O zumbido e o grilo!
Foi um amigo do bairro quem me deu a idéia e me lembrou de um fato semelhante ao que relatou numa sua crônica , sobre uma amizade incômoda . Ele falou de zumbido nos ouvidos , uma companhia que não me larga já há vários anos .
No meu caso, tudo começou numa época em que a minha mulher estava em São Paulo e eu me encontrava só em casa. Acontecia frequentemente de eu acordar de madrugada e ouvir um leve apito ou zumbido que me parecia vir de muito, mas muito longe mesmo. Eu comecei a notar esse ruído , zumbido, apitinho, afinal não sabia definir exatamente o que era...e não dava a mínima !
Com o passar do tempo, ele começou mesmo a incomodar, estava mais perto , mas me lembrava uma época que eu passei na cidade de Mata de São João e achava até engraçado , coisa da minha infância , porque parecia vazamento de pressão da caldeira da Maria Fumaça que passava a noite na estação à espera do dia seguinte para iniciar a viagem de volta para Salvador, até que comecei a perceber que o tal do incômodo não vinha de parte alguma que eu pudesse localizar e eliminar. Como na crônica do meu amigo, percebi, para a minha infelicidade, que ele estava , justamente dentro de mim mesmo. Se eu me trancasse dentro de um armário ou mesmo da geladeira ou do freezer, o companheiro indesejado me acompanharia. Fui ao otorrino, fiz um monte de testes , chegamos a um resultado nada satisfatório. Aliás, fui a diversos, sempre com o mesmo resultado. Não tem tratamento! Temos mesmo é que nos conformar e conviver com ele. E tem mais, alertou um deles : não pode tomar café, comer chocolate , cafeína de maneira alguma e o álcool , nem pensar, piora o quadro ! E eu que gosto de um uisquinho e de uma loirinha bem gelada ? A solução é nós três convivermos o mesmo drama.
Este fato, me lembrou uma outra ocorrência. Um dos meus filhos estava morando numa cidade do interior e convidou a mim e à mãe para ir conhecer o novo pedaço e como havia se acomodado. Acompanhado da minha mulher e, evidentemente , do meu zumbido crônico , tomamos um ônibus para enfrentar uma manifestação na praça de pedágio , que nos deixou quatro horas parados na estrada .
Chegando , nos acomodamos num hotel, aliás o melhor e único da cidade, demos umas voltas, conhecemos pessoas e nos recolhemos. Na primeira noite, já de madrugada, ouvi o cricri de um grilo. O cricri foi impiedoso, continuou pela madrugada até o raiar do dia. Na descida para o café falei na portaria para mandar passar um inseticida , algo que me foi prometido mas não me pareceu ter sido cumprido, pois , novamente, na mesma hora da noite anterior o grilo começou com o seu cricri irritante que não me deixava mais dormir. Na descida para o café, pedi para mudarem a minha bagagem para outro AP , o que foi feito. Vocês acreditam que o cricri apareceu de novo ? Outra vez pedi para mudar de e novamente o grilo compareceu no horário certinho , como se estivesse controlando o tempo através de um relógio. Nova mudança de quarto, e o fato se repetiu. Não havia jeito , mesmo passando inseticida em cada AP que ocupava. A grande surpresa , foi eu haver descoberto que o hóspede indesejado havia se instalado dentro da minha bagagem. A cada deslocamento, lógico que ele ia junto !...
Um comentário:
Muito criativa a sua estoria, ainda que verídica. Infelizmente, com o chegar da velhice, todos teremos os nossos próprios grilos nos atazanando os ouvidos!
Cristiano Teixeira
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