segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Uma tarde na Ribeira e o pôr do sol no Monte Serrat






Uma tarde na Ribeira e o pôr do sol no Monte Serrat
            
Esta tarde de domingo meu filho veio nos pegar para uma ida à Ribeira. Para fazer algo tão comum como tomar um simples sorvete. Nada inusitado., mas um belo passeio.  O que há de diferente é que a Ribeira é do outro lado da cidade , na península itapagipana. Um lugar muito bonito , onde um braço de mar tem uma história para contar.
Ainda se pode ver o prédio , praticamente sem função alguma, por não ter sido convenientemente aproveitado, que servia de estação de desembarque e embarque para os passageiros ,  os privilegiados , que podiam viajar de avião pelo seu alto custo na época.   Era ali naquele braço de mar, que também servia de raia para os esportes de remos e até mesmo competições, que os catalinas desciam e subiam. Foi ali que, pela primeira vez na vida via um catalina  amerizar , encostar e lançar uma âncora ao mar . Coisa curiosa, um avião lançando uma âncora no mar para firmar a sua posição ! Nada mais nada menos que um avião atracado ! Mas era e ainda é assim, em locais distantes e longe da civilização. Os catalinas ainda estão voando, acreditem ou não. Descem em rios , lagos, onde houver água...
Eles podem ser considerados, pelo menos eu os considero,  barcos que voam...
Bem, deixando de lado o remo e os catalinas , e a beleza da paisagem , vamos à sorveteria,  afinal, fomos à Ribeira por causa dela. Pô, nunca vi uma sorveteria tão cheia ! Também,... ela é famosa! Ganhou fama por seus sorvetes de frutas , mas, hoje, a variedade de sabores é imensa. Era e é uma das melhores  da cidade e, tem mais: é quase centenária !  Atrai  multidões , que atravessam a cidade para ir tomar um sorvete lá, apreciar a beleza do braço de mar e as cidades que estão do outro lado , tanto no alto da montanha ,como quase que no nível do mar, por onde passa uma ferrovia , meia sucateada hoje, mas da qual  tenho  história para contar. Mas esta história é uma outra história. Eu quero falar é do sorvete e da sorveteria.  Foi preciso enfrentar uma bruta fila para pegar a ficha. O salão é imenso e a freqüência,  como já dito, dá a impressão de uma feira. Mas não só a sorveteria da Ribeira, como a própria praça , é um, local agradável onde os moradores do bairro curtem um domingo  ou um feriado tranqüilo e alegre,  conversando com os amigos, como se vivessem numa cidade do interior , comendo um pedado de pizza, um pastel, acompanhados de uma loirinha gelada ou tomando um delicioso sorvete. Paisagem para alegrar as vistas, que ajuda a diluir o estresse da semana e revigora.
Daí,  seguimos para o monte Serrat com a intenção de pegar ainda o pôr do sol. O monte, junto ao forte do mesmo nome, é um dos lugares mais indicados na cidade para se apreciar o espetáculo. Temos o forte , que , por si só, já é uma atração, a própria Baía de todos os Santos, a cidade ao longe, navios ancorados e o espetáculo sempre diferente de um pôr de sol tropical . O problema , foi o estacionamento. Pareceu que todas as pessoas que não viajaram neste feriadão  ,  resolveram ir ao Bonfim e ao Monte Serrat na tarde de ontem. Engarrafamento de veículos e muita gente . Tivemos que andar um pouco , ida e volta, nos cansamos,  mas ainda pegamos parte do espetáculo e consegui clicar algumas fotos, que impressionam e que estão valendo a pena. É um local que vale a pena voltar . Você não se cansa porque sempre parece uma novidade.  Um pôr do sol nunca é igual a outro ! Quando vier a Salvador, destaque uma tarde para tomar um sorvete na Ribeira e para assistir , do Monte Serrat, o pôr do sol em Salvador. Não esqueça a sua digital , para levar uma boa lembrança da sua passagem por aqui. Se esquecer, pode considerar o seu passeio perdido.
É claro que adoramos o passeio, eu e a minha mulher, ainda mais , junto com um dos filhos, a nora e duas netinhas iguais a todas as outras que não paravam de aprontar , às quais foram necessários cuidados especiais de segurança.                                                                                        
Sarnelli

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O naufrágio de Diogo Alvarez Correa






                 
                      

          Este é o perigosíssimo peixe caramuru que vive entre as rochas, enlocado


Por volta de 1510/1511,  naufragou nas costas do Rio Vermelho uma nau cuja nacionalidade não é do meu conhecimento. Poderia ter sido portuguesa ou mesmo francesa.
Daquele naufrágio, salvaram-se 9 pessoas. Os índios Tupinambás comeram oito,  mas preservaram o nono , que , por um detalhe anatômico importante  , foi salvo pelas índias que descobriram nele algo que faltava aos seus parceiros índios ...
Bem, indo aos fatos. Diogo Àlvares Correa, o personagem real da história, nasceu em Portugal , como contam os registros, em 1475 e faleceu na cidade baiana de Tatuapara em 5 de outubro de 1557. Ele foi descoberto depois de ter estado vários dias escondido num rochedo existente na foz de um rio , rochedo este conhecido hoje como a Pedra da Concha. Claro que tendo passado por aquelas dificuldades , a sua aparência era péssima , ainda mais coberto de algas , esfarrapado e  barbudo. Foi apelidado de Caramuru , que é um peixe que havia em abundância na época e que vive ainda hoje em locas no meio das pedras. Um peixe perigosíssimo, com uma arcada dentária muito afiada . Cuidado e tratado, passou a fazer parte da comunidade Tupinambá e gozava do privilégio de escolher as índias... do que resultava o aumento constante, começando aí a miscigenação da população. Dessas uniões, nasceram diversas famílias baianas famosas e importantes. Quer dizer: se deu bem , inclusive porque se casou com a filha do chefe , a índia Catarina Paraguaçu posteriormente Catherine Du Bresil ,  e ganhou terras a valer...
Ele viveu entre nós cerca de cinqüenta e cinco anos , foi uma figura importante na história do Brasil embora tenha sido um pouco afeito a um contrabandozinho de pau Brasil , que negociava com os franceses. Como falava francês fluentemente, chegou-se a pensar que ele poderia ser um francês e não um português ,mas não faz diferença à esta altura do campeonato. A sua presença foi muito importante à chegada de Thomé de Souza para ajudar na fundação da cidade de Salvador que aconteceu oficialmente no dia 29 de março de 1549 , Thomé de Souza,era um nobre português,  à mando da coroa.
Ora, atribuir ao náufrago a descoberta do Rio Vermelho é uma invencionice porque o bairro não existia. Existiam os índios Tupinambás e num futuro , em 1557 o terceiro governador geral do Brasil, Mem de Sá , estabeleceu a aldeia do Rio Vermelho. Ainda estamos falando de aldeia e não de bairro , o qual, na minha maneira de pensar, veio a se desenvolver em época relativamente recente com a chegada de veranistas da cidade e  cresceu natural e lentamente . Dizia-se , na época, que o banho de mar tinha diversas qualidades medicinais e que curava doenças . Caso isso fosse verdade, o atual bairro faria 500 anos apenas em 2.057 , mesmo assim , após os 500 anos da cidade de Salvador que deverá acontecer em 2.049 – depois do aniversário da cidade. Não bate , não combina, não encaixa !

Outra história embutida é aquela do tiro ! Conta-se que quando Diogo Alvares Correia foi descoberto, para assustar os índios ,  sacou de uma arma e deu um tiro certeiro num infeliz de um pássaro que também entrou na história sem querer... O pássaro não teve salvação ! Despencou morto nas vistas de todos os presentes estupefactos ! A minha pergunta é : de onde saiu aquela arma e como ele pôde atirar com pólvora molhada ! Mas os índios , espantados , clamaram : “ Caramuru , Caramuru !...Que me disseram significar “ filho do fogo, sobrinho do trovão “...Pelo menos foi isso que me ensinaram  no primário.  No entanto, há quem afirme que esta história foi uma invencionice de um frei brincalhão , que a faz mais interessante e ajuda a aumentar a polêmica , eu até sabia o seu nome , mas esqueci. Coisa da idade !

Sarnelli , 07.11.14

Você tem certeza de que foi Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil,  ou alguém esteve por aqui antes dele , um espanhol, por exemplo ?



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Os elevadores de Salvador - O Elevador Lacerda ( e outros )


                                          


O primeiro elevador Lacerda com duas cabines 
( Foto obtida na Internet de autoria desconhecida )




Parte alta do Elevador Lacerda
Balanço , visto do Palácio do Rio Branco

 Os elevadores de Salvador



Os elevadores de Salvador
O elevador hidráulico ou de parafuso e o Lacerda de hoje .
Uma breve história . Mais ou menos como a coisa aconteceu , usando um pouco a minha imaginação!
Tendo sido a cidade de Salvador, fundada numa parte alta, por motivos estratégicos, criou-se  a necessidade de remover materiais da parte baixa, nível do mar , para a parte alta , a fim de que se pudesse construir a cidade e, ao mesmo tempo, suprir às necessidades de quem estava na parte alta, onde a cidade foi se materializando . Lembrar que o mar avançava até o sopé da montanha e que muitos materiais chegavam por via marítima. Um desnível que poderia variar , e varia e, em alguns casos, muitos mais  , de uns 70 metros , um pouco para mais um pouco para menos.
Foi aí que entraram em cena os padres e por causa deles existe , no sopé da montanha, uma rua justamente chamada “ rua guindaste dos padres “.
Acredita-se que o primeiro sistema foi instalado em 1874 quando foi aberta uma rampa , aparelhada com trilhos e por ela se movimentava uma plataforma que , com o tempo evoluiu ao ponto de receber uma cabine e começar a transportar passageiros , já que antes só movimentava  materiais . Foi, na verdade, o que chamamos de “ plano inclinado “,  O primeiro nome que o aparato recebeu, foi o “ charriot”. Depois, por uma série de circunstâncias , veio a chamar-se “ Plano inclinado Os Gonçalves”. No entanto, o seu nome inicial ,foi Plano inclinado Princesa Isabel.A data conhecida para a inauguração deste sistema teria sido 25 de dezembro de 1889.
Mas o sistema dos guindastes dos padre , e outros rudimentares que foram instalados desordenadamente,  cada qual para uma finalidade, não deveria durar uma eternidade. Foi quando começou a história do Elevador Lacerda. Vou me limitar , resumindo o quanto possível, e falando apenas do Lacerda. O cartão postal mais conhecido da cidade.
A diferença de nível entre as duas partes da cidade, exigiu uma solução . Era uma escarpa que posso imaginar que tenha estado quase na vertical. Foi então que veio o primeiro elevador, o chamado hidráulico.O Elevador hidráulico da Conceição da Praia, também conhecido como o “ elevador de parafuso “. O assunto interessou ao engenheiro e empresário Antônio Lacerda e seu irmão Augusto Lacerda,  que já andavam metidos em transportes,  inventando linhas de bondes  a tração animal, o popularmente conhecido bonde puxado a burro..., serviço que exploravam.
O primeiro elevador, o hidráulico ,  foi substituído por novos equipamentos e hoje o Lacerda é o que conhecemos ao vivo e a cores e em fotos espalhadas pelo mundo inteiro.Deixava os passageiros na parte alta da cidade, na Praça Thomé de Souza , também conhecida como praça municipal e, na parte baixa, no que é hoje conhecida como Praça Cayru ou ainda como a Praça do Mercado Modelo  . Ligava ou liga, evidentemente , as cidades baixa à alta ,  começou com duas  cabinas que transitavam   num fosso escavado na rocha da montanha . Veio depois, o desafio de construir uma torre externa onde seriam colocadas mais duas cabines, totalizando as quatro que funcionam ainda hoje e que deverão funcionar por uma eternidade... Foi preciso, então, criar um “ balanço” para que as pessoas pudessem alcançar as cabines externas .  Além da própria torre , com pouco mais de 70 metros de altura , a partir de um terreno recuperado ao mar, tudo foi um verdadeiro o desafio.  Para a realização da obra  , ainda falo do balanço, e da própria torre externa, ou, se preferirem ,  passarela. Foi preciso utilizar , unicamente , andaimes feitos de caibros de madeira , algo totalmente impensável, e impraticável hoje , mas arrojado na época.. . Tudo amarrado com arames e cordas.  Usaram os recursos  da época . Muito rudimentar, um empreendimento impressionante,  que exigia muita coragem e que comeu parte do que os irmãos tinham...
A obra foi inaugurada em 08.12.1873, data que coincide,  hoje , com uma das maiores festas religiosas de Salvador. Dia de N.Sra. da Conceição da Praia. Há quase 140 anos ele , o Lacerda,  presta bons serviços à população levando as pessoas de um plano para outro em poucos  segundos , encurtando distâncias , eliminando sérios problemas de tráfego e transportes. Por sinal, hoje é dia de aniversário do Lacerda, se considerarmos válida esta data , coincidindo com o dia de N.Sra. da Conceição da Praia, uma grande festa em Salvador.
É um dos monumentos mais fotografados da cidade , imagens  do Lacerda ganharam o mundo. De uma certa feita, uma pessoa me perguntou como era o Elevador Lacerda .  Francamente, tive alguma dificuldade em fazê-la compreender ( mas não compreendeu coisa alguma, apesar dos meus esforços !) como é o Lacerda. Certamente esta mesma pessoa estará lendo esta minha postagem e , ao ver as fotos, saberá, de uma vez, porque o Lacerda é tão famoso e como se destaca na paisagem. Quem vem por mar , não pode deixar de ver o Lacerda , pois ele salta nas vistas e já vai chegar com aquela vontade de dar uma subidinha para ver a cidade de cima para baixo e apreciar a beleza da Baía de todos os Santos que ficará indelevelmente gravada na mente do visitante.
O nome de Elevador Lacerda, evidentemente, homenageia os dois irmãos, mas lembra mais o Antonio,  que não desistiram de um sonho e que deram uma característica única à cidade de Salvador! Homenagem mais do que merecida !
Há outros elevadores pela cidade, O Plano Inclinado Osgonçalves, o de Sto Antônio do Carmo e o da Liberdade . Houve o Elevador do Taboão, que boa parte da população nem sabe que existiu , mas a sua carcaça está lá onde funcionou durante muito tempo. Se ainda existisse , seria uma peça histórica e curiosa, pois ele era mesmo diferente ...Era acionado por uma corda que o fazia movimentar para cima e para baixo !!!
Afinal de contas , se Salvador é uma cidade de dois andares, como fazer sem os elevadores ? Só usando ladeiras ? O tempo é curto e os trajetos terrestres longos.É preciso encurtar distâncias ! E o Elevador Lacerda faz , e muito bem, o seu papel !
Sarnelli
08.12.2014.