sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Acontece cada uma ! O dia em que uma professora fez as colegas rirem...

Acabo de receber de uma amiga que chamarei de Klara , o mail com a historia engraçada que abriu alegremente o  meu dia e que compartilho , embora sem as fotos que gostaria de colocar aqui. Vamos lá ?:

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 Olá...

Tem dias que as coisas ficam complicadas, não? Logo que a gente sai da cama...

Hoje, acordei cedinho, tomei banho e, para não atrapalhar ninguém, vesti-me no escuro, apenas com a claridade suave que vinha da rua, invadindo a veneziana fechada.

Sabia que estava com a gasolina do carro na reserva - assim, ainda teria que passar no posto e abastecer antes de ir para a escola. Uma paradinha rápida na cozinha, para um copo de leite, e lá fui eu.

Carro abastecido, liguei o som e fui, "curtindo" ColdPlay, no CD do carro, empolgada para o dia de trabalho.

Ao chegar na escola, mal estava trabalhando alguns minutos, e uma aluna entrou chorando. Contou-me seus problemas, conversamos, ela acalmou-se e decidiu ir para a sala de aula. Acompanhei-a, a fim de que a professora lhe permitisse entrar em aula (já que estava atrasada).

Seguindo com a aluna por um longo corredor, estranhei o som de meus sapatos. Antes que eu explique, uma pequena explicação: como estou, praticamente todos os dias, com sapatos de saltinho - sem exageros, mas de salto, alguns colegas já brincam comigo, dizendo que sabem quando estou chegando pelo barulhinho do salto. Mas, voltando ao assunto, estranhei, andando ali pelo corredor, o som dos saltos do sapato:

Ao invés de ouvir o tradicional: "Toc toc, toc toc" a cada passo, o que se ouvia era: "toc silêncio, toc silêncio". Até comentei com a aluna , mas como ela estava ocupada, tentando conter seu choro, não deu muita atenção.

Voltando à minha sala, encontrei uma das serventes (das senhoras da equipe de limpeza da escola) e comentei com ela: " Joana , que som estranho meus sapatos fazem neste corredor!". Ela indagou o por que e olhou para meus pés.

Desvendou-se o mistério.

Explodiu a servente em gargalhadas!

A abobada, aqui, ao vestir-se madrugadinha, na penúmbra, colocara um pé de sapato de cada par! Lá estava eu - com dois sapatos diferentes. Iguais somente na altura - mas totalmente diferentes
, até mesmo no formato do salto!´

Não preciso nem dizer que as gargalhadas não foram poucas! Algumas professoras, que estavam ainda na sala de professores, vieram ver o motivo das gargalhadas, e uniram-se a nós. Cheguei ficar cansada, de tanto rir! Ri, literalmente, até às lágrimas!

Apesar de ter achado muita graça, fiquei sentadinha em meu canto - com meus pés protegidos sob a escrivaninha, para evitar maiores risadas e , claro, para não "pagar mico" perante os pais e alunos.



Só eu, mesma...

Klara

sábado, 19 de novembro de 2011

Arraias no ar - Por do sol do dia 18.11.2011 visto das praias do Rio Vermelho





Os empinadores de arraias do Rio Vermelho
Foi na manhã de hoje , dia da Proclamação da República e também um dia da já tradicional reunião dos sábados, domingos e feriados , que eu e mais três velhos amigos estávamos conversando abobrinhas, eles degustando uma cervejinha gelada e eu o meu uisque , e algum tira-gosto , quando entrou na conversa o tema arraias...
Foi aí que retrocedemos no tempo e voltamos aos anos de 1940 para relembrar as nossas peripécias de empinadores de arraias.Quando não tínhamos que ir ao colégio, gastávamos a manhã pescando , tomando banhos de mar, jogando bolinhas de gude , peão e outras atividades próprias da idade.
Às tardes , Capim das Freiras , para empinar arraias. Para quem não sabe onde era ou é o capim das freiras, é aquele espaço da Paciência que fica bem em frente à Pedra dos Pássaros , até onde íamos, quando o mar permitia e a coragem deixava...Algumas vezes arrisquei ir até ela com o mar muito calmo, mas era algo fatigante , mesmo para quem tinha a energia daquela idade... Nós gastamos num só dia, toda energia acumulada durante uma noite de bom sono e para isso íamos dormir cedo...
Bem, mas vamos voltar às nossas arraias. Aqui na Bahia as arraias têm um formato retangular e apenas raras vezes, mas raríssimas mesmo, se via ou se vê uma pipa como usam em S.Paulo e outros estados , que chamamos de bacalháu .
As Arraias eram feitas de papel de seda , cruzadas por taliscas de uma vara que nós chamávamos de flexa , usadas também para pescar , muito comum no estado, época mas transformou-se em raridade. As taliscas eram coladas no papel formando um “X” , sendo que uma de cada lado, o que lhe dava solidez. Então era preciso fazer a chave, algo que chamarei de cabresto , para amarrar a linha, algo determinante para ter o seu controle total no ar , normalmente de um carretel ou mesmo dois para que pudesse para ir mais longe, das marcas Coração n. 30 ou mesmo Corrente 20 , um pouco mais grossa ou, ainda, um simples novelo 20, porém com pouca linha... Para manter o equilíbrio no ar, era preciso preparar uma rabada, que alguns meninos faziam com estreitas tiras de tecido leve , no comprimento de cerca de 3 à 3,5 metros. No entanto, quem se esmerava , os campeões, preparavam rabadas de algodão, pequenos flocos ou bolinhas amarrados , um por um , num pedaço de linha com uns 4 ou cinco metros partindo do maior para o menor até terminar apena num simples pedaço de linha. Aí estava o segredo dos empinadores. Fazer a chave e uma bela rabada . Era fácil identificar uma arraia. Claro que todos nós preparávamos as nossas arraias em modelos diversos e misturando cores que combinassem . Claro também que havia os iniciantes e os empinadores de “ periquitos” , meninos pobres que recolhiam pedaços de linha aqui e ali...Os periquitos eram, simplesmente , feitos de papel de jornal ou folhas de caderno , convenientemente dobradas para acolher o vento e tinham uma rabada de cordão de padaria.... Só serviam mesmo para atrapalhar os maiores, mas eles também tinham direito a se divertir e não poucas vezes, um simples periquito cortava uma arraia no ar ! Havia a arraia “ Pão de açúcar” , podia der um “X” que se destacava no ar, um xadrez . Podia ser mesmo apenas vermelha, azul ou verde mas, e até mesmo com papel de jornal montadas com taliscas de palmas de coqueiro...
Quem gostava do esporte , que era emocionantes , se dedicava a fazer coisas mais sofisticadas que eram a sua marca. Um outro local em que empinávamos arraias, era no Farol de Barra, outro pedaço apropriado, com ventos fortes.
Eu e minha turma sempre estivemos nessa . O céu azul de Salvador estava sempre enfeitado de arraias multicoloridas, que se movimentavam graciosamente de um lado para o ouro, algumas mais altas, outras mais baixas. Algumas iam longe, outras nem tanto e algumas quase não saíam do chão por falta de fio... Divertido , emocionante e, por isso mesmo , “ viciante “ ! E, claro, havia também a ansiedade , a bagunça, a torcida e a algazarra ...no momento de uma pegada ;Quem foi empinador de arraia sabe o que estou dizendo “ . Tinha gente que só tinha cabeça para pensar em arraias . E a regra era muito simples , que prevalece até hoje : “ arraia no ar, não tem dono “...
Bem , voltando ao nosso capim das freiras , e se não me falha a Memória , bem ali, existia , de frente para a rua da Paciência, um bloco de granito trabalhado com , encrustado , um medalhão de autoria do escultor italiano , Pasquale De Chirico, morador pioneiro no Rio Vermelho a partir dos anos 30 . O bloco e o medalhão sumiram por ocasião do alargamento da rua da Paciência com a derrubada das casas que ficavam com os fundos para o mar. Ainda hoje se encontram alguns vestígios de alvenarias... Escusado dizer que, apesar das diligências realizadas pela prefeitura, nunca mais encontraram o medalhão de Euricles de Matos e homenageado desapareceu da paisagem... Que coisa, hein ?
Nós tínhamos as feras , que se debatiam no ar, e o objetivo era cortar, as arraias dos outros. Havia verdadeiros campeões. Cortar, como ? Ah, sim...O outro segredo, além da habilidade , estratégia de empinador, era , pelo menos nós pensávamos assim, o tempero , que algumas pessoas chamam de “ cerol”, continua sendo uma mistura de vidro moído e cola passada na linha que, depois de seca, se transformava numa verdadeira navalha ! Podia ser feito com goma de mandioca cozida mas rala , porém o bom mesmo e recomendado era diluir aquela cola de peixe antiga e fedorenta colocando-a na água por uns dias . Podia-se também usar goma arábica , comprada em papelarias... Havia diversas maneiras de temperar o fio ou a linha. A maioria preferia fazer isso na hora de empinar, medida que o vento levava a arraia , e se dava linha... Secava rapidamente e depois começava a disputa no ar . Quando uma arraia era cortada, a meninada corria atrás para recuperá-la , mas ia cair muito longe levada pelo vento , sobre uma árvore mesmo um coqueiro ou fiação elétrica ... Quando recuperavam uma, a briga era tão grande que destruíam a arraia que tanto os fizera correr...Jaime era um rapaz magro e alto, Tinha um irmão de nome Hamilton , um dos campões do pedaço. O vidro tinha que ser moído e depois passado por uma meia feminina para se aproveiitar apenas aquele pozinho para a mistura com a cola. Pois bem. Hoje me lembraram da molqueira do Nadin. O Jaime pediu-lhe para moer um vidro, ele prontamente aceitou e quando o entregou o Jaime achou uma maravilha aquele pozinho muito bem moído parecendo pó de arroz. Preparou tudo, empinou as suas arraias e foi perdendo uma por uma sem cortas as de ninguém. Foi aí que um amigo da onça chegou no ouvido e Jaime e soprou : o Nadin não moeu vidro, e sim mármore...foi uma correria dos diabos , mas depois o Jaime terminou por achar graça na peça que o Nadim que , mais tarde , viria a ser meu compadre, lhe pregou !

Sarnelli, 15.11.2011

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