Suicídios
em Salvador
Houve
um tempo em que a população era surpreendida com a notícia de que alguém havia
se suicidado na cidade e como na época ela era
relativamente pequena, estou falando , provavelmente do fim da década de 40 ,
início de 50, usando só a memória de criança e as fofocas que ouvia
circulando. Todo mundo falava do mesmo assunto.
Quando acontecia, era o assunto do dia !
Suicídio, infelizmente, é algo normal , pelo menos para nós , hoje em dia, mas, na época , era um absurdo, uma tragédia que chocava a população ! E eu prevejo, hoje , que, com a situação política que estamos atravessando, muita gente vai escolher este caminho para se livrar dos problemas deste mundo dominado por homens maus e que não querem largar as tetas das vacas leiteiras $$$$$$ !... Poder + muita grana, quem é que quer abrir mão ?
Bem,
mas continuando : durante muito tempo aconteceram suicídios em Salvador e
sempre houve algo em comum entre eles . Havia um ponto e ainda há, na cidade , que
era perfeito e o predileto dos cidadões , para os vôos da morte rápida e barata
. Era o famoso Elevador Lacerda o maior cartão postal da cidade ! Vocês observaram que toda a parte
envidraçada que contorna o balanço e nos oferece uma visão panorâmica daquele
local , tem grades de ferro na parte
externa ? Pois bem , elas foram
colocadas justamente para terminar com a série de suicídios a
partir do próprio elevador. O cara ia lá , subia a janela e se lançava no ar...
num vôo de poucos segundos e ia se estatelar no asfalto da praça Cayru.
Com
a colocação das grades,o Lacerda tornou-se impraticável. Mas havia uma outra
solução para os candidatos ao suicídio. Não podendo se lançar do Lacerda ,
começaram a se utilizar do Edifício Sulacap na esquina da Ladeira de São Bento
com o início da Rua Carlos Gomes. Desconheço as providências que foram adotadas,
mas , ou modificaram o sistema , ou
alguma foi feita no Sulacap, que promoveu o término de mergulhos da sua parte
mais alta.. Agora, quem quer se matar tem vários outros meios. Na época , era
difícil se conseguir uma arma de fogo. Nunca ouvi falar de que ,alguém por aqui ,
se suicidou usando uma arma de fogo ou mesmo uma faca... a chamada e famosa peixeira do
nordestina que servia mais para mais para limpar ´peixe, cortar xarque e, vez
por outra , mandar mesmo alguém para o além...!
O relato acima, está apoiado apenas nos fatos guardados na minha memória de criança . É muito provável que muitas pessoas desconheçam esta curiosidade, vamos chamar assim.
E, logo ,logo, um poeta de rua lançava um livreto de cordel que expunha na Praça Cayru onde tudo o que acontecia na cidade vinha a se saber, justamente através destes livretos de cordel apregoados pessoalmente pelos editores. ! Até parecia um milagre. Bastava acontecer , que no dia seguinte a história aparecia nos livretos sustentados nos cordéis esticados entre uma árvore e outra... Bastava acontecer um escândalo, que a história estaria nos livretos, em versos para toda a população curtir .
Tragédias em versos, carregados de humor, virando diversão e literatura.! Há muita gente, hoje, que coleciona tais livretos de cordéis...
Sarnelli,
12.07.2005.