio, mas levou um tempão falando e gritando e nenhum dos bichos lhe deu atenção e então , alguns animais e aves mais sabidos, vendo que a reunião não iria levar a parte alguma, começaram a ir embora, O jacaré e os sapos voltaram para a lagoa, o cavalo e a égua se mandaram e, o boi e a vaca foram para o pasto. E assim, aos poucos , a reunião foi se esvaziando até que o papagaio olhando em volta, só viu mesmo a preguiça que ainda estava agarrada no tronco da árvore e não tinha conseguido ainda sair do lugar... e, pelo visto, não iria conseguir sair tão cedo !















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2 comentários:

Carmela disse...

Parabéns Sarnelli, sem dúvida um belo conto.

Anônimo disse...

Reitero tudo o que tenho dito sobre teu estilo de escrever. Que tal publicar em forma de livro, meu amigo? Lucrariam todas as crianças que lessem tuas histórias!

Com carinho,
Bia